Diário do Alentejo

Jorginho: Capitão

06 de fevereiro 2020 - 10:40

“Sou um jogador que gosta de marcar golos e de fazer assistências e, sobretudo, divertir-me dentro do campo, fazendo o que gosto e mantendo uma união e uma amizade muito forte com toda a gente. Gosto particularmente do número 10. Quando cheguei a Castro Verde estava ocupado, mas passados seis meses ficou livre e foi-me concedido. A braçadeira é uma herança que recebi de Vítor Rolim, que também esteve muitos anos no clube. Agora sou eu o capitão, creio que pela antiguidade e por me reconhecerem capacidade para ser o líder desta equipa”.

 

Texto e foto Firmino Paixão

 

Quando, no próximo domingo, entrar no retângulo de jogo do Estádio Municipal 25 de Abril, em Castro Verde, para defrontar o vizinho Almodôvar, Jorge Filipe Raposo Carochinho cumprirá o jogo número 245 com o emblema do Futebol Clube Castrense ao peito. Mais, se marcar um golo, o que é altamente provável, será o centésimo da sua carreira naquele histórico clube da região do “Campo Branco”.

 

Jorginho, como é conhecido no mundo do futebol, nasceu em Albernoa, no concelho de Beja, há 33 anos, e ainda ali reside com a família. Sabe de cor todos os passos da sua carreira. “Comecei a dar os primeiros toques numa bola no Bairro da Conceição. O senhor Mareco, na época dirigente desse clube, de vez em quando levava miúdos lá do bairro à minha aldeia para jogarem futebol e, no meio dessas brincadeiras, surgiu o convite para eu ir jogar para a equipa do Bairro da Conceição. Por isso, considero que fui descoberto pelo senhor Mareco”. E recorda o seu primeiro jogo oficial: “Foi em Almodôvar, naquele antigo ‘quintalinho’. Ganhámos por 5-2 e eu marquei dois golos”.

 

Esteve três anos no Bairro até surgir a hipótese de se transferir para o Desportivo de Beja. “Aceitei de pronto. Na altura era o clube grande da cidade. Estive lá quatro anos, uma época de infantil, duas nos iniciados e uma de juvenil. Mais tarde surgiu um protocolo entre o Desportivo e o Despertar e eu voltei ao Bairro da Conceição”.

 

Reencontrou os velhos amigos. Cita Fábio Pardal, Miguel Ângelo, Rui Sousa, ao lado dos quais foi campeão distrital de juniores, ainda que fosse juvenil. Desse tempo, recorda que “o clube abdicou da sua participação no nacional por não ter recursos para isso, algo que, infelizmente, ainda acontece no nosso distrito, porque os clubes não têm grandes condições”. Em paralelo com a atividade desportiva cumpria o seu percurso académico, tendo feito apenas a escolaridade obrigatória por falta de motivação para continuar.

 

Com 16 anos jogou uma época no Campeonato do Inatel, representando o Albernoense, após o que voltou ao Desportivo de Beja: “O mister ‘Cajó’, que me conhecia bem, convidou-me para regressar a Beja. Aceitei e disputei o nacional dessa categoria e, no final, ainda joguei algumas partidas na equipa principal, que estava na terceira divisão, com o míster Chico Fernandes”.

 

Aljustrel e Reguengos de Monsaraz foram outros portos onde desembarcou, até chegar a Castro Verde. “Estou aqui há oito épocas e meia, curiosamente, é a idade do meu filho. Ele tinha 25 dias quando cheguei ao Castrense. Tem sido um percurso interessante. Infelizmente, nesta região há sempre o sobe e desce entre os regionais e os nacionais, mas o Castrense é um clube grande neste distrito. Obviamente que estou aqui muito bem, sinto-me feliz e acredito que iriei acabar a minha carreira neste clube, mas não será para já, porque ainda me sinto capaz”.

 

A caminho da nona época no clube, com três títulos distritais conquistados, uma taça do distrito e três supertaças, justifica assim esta longa permanência: “Dedico-me muito às pessoas. Em todos os clubes por onde passei fui bem tratado, gostei das pessoas, as pessoas gostaram de mim em todo o lado. Em Castro Verde fui acarinhado de uma forma espetacular, criou-se uma grande empatia e, por outro lado, comecei também a trabalhar profissionalmente, como administrativo, na secretaria do clube, há já seis anos, o que me aproxima ainda mais das pessoas, que sinto como se fossem família”.

 

Convites não têm faltado ao “maestro” da formação de Castro Verde. Contudo, diz, “as pessoas sabem que não é fácil, porque tenho esta ligação profissional ao Castrense”.

 

Por outro lado, a idade do sonho está perto de perder a validade. “Em termos desportivos, a idade que tenho já não me permite sonhar muito alto, quero apenas divertir-me a fazer o que gosto, mas estou muito feliz por tudo o que tenho feito no futebol”.

 

Jogando muitas vezes entre a 1.ª divisão distrital e a antiga terceira divisão nacional, onde não tem sido fácil manter o Castrense, Jorginho não desiste: “Espero ainda voltar aos nacionais com o Castrense, apesar desta nova aposta da direção, mas acredito que, mais cedo ou mais tarde, voltaremos lá, ao agora Campeonato de Portugal”.

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