Válter Silvestre e Filipe Santos, atletas do Clube de Pesca Desportiva de Mértola “Os Amigos do Guadiana”, conquistaram o título de campeões nacionais de pesca ao achigã embarcado, qualificando-se para o campeonato do mundo, que se disputará, em novembro próximo, nos Estados Unidos, competição onde estarão também os vice-campeões nacionais, Rui Matos e Mauro Silva, atletas da Associação de Moradores do Bairro dos Bombeiros de Castro Verde.
Texto e foto Firmino Paixão
Seis provas, duas disputadas na barragem de Santa Clara, de onde saíram em quarto lugar, duas na barragem de Alqueva, já no topo da classificação, e o fecho, na barragem do Cabril (Pedrógão Grande), onde confirmaram o título nacional, com o pleno dos exemplares capturados (30) e o peso de 28,349 quilos de pescado.
Se para Válter Silvestre os títulos nacionais não são novidade, porque os tinha já conquistado na variante de pesca da margem, para Filipe Santos foi uma conquista inédita. E a qualificação para o campeonato do mundo ainda será mais desafiante para estes dois pescadores, filiados na Associação Regional do Baixo Alentejo de Pesca Desportiva.
Válter Silvestre nasceu em Mértola, há 36 anos, muito cedo foi residir para Loulé e, aos 14, regressou à terra natal. “Comecei a pescar em 2008, logo achigãs, comecei a gostar, depois fiz alguns bons resultados em provas, ganhando uns troféus, fui melhorando e a paixão intensificou-se”.
É isso, Válter. Quando se apanha um peixe o “bichinho” fica dentro de nós… Nada disso, corrige, evidenciando as suas preocupações ambientais: “O bichinho tem de voltar para a água. Temos de preservar as espécies, capturam-se, devolvem-se à água e, se alguma vez os voltarem a apanhar, já estarão maiores”.
Tanto Válter como Filipe representam um dos maiores, se não o maior clube nacional em termos de formação na área da pesca desportiva. “Os Amigos do Guadiana” já, várias vezes, foram galardoados com a distinção de Clube do Ano. Válter Silvestre reconhece: “Estes títulos são bons exemplos que damos aos nossos pescadores mais jovens. É bom que eles percebam que vale a pena dedicarem-se à pesca desportiva, porque com trabalho e dedicação é que se conquistam os títulos”.
O pescador de Mértola não abandonou a variante da pesca de margem, também concorreu neste ano, até para incentivar os companheiros de equipa e não os deixar desistir, mas a classificação no final da época foi um pouco mais modesta.
Pudera, o foco estava em cima da embarcação… Questionado sobre qual a variante pela qual se sente mais atraído, comenta: “A pesca ao achigã embarcado é diferente, existe maior competitividade, existe um leque de concorrentes com mais qualidade e com bastante valor, pesca-se em equipa, é tudo diferente. O investimento também é maior, enquanto para pescar na margem necessitamos de uma cana ou duas, no barco já temos que levar seis, oito, ou mesmo 10 canas”.
A disponibilidade para os treinos será diferente e o dispêndio de recursos financeiros também. Para o último campeonato, a dupla nem treinou em Santa Clara, um plano de água que conhecem bem, fizeram dois treinos em Alqueva e permaneceram quatro dias nas proximidades do Cabril.
À “provocação” sobre qual dos dois será o melhor pescador, Válter não tem dúvidas: “Somos iguais, temos o mesmo valor e valemos pelo conjunto”. Uma resposta em sintonia com a opinião de Filipe Santos, que diz: “Em cima do nosso barco, neste caso do meu barco, mas eu digo nosso, porque somos uma equipa, não temos qualquer rivalidade, temos de trabalhar para um objetivo comum. Nem me importo que seja o Válter a capturar todos os exemplares, desde que os resultados apareçam”.
Filipe Santos nasceu em Aldeia dos Fernandes, no concelho de Almodôvar. Tem 32 anos e revela: “Iniciei-me na pesca desportiva muito cedo, porque o meu pai sempre foi pescador e foi ele que me incentivou para este tipo de desporto. Na altura, não se preservava tanto, porque a nossa mentalidade ainda não era essa, mas, entretanto, fui evoluindo, entrei na competição, mudei completamente a mentalidade e a minha postura, agora tento fazer tudo para preservar esta espécie e as outras que puder, claro”.
Comportamentos que agradam ao pescador fernandense: “Estou bastante satisfeito porque já se nota ligeiramente a preservação dos achigãs desde que se começou com este tipo atuação de pescar e libertar. Acho que se têm conseguido bons resultados”.
No final do ano, a dupla rumará aos Estados Unidos, para disputar o campeonato do mundo: “Vamos dar o nosso melhor e preparados para ganhar, se nos deixarem e se tivermos alguma felicidade”, promete Válter Silvestre.