Diário do Alentejo

500 bicicletas em Raide BTT: "Nós somos diferentes”

31 de maio 2019 - 13:00

Mais de 500 bicicletas partiram para o XV Raide BTT – XI Troféu João Bento, em Cabeça Gorda. Gente de Mogadouro a Portimão, de Elvas a Torres Vedras, caminhos cruzados para desbravar estas “Terras de Mato”, onde o espírito competitivo se dilui na arte de bem receber.

 

Texto e Foto Firmino Paixão

 

Um evento como tantos outros que por esse país ocorrem, mas com uma singularidade que convoca figuras do desporto, das artes e do espetáculo e que só não cresce em maior dimensão porque a organização, a Secção de BTT e Cicloturismo do Grupo Cultural e Desportivo de Cabeça Gorda, privilegia uma oferta de qualidade, em detrimento de um número incompatível com as condições de logística.

 

A garantia foi deixada pelo dirigente José António Serra, um dos rostos do Grupo BTTFerrobico: “A nossa prova é uma das mais participadas da região e não ganha maior dimensão porque nós não queremos. O que desejamos é oferecer qualidade às pessoas, em detrimento da quantidade. Limitamos as inscrições aos 500 participantes, número que todos os anos é atingido e até ultrapassado. Neste ano tivemos 530 bicicletas, mas não possuímos infraestruturas para recebermos mais. Fazemos o melhor que podemos e sabemos e temos sido bem-sucedidos”. Uma missão. É um pouco assim que José António e todos os voluntários da organização assumem o evento: “Há 15 anos que envergámos esta camisola e é com todo o orgulho que vamos organizando vários eventos e representando a Secção de BTT e Cicloturismo do Ferrobico pelo país todo e não só, também em Espanha, e cá estamos de corpo e alma para fazermos com que as pessoas que nos visitam saiam de Cabeça Gorda com uma boa imagem da nossa terra e do nosso Alentejo. É este o nosso objetivo e estamos apostados em que tal aconteça todos os anos e em todos os eventos”.

 

Três percursos num só evento, 25, 45 e 75 quilómetros, e uma caminhada, todos com preocupações ambientais contidas no repto a que os betetistas tragam o lixo dos trilhos. Percursos com exigências diferentes, consoante as distâncias, neste ano, referiu José António: “Fizemos questão de ir ao rio Guadiana e esses trilhos não são fáceis, têm alguma altimetria. Dizem que o Alentejo é plano, mas não é bem assim”.

 

Mas afinal o que distingue este raide de outros eventos semelhantes? “Uma festa do ciclismo, uma festa alentejana, no fundo, o BTT é apenas um pretexto para reunir um grande grupo de amigos que praticamente se encontra aqui todos os anos. Já nos conhecemos todos uns aos outros. É uma festa durante dois dias, na maioria dos outros locais é só um dia, aqui não, é diferente. A festa começou ontem, agora damos uma volta de bicicleta para abrirmos o apetite para o resto da jornada de convívio e de festa”, garantiu Vítor Gamito, vencedor da 62.ª Volta a Portugal, com a camisola da Porta da Ravessa.

 

Uma opinião corroborada por outro campeão, Marcos Chagas, vencedor de quatro voltas (1982, 1983, 1985 e 1986) ao serviço do Porto, Mako Jeans e Sporting, “Para mim, é a possibilidade de continuar a conviver com o pessoal que pedala, ainda que de outra forma e com outro tipo de envolvência. Há quem venha aqui pelo aspeto competitivo, pessoal que anda muito bem e faz sempre destes eventos uma forma de se superar e de fazer mais, mas é principalmente um grande convívio que aqui temos entre todos e a possibilidade de encontrarmos gente boa que vamos conhecendo e, também, rever outros amigos, alguns dos meus tempos de corredor, depois de diretor desportivo, o caso do Vítor Gamito, mas também outros anónimos com quem gostamos imenso de conviver”.

 

Dois exemplos entre outras figuras inscritas, como a campeão Celina Carpinteiro (BTT Loulé) ou José Silva (Newrace/Olímpia), consagrado ultramaratonista, ou os irmãos Rosado (Os Anjos). “O alentejano tem essa característica do saber receber e isso talvez faça a diferença, nós não nos poupamos a esforços, nem a gastos, porque queremos manter esta qualidade e esta receção às pessoas, para fazermos com que isto aconteça todos os anos. Temos ouvido as pessoas dizerem que não existe nada tão bom como aqui na Cabeça Gorda. Não queremos ser melhores, apenas queremos ser diferentes, mas trabalhamos muito para que isso aconteça” considerou José António Serra, revelando outra particularidade do evento: “A prova de 75 quilómetros tem em disputa o Troféu João Bento, uma figura da nossa aldeia, atleta de BTT que desde o início esteve connosco e que, infelizmente, nos deixou. Fazemos questão de o recordar desta maneira, mantendo este troféu em sua memória”.

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