Diário do Alentejo

Miguel Lemos: a caminho do FC Porto

14 de junho 2019 - 14:15

Texto e foto Firmino Paixão

“Filho de peixe sabe nadar”. Nunca o provérbio se aplicou com tanta pertinência como neste caso de Miguel Lemos que, além do nome, herdou do pai as suas competências futebolísticas e a especificidade de ser um esquerdino nato.

Nascido em Beja há 14 anos, já representou o Desportivo, onde se iniciou e de onde saiu para o Sport Lisboa e Benfica, emblema que representou durante quatro épocas e meia. Voltou a Beja, jogou na última temporada na equipa de iniciados do Despertar e assinou pelo Futebol Clube do Porto.

Na próxima época, já como atleta dos “Dragões”, disputará o nacional de juvenis com a camisola do Padroense, um satélite portista.

Miguel frequenta o 10.º ano na Escola Secundária de Diogo de Gouveia, da sua cidade, e espera, mais adiante, licenciar-se em Desporto ou na área de Humanidades. “O percurso académico terá de ser sempre uma prioridade em paralelo com o desporto, porque se o futebol não der, lá estará a escola por trás, para nos assegurar o futuro”, diz.

Conheçamos, então, a história de mais um jovem jogador que deixa o seu berço e embarca numa aventura que só os mais audazes e mais competentes conseguem levar a bom termo.

“Um dia, no Desportivo, joguei numa equipa de categoria superior à minha e, nesse jogo, estava o Hugo Estanque, que era ‘olheiro’ do Benfica. Observou o meu desempenho e pediu-me que fosse fazer um treino de captação ao Seixal. Lá fui e, mais tarde, ligaram ao meu pai a dizer-lhe que, no mercado de inverno, me queriam contratar”.

O sonho de Miguel teve aqui o seu primeiro ato, como ele próprio assinala. “Passei quatro bons anos no Benfica, clube que me ajudou a crescer muito. Tenho a certeza de que se não fosse o Benfica eu não seria o jogador que sou hoje, porque foram quatro anos de momentos altos e baixos, dos quais retenho sempre a parte melhor, e estou agradecido por esse percurso, que considero muito positivo, porque sinto-me uma pessoa diferente e um jogador melhor, graças à minha passagem pelo Seixal”.

 

“Comecei a jogar futebol aos oito anos, no Clube Desportivo de Beja. O futebol era uma grande paixão que eu tinha. Desde pequeno que vivia futebol e alimentava o sonho de, um dia, ser jogador profissional. O meu pai também foi jogador, terá sido dele que eu herdei essa paixão. Não o vi jogar, mas têm-me dito que era um bom jogador, era mesmo um craque que podia ter jogado onde queria, mas perdeu-se um bocado porque, na sua época, não existiam grandes oportunidades”.

A sua juventude obrigou a que, nos primeiros tempos, fizesse inúmeras viagens entre a cidade de Beja e o Seixal, para treinar e jogar com a camisola das “Águias”, e é aqui que Miguel reconhece que “foi um grande sacrífico” e, por isso, “só tenho de estar reconhecido aos meus pais, que me apoiaram e fizeram todos os sacrifícios por mim. Foi duro para todos, mas eu sempre quis, e quero, ser jogador de futebol, e sei que, para chegar lá acima, terei que fazer muitos sacríficos”.

Contudo, ao fim de quatro épocas e meia, acabou por regressar a Beja: “Estava a jogar numa posição que não me favorecia muito e em que eu não gostava de jogar e, por isso, tinha poucas oportunidades para jogar no meu lugar de origem, uma posição número 10. Não estava feliz, nos últimos tempos que lá estive fizemos um torneio na China, em cinco jogos apenas joguei um e naquela posição que não gostava. Não estava feliz e, apesar de considerar muita positiva a minha passagem pelo Benfica, acho que, nessa altura, a melhor decisão foi voltar a Beja para recuperar confiança”.

Ingressou na equipa de iniciados do Despertar e cumpriu a última temporada desportiva no campeonato nacional. Eis quando surge um novo desafio, mas agora o convite veio do Futebol Clube do Porto. Miguel Lemos conta: “Sabia que andava a ser observado pelo Porto. Um dia pediram-me para ir fazer um treino de observação na equipa sub/16 e gostaram. Quando soube que vinham a Beja falar comigo e com o meu pai, fiquei muito feliz, não pensei duas vezes, afinal, sempre é o Futebol Clube do Porto”.

Aos 14 anos não são todos os jovens futebolistas que se podem orgulhar de enfrentarem estes desafios: “Senti um grande orgulho, não é todos os dias, nem são todos os jovens que conseguem assinar com dois grandes clubes como o Benfica e o Porto. Sou juvenil de primeiro ano, farei nesta época no Padroense, que é uma espécie de Porto B, espero afirmar-me, estou muito confiante, muito moralizado, darei o máximo para que me sejam dadas oportunidades e quero aproveitá-las da melhor forma”.

E como diz outro provérbio, não há duas sem três, qualquer dia aparece por aí o Sporting interessado em Miguel Lemos, mas isso é algo que o jovem desvaloriza dizendo: “Neste momento estou, apenas, focado no Porto, e é só isso que me interessa. Sei que para se ter sucesso no futebol é preciso trabalhar muito e ter sorte, mas tenho a maior das certezas que, se seguir essas regras, chegarei lá acima, porque confio muito em mim e nas minhas capacidades”.

Já agora, com um olho na seleção de todos nós, não Miguel? “Sim, mas primeiro que tudo focado num bom desempenho no clube, trabalhando sempre no limite para que, um dia, possa surgir uma chamada à seleção nacional, outro sonho que alimento”. Com toda a legitimidade, Miguel. Torcemos pelo teu sucesso. Sorte é o que te desejamos.

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