Diário do Alentejo

Campeão João Letras, corredor cubense, com 34 anos, soma e segue na conquista de títulos nacionais

20 de julho 2025 - 08:00
O “TGV” de Cuba
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

Cinco títulos de campeão nacional de elites amadores e a conquista da Taça de Portugal, eis o palmarés do corredor cubense João Letras, que recentemente ganhou o “Troféu António Adegas”, em Santiago do Cacém.

 

Texto Firmino Paixão

 

O ciclista João Letras conquistou, nos últimos sete anos, cinco títulos nacionais de fundo, no escalão de elites amadores. Um palmarés notável, o deste corredor da equipa do Grupo Parapedra/ /MAF/Riomagic/Centro Recreativo Popular da Ribafria (Benedita), formação onde tem como principal “gregário” o irmão Jorge Letras. Um duo inseparável a quem um destes dias se juntou o pai, também Jorge, na disputa (bem-sucedida) do “Troféu António Adegas”, em Santiago do Cacém.

“A época está a correr muito bem”, reconheceu João Letras, recordando: “Reconquistei o título de campeão nacional de elites e venci a Taça de Portugal. O outro objetivo que trouxe para a temporada era a conquista da Volta a Almodôvar, mas foi mais complicado, não conseguimos essa meta. Mas, quanto ao resto, tem sido uma boa temporada. Porém, a principal meta que eu perseguia era renovar a conquista da camisola de campeão nacional, isso foi conseguido, portanto, estou bem, estou feliz”.

Os títulos conquistados pelo corredor cubense são na variante de fundo, porque, reconheceu: “O contrarrelógio não é o meu forte, poupo-me sempre, porque não tenho ambições na prova de contra relógio. Nas provas de fundo sim, portanto, não valia a pena estar a desgastar-me numa prova em que sabia que não iria conseguir grandes resultados. As provas de fundo são aquelas onde eu me sinto mais capaz”.

Muitas das suas corridas melhor sucedidas têm sido disputadas na grande região alentejana, testemunhadas e aplaudidas pelos seus adeptos, o que gera, naturalmente, um sentimento diferente. “É sempre muito gratificante vencer as provas aqui no meu território, junto das minhas gentes, locais onde sinto mais apoio e mais incentivo, quer na estrada, durante as provas, como também nas partidas e chegadas. É muito bom sentir esse carinho das pessoas e estou muito grato por isso. Felizmente que ainda se realizam algumas corridas aqui pelo sul, porque a maioria delas são no norte e centro, mas espero que esta regularidade de corridas no sul seja para continuar, porque as pessoas aqui também gostam do ciclismo”.

A época ainda não está concluída, até setembro o ciclista terá ainda tempo para fazer o que diz ser: “Disfrutar do prazer de envergar esta camisola com as cores nacionais. Será sempre um orgulho vesti-la, dignificá-la e mostrar, na estrada, a razão de ser o portador deste símbolo”. Porém, o atleta reconhece que sozinho pouco ou nada conseguiria. “A minha equipa é o pilar disto tudo. Sem os meus companheiros nada disto seria possível, porque sozinho não conseguiria ganhar. A equipa tem estado sempre ao meu lado, tem sido excelente e, quando necessário, estou sempre ao lado deles, porém, eles sabem do que sou capaz nas chegadas ao sprint, acreditam em mim e as minhas vitórias são igualmente deles, porque as merecem, pelo imenso contributo que me dão, quer para anular fugas ou para, no final das etapas, me colocarem no melhor lugar para discutir a vitória ao sprint”.

A sua mais recente vitória, por nós testemunhada, aconteceu no “Troféu António Adegas”, uma figura histórica do ciclismo alentejano. “Não cheguei a conhecer, mas sempre tenho ouvido falar no nome de António Adegas e do seu percurso no ciclismo nacional”, revelou, congratulando-se pela organização. “Ainda bem que organizaram esta corrida que o homenageia e espero que seja uma prova para continuar no futuro, porque fazem falta mais corridas para os ciclistas amadores, sobretudo, aqui, nesta região. Não devem apostar só nos atletas profissionais, é importante que exista uma maior aposta nos ciclistas amadores. Nós, mesmo fazendo disto um hobby, também nos dedicamos muito, treinamos com frequência e abdicamos muito do nosso tempo livre e, às vezes, da família, para desenvolvermos um desporto de que gostamos”.

O irmão Jorge será, porventura, o seu maior cúmplice no seio da equipa e do pelotão: “Sim, ele é o que puxa mais por mim, ajuda-me muito, mas também me dá na cabeça quando é necessário. Colabora muito comigo nos treinos e até nas provas”.

No “Troféu António Adegas” teve o irmão a correr ao seu lado, mas também o pai a discutir a vitória no escalão de masters 65. Uma família de ciclistas. “É verdade, somos uma família de ciclistas e vamos ver se os nossos filhos manterão esta tradição. Não sei se continuarão ou não. Quando crescerem, eles lá saberão o que gostam e o que pretendem fazer em matéria de desporto, eu e o meu irmão crescemos a andar de bicicleta, continuamos a fazê-lo mesmo já trintões”.

Tudo começou no Centro de Ciclismo de Cuba, fundado pelo inigualável Manuel Mimoso, o “Manelico”. O que será necessário para reativar esse clube? “O Centro de Ciclismo de Cuba já tem muitos anos mas, infelizmente, tem estado sem atividade. Será muito complicado, as pessoas que por lá passaram, sozinhas também não conseguirão pôr aquilo novamente de pé e não há ninguém que lhe queira pegar. É muito triste ver um clube acabar desta maneira. Não existem miúdos para fazer umas escolinhas, muitos deles preferem o futebol. É triste, mas não tem sido fácil. Vamos ver se no futuro será possível”.

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