Diário do Alentejo

Hugo Estanque: Andebol

09 de janeiro 2020 - 14:10

“Na infância tive vivências muito interessantes. Cresci a brincar na rua e essa atividade ia desde o futebol ao atletismo, porque nós andávamos sempre a correr de um lado para o outro, a jogar, a arremessar pedras e, se calhar, isso já teria alguma coisa a ver com o andebol. São vivências que criávamos e que, para quem gostava já de desporto como eu, acabaram de uma forma muito natural por influenciar o meu percurso”.

Texto e Foto Firmino Paixão

Capitão da equipa de andebol de seniores masculinos, treinador de equipas de formação e professor nas escolas de natação da Associação Cultural e Recreativa Zona Azul, de Beja, clube por cujas portas entrou depois de experiências no futebol do CCD Bairro da Conceição e no atletismo da Juventude Desportiva das Neves, Hugo Estanque é uma verdadeira referência do clube do Bairro das Alcaçarias.

Nasceu em Beja há 33 anos, oriundo do bairro da Conceição, e teve uma infância intensamente ligada ao desporto. “Fui um miúdo muito ativo e muito direcionado para a atividade física. Cresci num bairro onde existiam 20 ou 30 crianças, moços de rua, habituados a brincar e a jogar futebol ao ar livre, nos espaços públicos”.

Com cinco anos começou a jogar futebol. “Eram miúdos do bairro da Conceição e do bairro da Esperança e miúdos de Albernoa, que o senhor Mareco ia buscar. Tínhamos um grupinho muito engraçado”, assegura, lamentando que o clube tenha, em determinada altura, abandonado o projeto de formação, mantendo, apenas “uma equipa feminina, que até tinha boas jogadoras e resultados muito interessantes”.

O grupo de miúdos dividiu-se por outros clubes, mas Hugo Estanque decidiu não continuar. “Nesse ano experimentei o atletismo na JuveNeves, com o professor Silveira, que também residia no bairro da Conceição, mas não foi coisa que me cativasse muito, normalmente, ficava em último”, confessa, sem amargura. Nessa época, já o irmão mais novo de Hugo jogava andebol na Zona Azul, um elo aproveitado por José Bexiga Fialho para o cativar a subir até ao número 17 da rua Frei Manuel do Cenáculo.

“Experimentei o andebol e lá fiquei até aos dias de hoje. No Desporto Escolar fiz ginástica, joguei voleibol, sempre tive uma apetência quase natural para o desporto”. Consequência disso, no plano académico, optou, também, pela área da Educação Física: “Estudei na Escola de Santa Maria, transitei para o Liceu e depois, na Escola Superior de Educação de Beja, tirei o curso de Desporto. Sempre quis ser professor de Educação Física, lembro-me que sempre tive isso bem claro, sem dúvidas nenhumas, nem sequer existiu uma segunda escolha”.

Terminada a licenciatura, surgiu a oportunidade de trabalhar na Zona Azul, onde sempre jogou andebol. Ali iniciou o seu percurso profissional, através da área da natação. Com 17 anos, ininterruptos, de prática desportiva, na equipa sénior da Zona Azul, Hugo Estanque vacila um pouco quando questionado sobre qual a sua maior paixão: o andebol ou a Zona Azul?

“Não é fácil responder a essa questão. Gosto muito da modalidade, mas foi a Zona Azul quem me permitiu jogar andebol, então, acho que será uma paixão repartida, sendo que a Zona Azul terá um peso diferente, porque foi o clube que me permitiu estabilizar e conhecer os meus melhores amigos, o clube que me formou, enquanto pessoa, e me transmitiu os maiores valores. Se há coisa que a Zona Azul tem de bom são esses valores, o espírito de família, o que faz com que as pessoas do clube o sintam de uma forma muito própria”.

O clima manteve-se acima dos valores normais para a época, quando quisemos saber se Hugo Estanque se considera uma referência no clube. “Mentiria se dissesse que não, obviamente, que com todo este percurso, com 33 anos, 17 dos quais passados a jogar andebol nos seniores do clube, num período ao longo do qual fui adquirindo experiência, ganhando conhecimentos e, com a postura que tenho mantido, mentiria se dissesse que não me sinto uma referência”.

Por outro lado, com o atual rejuvenescimento da equipa, três quartos do plantel são compostos por miúdos que foram treinados por si e que tiveram um percurso competitivo muito interessante e de constante valorização. “Eles sentem isso e, se calhar, olham para mim como uma referência. Aceito isso com naturalidade e até me sinto bem nesse papel de motivador”, revela Hugo Estanque, atleta que, pontualmente, tem sido contactado por outros emblemas. “Se a minha paixão maior fosse apenas o andebol eu já teria saído facilmente, mas existe este vínculo que é difícil de quebrar. Teria de ser mesmo algo irrecusável”, garante.

Realizado e feliz com tudo o que tem sido a sua vida desportiva, considera: “Sou um sortudo, porque trabalho naquilo que gosto, e adoro tudo o que faço”. O final da carreira desportiva, confessa, “é algo que vai ficando mais próximo”. “Antes, quando chegava ao final de uma época, desejávamos que começasse logo a próxima, agora já precisamos ali de uma semaninha para decidir se continuamos. Mas ainda me sinto capaz de ajudar, sinto prazer a jogar e enquanto conjugar essas duas coisas, continuarei”. Quando chegar esse dia, garante Hugo Estanque, “mais do que deixar a Zona Azul na segunda ou na terceira divisão, gostaria de deixar o clube com uma estrutura de continuidade, sabendo que os mais velhos, não apenas eu, deixarão de jogar, mas que as bases estarão criadas, para poder existir essa continuidade. É essencial que o clube mantenha esta imagem, esta marca de prestígio que tem no seu historial”.

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