Diário do Alentejo

José Maria Urbano: Piloto

27 de setembro 2019 - 09:40

“Comecei a andar de moto aos sete anos, mas sofri uma fratura no pé esquerdo e a mãe, com a proteção natural, desviou-me desse caminho. Quando fiz 17 anos, voltámos a conversar sobre o assunto. A minha maturidade já era diferente e, então, obtive consentimento e voltei a comprar uma moto. Comecei por uns passeios, numas coisas assim mais leves, mas o meu objetivo, a minha ambição, sempre foi chegar à competição em todo-o-terreno, onde espero, um dia, ser campeão nacional e levar o nome de Beja para o lugar mais alto do pódio”.

 

Texto e foto Firmino Paixão

 A estreia, no seu território e perante o seu público, familiares e amigos, quase acontecia na Baja TT Vindimas do Alentejo, prova que esteve marcada para os primeiros dias de setembro, no Baixo Alentejo e cancelada por causa da meteorologia. “Seria uma forte motivação para mim”, confessou José Maria Urbano, 19 anos, piloto de motociclismo em todo-o-terreno.

Quis o acaso, ou opções familiares, que o jovem nascesse em Lisboa. No entanto, sempre viveu em Beja e atesta: “Considero-me bejense, esta é a minha cidade, sou um alentejano”.

José Maria, um benfiquista convicto, jogou futebol numa equipa da Casa do Benfica de Beja, mas contou: “A modalidade nunca me despertou grande motivação, nem encontrei razões para prosseguir no futebol”. O motociclismo, sim, teve a influência de um cunhado e, aos 17 anos, começou a vivê-lo mais intensamente e de uma forma tão séria que sonha conquistar o título nacional em todo-o-terreno.

A par do motociclismo, o jovem bejense não tardará a “acelerar” para uma licenciatura porque, como referiu, “completei já o 12.º ano e candidatei-me ao ensino superior. Consegui entrar para o Instituto Politécnico de Beja, vou tirar Gestão de Empresas, julgo que dá para conciliar com a atividade do motociclismo, nunca deixando os estudos de lado, porque isso, sim, é algo muito mais importante”. Claro, José Maria sabe que “a carreira das motos pode prolongar-se, se calhar, até aos 35 anos, dependendo sempre da ocorrência, ou não, de lesões, e temos que ter sempre outra atividade, um suporte para podermos assegurar o futuro”.

O seu dia a dia é passado a meia dúzia de quilómetros de Beja, em pleno contacto com a natureza. Não admira, por isso, essa paixão pelo todo-o-terreno: “Tenho excelentes condições para a modalidade, tenho o campo à porta de casa e treino para o campeonato nacional de todo-o-terreno em estradas abertas e rápidas, esse é um campeonato com provas rápidas e de resistência física. Possuo aqui todas as condições, nomeadamente, uma pista para treinar a parte mais técnica da modalidade”.

Uma carreira ainda curta, como reconhece o piloto, mas que floresce, fertilizada por uma forte ambição: “Como piloto avalio-me, ainda, como um simples amador. Não tenho muitas horas de moto, a prática faz-se com a acumulação de horas de pilotagem, carece de tempo em cima da moto. Mas treino em ginásio, isso é fundamental porque, se calhar, 70 por cento do resultado deriva do trabalho em ginásio e depois, sim, a moto estar sempre bem preparada e precaver a existência de eventuais falhas. Elas existem sempre, mas é preciso minimizá-las”.

Consciente do risco associado à adrenalina que se vive num desporto desta natureza, não o desvaloriza e sente mesmo que “cada dia que me sento em cima da moto, sinto que estou a evoluir, estou num tempo de descobertas, cada dia gosto mais de andar, sinto-me mais solto, mais confiante, e isso é algo que se ganha com a experiência”.

Outro fator determinante a que está ancorada a sua ambição é o apoio da família: “É muito importante, e dos amigos também, sem eles seria impossível fazer o que tenho feito. Mesmo na área emocional, temos dias em que estamos mais em baixo e a família dá-nos sempre o apoio necessário para que nos motivemos, para que superemos eventuais obstáculos e sigamos em frente”.

Os desafios que, sobre rodas, já enfrentou, estão frescos na sua memória: “No ano passado, fiz o Troféu Yamaha completo. Também fiz três provas do Troféu X-Trophy, que é um campeonato de resistência em todo-o-terreno. São provas de duas horas, apenas com paragens para reabastecimento. Este ano, queria fazer a estreia em Beja, na Taça de Portugal de Motos (inserida na Baja), mas a prova foi adiada, com muita pena minha. Esperamos a marcação de uma nova data, porque também tenho compromissos com os patrocinadores, para lhes devolver o máximo de retorno”.

O foco está agora na próxima época desportiva, treino e dedicação estão sempre na ordem do dia, porque José Maria Urbano diz querer montar um projeto que lhe permita disputar o próximo campeonato nacional de todo-o-terreno: “Vamos falar com os patrocinadores, angariar novos apoios, enfim, esta é uma modalidade algo dispendiosa e sem patrocínios não será possível, mas reconheço que tenho potencial e que as pessoas acreditarão em mim e me ajudarão”. Sonhos? Quem os não tem?

“Competir por uma equipa de marca é um sonho”, confessou o piloto bejense: “Acho que será possível, com muito trabalho e dedicação. Neste momento, e até à Baja de Beja, corri sempre individualmente, na Baja iria representar o Team Bianchi Prata. Seria uma novidade e uma grande ajuda, derivada do conhecimento que eles têm. Mas vamos tentar que esta parceria se mantenha nas bajas”.

Na lista de pilotos que mais o inspiram, José Maria Urbano elege António Cairoli, o italiano nove vezes campeão do mundo de motocrosse: “Gosto muito, apesar de a minha especialidade ser o todo-o-terreno. Em Portugal também temos grandes nomes, o António Maio, cinco vezes campeão nacional, este ano fez o Dakar. Na minha idade, o Martim Ventura é um piloto muito rápido e consistente que também admiro”, concluiu.

Lá chegará o tempo em que será ele o ídolo de gerações vindouras.

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