O Complexo Desportivo Fernando Mamede, na cidade de Beja, foi o palco para a realização da 3.ª Batalha de Guarda-Redes, um evento de formação promovido pela Escola de Guarda-Redes Miguel Romão.
Texto Firmino Paixão
“O guarda-redes começa a ser formado mentalmente, porque é uma posição mais dura ao nível psicológico. Sente que nunca pode falhar, está sempre debaixo dos holofotes quando o erro aparece e é aquele que menos brilha quando faz bem”, garantiu Miguel Romão, admitindo que: “Ser guarda-redes começa na mente, tudo o resto é trabalhável, mas a vontade deles é fundamental”.
Antigo guardião do Despertar Sporting Clube, hoje ponta-de-lança da equipa, Miguel Romão é o mentor da escola com o seu nome, que realizou, em Beja, a 3.ª Batalha de Guarda-Redes, ação que reuniu 37 jovens desportistas, um número recorde desde que, em 2022, a escola ganhou forma.
“O nosso objetivo é fazermos sempre mais e melhor, mantendo sempre os parâmetros de qualidade e proporcionando a melhor experiência possível aos miúdos. Quantos mais, melhor para nós. Continuaremos a tentar crescer, devagarinho, passinho a passinho, sem grandes pressas, porque o mais importante será mantermos a qualidade dos eventos e proporcionarmos uma boa experiência às crianças que aqui vêm participar”, comentou o atleta.
Mas, afinal, o que é uma batalha de guarda-redes? Miguel Romão revelou: “A batalha é um evento diferente. Um evento de competição. Nós não temos interferência enquanto treinadores, somos quase os árbitros do jogo. A batalha opõe um guarda-redes a outro, é um modelo com regras específicas, tentando sempre manter um regulamento justo para as duas partes e, no fim, acaba por ganhar o guarda-redes que marcar mais golos”.
Esta edição contou com cerca de quatro dezenas de jovens, com idades entre os nove e os 16 anos, maioritariamente, da região, mas também jovens vindos de clubes da área da Grande Lisboa (Estrela da Amadora, Casa Pia e Malveira da Serra). Ou seja, a escola já ultrapassou os limites do concelho onde nasceu e começa a interessar candidatos de outras regiões do País, algo que agrada ao seu promotor. “Trabalhamos para crescer, para sermos reconhecidos e para podermos chegar o mais longe possível. Quanto mais longe, melhor. Mas enquanto tivermos caminho para andar, o nosso trabalho será sempre dedicado aos guarda-redes, e se tivermos que, um dia, fazer uma escolha, será sempre em prol deles e nunca em prol de uma equipa, porque achamos que este trabalho é essencial para o crescimento dos miúdos e primordial para dar mais qualidade aos clubes, e isso também é importante”.
A Miguel Romão juntaram-se Pedro Guerreiro e Francisco Timóteo, um trio que se mantém unido. “Somos os três desde o início. Temos alguma dificuldade em encontrar pessoas certas para o projeto, porque também não nos interessa crescer só no sentido de ganhar volume. Queremos ganhar volume, mas manter a qualidade”.
O apoio das famílias é outro fator fundamental, assinalou Miguel Romão. “A proximidade que temos com as famílias é o ponto principal daquilo que é o nosso projeto. E, falando em família, não podia descurar a minha, porque o projeto só se sustenta porque todo ele é concebido à volta da família. Mesmo as pessoas que trabalham comigo, os misteres, são pessoas que estão comigo há três anos e fazem parte desta família. Trabalham com o mesmo afinco e dedicação que eu, como se isto fosse deles. Este sentimento de pertença é sempre muito importante e nós entregamos também esse sentimento de pertença aos miúdos que trabalham connosco durante a época. Para nós é um valor quase inegociável”.
Por outro lado, sabe-se que, nestas idades, os clubes não investem muito no trabalho específico para a posição de guarda-redes, admitiu Miguel Romão, realçando: “É crucial que eles tenham uma base técnica com exigência naquilo que é o fazer bem, porque acabam por crescer e criar técnicas próprias mais aprimoradas, porque todos os guarda-redes são diferentes entre si. Todos são guarda-redes, mas todos serão diferentes. Mas temos que ver que, nos clubes, é difícil arranjarmos pessoas que se queiram dedicar só ao trabalho com o guarda-redes. Quem procura visibilidade não se foca apenas num atleta, foca-se no grupo. O guarda-redes acaba por fazer esconder muito os treinadores e eles optam por ficar com equipas e não só com os guarda-redes”.
Há 10 anos Miguel Romão esteve, em Amesterdão, no Mundial de Futebol de Rua, onde foi eleito o melhor guarda-redes do torneio. Uma memória ainda presente: “Esse é um dos momentos que dificilmente se esquecem. Foi um feito que não está ao alcance de qualquer um, independentemente de eu pretender manter sempre uma postura de humildade. Quando as coisas não me correm tão bem, penso sempre que se já consegui ser o melhor do mundo, hei de conseguir tudo e atingirei sempre os meus objetivos”. Mas, enquanto jogador, já atuou a guarda-rede e atualmente é ponta-de-lança. Gosta mais de marcar golos ou de os evitar? “Gostei muito de os evitar enquanto senti que tinha capacidade para crescer e evoluir. Chegou uma altura em que não fiz uma escolha de gostar mais ou menos, foi pretender divertir-me de uma forma diferente. Experimentar uma área diferente. Queria desafiar-me. Mas se me perguntar qual a minha vocação, a baliza nunca há-de sair de mim, independentemente da posição em que jogue. Se tivesse que fazer uma escolha entre as duas coisas, escolheria continuar a evitar os golos em vez de marcá-los”, concluiu.