Diário do Alentejo

Daniel Medeiro: treinador

18 de julho 2019 - 14:40

Texto e foto Firmino Paixão

O treinador Daniel Medeiro, nascido e criado na cidade de Beja, tem hoje 29 anos e parece ter encontrado o seu “lugar ao sol”. Um espaço em consonância com o que sempre foi o seu sonho: formar jovens atletas numa academia do seu clube de eleição, o Sporting Clube de Portugal. Daniel fez a primeira parte do seu percurso académico na cidade natal e, aos 19 anos, rumou à Faculdade de Motricidade Humana, onde se licenciou em Ciências do Desporto, com uma predominância sobre futebol.

Uma opção óbvia, como o próprio explica: “Vem de família, o meu pai [José António Piriquito] jogou futebol, foi treinador, é professor na área de educação física, por isso, tudo indicava que essa seria também a minha escolha. A atividade desportiva sempre despertou a minha atenção, fui jogador de futebol, pratiquei patinagem de velocidade, estive sempre ligado ao desporto, embora tivesse optado, especificamente, pela área do futebol. Foi a modalidade onde passei mais tempo e é por aí que pretendo continuar a minha carreira”.

Daniel Medeiro recordou também o seu percurso de futebolista onde, curiosamente, chegou a ser treinado pelo próprio pai. “Comecei a jogar futebol no Despertar Sporting Clube, mais tarde mudei-me para o Clube Desportivo de Beja. Fiz toda a minha formação nestes dois clubes, mas quando ingressei na faculdade deixei de jogar ao nível federado e passei a jogar nos campeonatos do Inatel, em Quintos, treinado pelo meu pai, que também dirige o Centro de Cultura Recreio e Desporto da Casa do Povo de Quintos. Nos últimos dois anos, depois de regressar a Beja, ainda fiz mais duas épocas no Bairro da Conceição, um clube onde eu iria continuar caso não tivesse surgido esta oportunidade que me foi proporcionada pelo Sporting Clube de Portugal para abraçar este projeto de formação e poder desenvolver mais as minhas competências, além de que é, sempre foi, o clube do meu coração”.

“Comecei a fazer o trabalho de observação e recrutamento para o Sporting quando ainda estava em Beja. Foi aqui, e nessa altura, que eu procurei oportunidades num patamar mais elevado. Foi por esse caminho, fruto da minha determinação, que consegui abraçar este projeto, que é algo inovador no Sporting, mas que é muito importante para a sustentabilidade do clube, no futuro. Deram-me a hipótese de ir para a Academia de Formação Sporting Algarve e eu nem pensei duas vezes”.

Terminada a licenciatura, Daniel Medeiro estagiou no Casa Pia, antes de regressar a Beja, onde se ocupou a lecionar AEC – Atividades Extra Curriculares, mas o estágio que efetuou junto dos casapianos já era premonitório de um salto mais qualificado, assume o jovem: “O sonho esteve sempre lá. Se seria capaz de o alcançar? Nós nunca conseguimos prever aquilo que nos vai acontecer. Podemos sonhar, e enquanto isso for possível alimentamos essa esperança mas, seguramente, que forças não me irão faltar para tentar que os meus sonhos sejam cumpridos e que sejam bem-sucedidos”.

Por ora, trabalha no clube de que se confessa adepto e esperança no futuro é sentimento que não lhe falta: “Penso que lá irei continuar, é um projeto de que gosto muito, porque engloba também o recrutamento e observação de jogadores. Ir à procura dos melhores, trazê-los para a academia e trabalhar com eles. Isso dá-me muito gozo e quanto mais pequenos, mais gratificante e compensatório, porque conseguimos ver a sua evolução ao fim de uns anos. Muitos deles serão, um dia, bons profissionais de futebol”.

Daniel Medeiro tem no seu lote de formandos três miúdos alentejanos como ele, Bernardo, André e Tomás, jovens naturais de Santa Margarida do Sado, de Boavista de Pinheiros e de Colos, e, se outras razões não existissem para se sentir feliz, a presença dos conterrâneos seria um forte estímulo: “Estou muito feliz. É gratificante trabalhar com estes miúdos, todos eles têm muito talento, para mim são todos iguais, todos têm muita qualidade, caso contrário, não estavam connosco, porque os jogadores são todos escolhidos de acordo com o potencial que revelam. Alguns com muito potencial e baixo rendimento no presente, mas alto rendimento no futuro, outros não estão ainda muito desenvolvidos mas, no futuro, certamente que estarão muito melhor”.

Foi com este lote de benjamins que a Academia de Formação Sporting Algarve venceu, recentemente, a Beja Cup 2019, no escalão de sub/10, uma vitória que Daniel Medeiro confessou que “teve um sabor especial”, porque “estava perto da minha família, dos meus amigos, estava na minha cidade”. E reforça: “No presente ano já ganhámos muitos torneios mas, ao nível pessoal, este foi especial”.

Não só especial, como diferente, pela qualidade desportiva que os seus pupilos apresentaram em Beja, contudo, refere o técnico: “Infelizmente, nem todos os miúdos que estão comigo conseguirão chegar ao topo, e não chegando lá temos de garantir que o futuro deles seja seguramente melhor, depois de terem passado pela nossa academia, seja a nível escolar, seja a nível pessoal. Ficarei mais feliz se me disserem que tive um jogador que se tornou médico, que se tornou professor ou outra profissão qualquer”.

Na verdade, no futebol nem todos os sonhos se concretizam, todos atingirão os seus objetivos, no entanto, assegura o treinador: “Serão, com certeza, bons pais de família e cidadãos exemplares. Estamos focados em que eles sejam profissionais de futebol, e com os valores que lhes transmitimos – esforço, dedicação devoção – poderem atingir a glória”.

Mas o guião deste sonho de Daniel Medeiro, enquanto treinador de futebol, ainda vai no primeiro capítulo. O resto está por escrever: “Estou feliz, o futuro terá de ser construído passo a passo e se aqui continuar ficarei ainda mais feliz e realizado. Treinar uma equipa profissional? Não sei se o meu sonho passará por aí. Se calhar, dá-me mais prazer a formação do que o futebol profissional, agora, nós nunca sabemos que oportunidades nos surgirão amanhã, por isso, só tenho de viver o presente. Estou feliz e quero agarrar esta oportunidade e depois logo se vê”.

 

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