Diário do Alentejo

Helena Dias: Patinagem

29 de outubro 2019 - 15:30

“Um vereador com o pelouro de desporto no município de Serpa, adepto do Sporting, foi ter comigo ao pavilhão de Alvalade. Eu estava a dar treinos e ele perguntou-me muito simplesmente: ‘Olhe, a senhora não gostaria de ir dar treinos de patinagem artística para Serpa?’. Fiquei a olhar, assim um bocadinho abismada. Não estava nada à espera. Fiquei a pensar um bocadinho, mas considerei que seria mais um desafio e decidi. Vamos nisso. Aceitei o desafio! Estávamos em 1985”.

 

Texto e foto Firmino Paixão

 

 

Foi desta maneira que Helena Dias, a conceituada professora de patinagem artística, viajou para o Alentejo. Primeiro para a cidade de Serpa, onde formou campeões nacionais e patinadores de craveira internacional, agora no Clube de Patinagem de Beja.

 

Nasceu em Lisboa, na zona de Benfica, em 1954. Está, neste momento, com 65 anos, alicerçados numa iniciação desportiva bastante rica e diversificada. “Comecei a fazer ginástica com três anos, patinagem aos cinco, comecei no atletismo aos nove, natação com 12 e ballet com 13 anos”. Modalidades que, aparentemente, nada teriam a ver umas com as outras. Não é verdade. Complementam-se e enriquecem- se mutuamente, como adiante se verá. Helena Dias confessa: “Em termos desportivos, tenho de agradecer isso aos meus pais, porque nem toda a gente teve a mesma felicidade. Depois, fiz o meu percurso escolar normal. Tirei o curso de professora do 1.º ciclo do ensino básico, fiz uma licenciatura em Desporto e tenho feito mais formações, por aí adiante. Uns cursos de línguas e assim, umas coisas que tenho achado interessantes”.

 

Calçou os primeiros patins aos cinco anos, no Sport Lisboa e Benfica, frequentava então o ginásio. “Passava por ali e via os meninos, do outro lado do ringue, às voltinhas. Tantas vezes incomodei o meu pai que ele acabou por dizer ‘pronto, vamos lá experimentar’”. A patinagem prevaleceu, e nem é difícil explicar porquê: “A patinagem mexia com várias coisas, e, principalmente, porque tinha mais a ver com as minhas características. Dava-me oportunidade de patinar com música e eu gosto muito de música. Dava-me oportunidade de ter uma modalidade individual e eu, nessas coisas, sou muito seletiva, não gosto de fazer as coisas em grupo, não gosto de perder nem a feijões, e quando calhava perder por causa de alguém ficava muito irritada”.

 

Afinal, com tantas performances, a patinagem artística será uma arte, será um desporto? “É a mistura de tudo o que eu fazia, com exceção da natação, obviamente. Comecei por fazer ginástica, porque é o desenvolvimento inicial de qualquer pessoa, ou de qualquer criança, em termos motores. Daí segui para a patinagem artística, sempre com a ginástica a ajudar, porque a patinagem sem ginástica é impossível. Qualquer atleta tem de ter uma boa preparação física, o bailado para ajudar toda a parte do movimento, o atletismo veio também por causa da patinagem. Fiz barreiras, por causa da elevação dos saltos, fiz velocidade, pela necessidade de patinar depressa, e fiz, digamos, um pouco adaptado, o fundo, exatamente para ter resistência”. Um patinador como deve ser, costuma a treinadora dizer, tem de possuir 10 por cento de talento e 90 por cento de trabalho.

 

Entretanto, na sua autoavaliação, confessa: “Para o meu tempo fui uma patinadora razoável. O meu desempenho não se traduziu na conquista de muitos títulos porque, naquela altura, a Federação de Patinagem de Portugal não organizava campeonatos nacionais. Mas tudo o que eram testes e exames, isso sim, a federação promovia e eu fi-los todos, até ao nível mais avançado e, depois disso, ainda participei num campeonato mundial”.

 

Helena Dias teve como ídolos os seus padrinhos de patinagem, uma patinadora do Benfica, Dina Maria, e um também patinador que, mais tarde, acabou por ser seu par, o já falecido Carlos Carvalho. Representou o Benf ica em todas a modalidades que praticou, exceto no bailado, esse foi na Companhia Nacional de São Carlos, e foi também no clube encarnado que se estreou como treinadora, primeiro no escalão de iniciação, mais adiante, à frente de toda a escola de patinagem. “Fiquei até aos 23 anos e já saí de lá com uma série de campeões nacionais em título, saí com pena”. O curioso é que saiu para o rival Sporting. “Costuma dizer-se que às pessoas de casa só damos valor quando já não há nada a fazer. Os diretores do Benfica pensaram que, por ser da casa, ficaria ali para sempre, mas eu precisava de mais condições de treino e não as tinha. O Sporting ofereceu-me o dobro dessas condições, por isso, mudei para o Sporting Clube de Portugal”. Saiu a treinadora e, progressivamente, os atletas, continuando a ganhar títulos sobre títulos no outro lado da segunda circular. Um período em que colaborou também com o Futebol Clube do Porto, com o Infante de Sagres, com o Rio Maior e com um clube tutelado pela Segurança Social do Porto.

 

Em meados da década de Oitenta sopraram ventos de mudança, veio para o Alentejo e instalou-se em Serpa. Primeiro no Conselho Desportivo Municipal de Serpa, depois numa secção do Futebol Clube de Serpa e só mais tarde, em 1999, surgiu o Sport Clube de Serpa. Ali formou inúmeros campeões. Mais recentemente aceitou novo desafio. Treinar no Clube de Patinagem de Beja. “É mais uma etapa na minha carreira. Tento sempre formar campeões.

 

O foco, onde quer que esteja, é sempre para chegar mais longe. Mas aqui as condições são inferiores às que existiam em Serpa, é difícil conseguir horas de pavilhão para treinar. Quando fui viver para Serpa, em 1999, estavam a construir um pavilhão, usufruía dele 24 horas por dia, era muito diferente desta situação em Beja”, lamenta Helena Dias, técnica de desporto no município de Serpa que adora ministra aulas de hidroginástica. Ensinou patinagem nos três grandes clubes nacionais. É notável.

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