O Trail de Ficalho é uma organização do Clube de Trilhos da Associação Ficalho – Desporto e Cultura que, ao longo de cinco edições, já atrai cerca de 700 praticantes de norte a sul de Portugal e de Espanha, nas variantes de caminhada e trails de diferentes distâncias e exigências.
Texto Firmino Paixão
Cinco edições sempre a crescer em número de participantes e, seguramente, em qualidade, pois cada edição é sempre um momento de aprendizagem e, neste ano, até a meteorologia ajudou. Francisco Mendes, dirigente da associação e o rosto mais visível deste evento, chegou a confessar que as chuvas das vésperas o deixaram “um bocadinho nervoso, talvez ansioso, mas foi bom, porque baixou o pó e tornou os trilhos mais macios”. Por outro lado, lembrou: “Estes cinco anos têm-nos proporcionado alguma experiência na organização deste evento, embora seja sempre desafiante receber aqui quase 700 atletas a participarem nas quatro distâncias deste certame e, sim, a meteorologia ajudou, portanto, acreditamos que toda a gente saiu daqui satisfeita”.Os caminhos projetam-se em redor de Vila Verde de Ficalho, terra que a organização chama, com toda a legitimidade, uma “pitoresca aldeia raiana”. O dirigente local explicou: “Nós sofremos um bocadinho de influência aqui da vizinha Espanha, porque estamos aqui tão perto, mesmo na raia, somos portugueses mas temos um bocadinho daquela alegria e da loucura festiva dos espanhóis e gostamos muito de receber as pessoas. O nosso trail é muito conhecido, não só pela beleza da paisagem, como pela maneira como as pessoas são recebidas aqui na terra”. Por outro lado, a ideia tem sido criar uma marca, uma referência. “A ideia da organização, desde o início, foi sempre envolver muito a população, para que este não seja apenas um trail da Associação Ficalho – Cultura e Desporto, mas uma organização de toda a comunidade local e, por isso, temos podido contar com o voluntariado das muitas pessoas que até nos trazem um bolinho para que possamos oferecer aos atletas na chegada”. Os percursos são meticulosamente desenhados em redor da aldeia, sem esquecer alguns locais de referência, como a serra de Ficalho, a serra Baixa, o Vidigão e os trilhos do contrabando. Francisco Mendes confirmou: “Além das duas serras, a zona a que chamamos de Vidigão, que fica aqui mais a sul, é, porventura, a parte mais dura das nossas provas, porque, não sendo serra, tem algumas elevações que exigem um constante sobe e desde, algo parecido ali com a serra de Serpa, na zona de Santa Iria. Tem uma orografia muito exigente, não existem zonas planas para o atleta recuperar, ora sobe, ora desce, é muito duro. Depois, temos os antigos trilhos do contrabando, onde é possível encontrar muitos animais, porque esta é uma zona onde existem muitas espécies cinegéticas – veados, javalis, e outros animais. Alguns dos trilhos são mesmo feitos de forma natural por esses animais”. Ficalho tem um elevado potencial para desportos de natureza, de tal forma que convida os atletas a deixarem a alma naquela serra. “Essa foi uma expressão de um atleta espanhol, creio que de Alconchel, que veio correr cá há três anos. Chegou aqui extenuado, descalço, com os ténis nas mãos e exclamou: ‘Nesta serra deixei a minha alma’. Achámos o desabafo muito expressivo e adaptámo-lo como mote para o Trail de Ficalho”. Para além deste evento de trail, a organização promove, anualmente, uma outra prova de BTT e um evento de resistência denominado Ficalho Backyard Ultra, que, referiu Francisco Mendes, conta para o campeonato mundial da especialidade e traz ao Alentejo inúmeros atletas nacionais e estrangeiros. “São pessoas que vêm variadas vezes à nossa terra, conhecem o nosso património edificado, os nossos costumes, conhecem esta cultura e todo o nosso potencial para os desportos na natureza como veículo para um turismo sustentável”.A Associação Ficalho – Desporto e Cultura, garantiu Francisco Mendes, “foi fundada exatamente para promover o desporto e cultura”. “Numa terra como a nossa, com uma população envelhecida e no interior do Alentejo, é importante proporcionar às pessoas ferramentas para que saiam de casa, para que ganhem hábitos de vida saudável, e não esperávamos um retorno tão rápido, mas a população aderiu entusiasticamente e já temos cerca de 80 elementos e 33 federados. Somos o único clube de atletismo do concelho e temos os nossos benjamins também muito ativos”. A operacionalização do evento preenche, quase na totalidade, a praça Conde Ficalho. Ali sente-se uma atmosfera de amizade, uma interação positiva, mesmo entre desconhecidos, e, depois, aquela azáfama dos inúmeros voluntários, com as tarefas bem definidas. Finalmente chegam os Chocalheiros, grupo fundado em 1994 para recuperar tradições antigas, como o “Toque de aleluia” na Sexta-Feira Santa e pelo Natal. Um ícone daquela terra…
