Diário do Alentejo

“Um atleta de excelência”

11 de julho 2025 - 08:00
2.º Prémio Troféu António Adegas, uma homenagem a um antigo bravo do pelotão nacionalFoto | Firmino Paixão

Um pelotão com mais de uma centena de ciclistas, nas categorias de elites e masters amadores, alinhou na segunda edição do Troféu António Adegas, uma organização partilhada entre a Associação de Ciclismo do Distrito de Setúbal e a Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

 

Texto e Foto | Firmino Paixão

 

Uma justa homenagem a um antigo ciclista santiaguense, com uma carreira de topo que passou pela disputa da Volta a Portugal com a camisola do Sport Lisboa e Benfica, mas cuja dedicação à modalidade, aliada ao enorme voluntarismo que o caracterizaram, se destacou, também, como pilar fundamental na afirmação da Volta ao Alentejo em Bicicleta. A primeira edição do troféu disputou-se em 2019, na categoria de cadetes, numa prova por etapas, a primeira entre Almeirim e Vila Franca de Xira, a segunda com partida e chegada na cidade de Santiago do Cacém.

No plano desportivo, numa prova que integrava o campeonato regional de masters, natural destaque para o triunfo do campeão nacional de elites, o cubense João Letras, também para a vitória do aljustrelense Luís Matias, outro campeão nacional, mas na prova de masters 55. Depois, outras classificações relevantes, como a vitória de Jorge Letras (pai) na corrida de masters 65 e o segundo lugar do filho, também Jorge, no escalão de masters 35. João Batata e José Cordeiro, ciclistas da Casa do Benfica de Almodôvar, conseguiram dois triunfos no “Open”, e, aqui e ali, corredores da União Ciclista do Alentejo, de Évora, a colorirem os diferentes pódios da prova santiaguense.

 

A paixão pelo ciclismo voltou a Santiago do Cacém Álvaro Beijinha, o líder autárquico, esteve, naturalmente, presente e deixou a nota: “O António Adegas foi uma grande figura do desporto neste concelho, nomeadamente, no ciclismo, mas foi, de facto, um grande embaixador da modalidade, pelo percurso que teve como atleta do Benfica, na Volta a Portugal, e, seguramente, cativou muitos jovens da altura para a prática do ciclismo. Por isso, a câmara municipal, em conjunto com a Associação de Ciclismo de Setúbal, decidiu organizar esta prova para homenagear esse vulto. Mas também porque o ciclismo é uma modalidade que está enraizada aqui no concelho, através de várias iniciativas a que também estamos ligados, principalmente, o BTT e, por isso, consideramos que os eventos desportivos são igualmente formas de promovermos o nosso território.

Acreditamos que com iniciativas como esta estamos a contribuir não apenas para a prática de desporto e para homenagear António Adegas – e é muito justo que o façamos –, mas também para promovermos o nosso concelho”. Sobre a manutenção da prova no calendário regional, o autarca considerou: “Embora esteja em final de mandato autárquico, posso dizer-lhe que sentimos que quem vier a seguir deverá ter a obrigação de retomar esta prova, porque é uma forma de perpetuarmos o nome de António Adegas e para que as gerações mais novas percebam que, aqui no seu concelho, tiveram um atleta de excelência que atingiu um patamar muito elevado”.

António Adegas iniciou a sua carreira numa célebre equipa formada pela Casa do Povo de Penedo Gordo, em Beja, um dado confirmado por Cândido Matos Gago na sua obra de autor, intitulada O Ciclismo no Alentejo – Seu Aparecimento e Evolução. Matos Gago refere-se mesmo a uma primeira geração da Volta ao Alentejo ganha por António Adegas: “Para reposição da verdade desportiva, a primeira edição da Volta ao Alentejo realizou-se em 1952, com um percurso só realizado pelo Baixo Alentejo, que passou pelas localidades de Penedo Gordo, Pias, Cuba, Aljustrel, Ferreira do Alentejo, Grândola, Santiago do Cacém, Sines… e teve como primeiro vencedor o ciclista António Francisco ‘O Adegas’, corredor de Santiago do Cacém que, no seu percurso como ciclista, alinhou pela Casa do Povo do Penedo Gordo, pelo Águias de Alpiarça, Sport Lisboa e Benfica e pelo Louletano”.

A sua dedicação à modalidade ficou também expressa numa nota escrita pelo próprio Adegas numa publicação editada pela Associação de Municípios do Distrito de Évora, em 2008, comemorativa das bodas de prata da “Alentejana”, em que o próprio, omitindo a sua passagem pelo Penedo Gordo, escreveu: “Corri a primeira Volta a Portugal em 1955 pelo Águias de Alpiarça. Depois, em 1956, fui para o Benfica, clube onde corri durante quatro anos, até 1959. Depois apareceu a Volta ao Alentejo. Lembro-me dessa primeira volta, Era uma prova familiar, era quase uma festa…. Tive várias funções ao longo dos anos, fui motorista do diretor de corrida, fui motorista do médico e depois fiz carro de apoio neutro, função que também tinha na Volta a Portugal”.

A sua presença na caravana não deixava ninguém indiferente. A sua experiência, a serenidade com que abordava as questões técnicas e ainda a capacidade de congregar amigos à sua volta foram sempre uma mais-valia para a Volta ao Alentejo. A forma exemplar como se relacionava com os restantes parceiros e o altruísmo que sempre o caracterizou tinham um vértice comum. “Eu tinha sempre uns petiscos no meu carro. Chamavam-lhe o carro-bar. Tinha sempre umas cervejas, vinho, pão caseiro, enchidos e queijo. Assim, no final de cada etapa, enquanto faziam as classificações, bebíamos um copo e comíamos um petisco, até irmos jantar. Mas hoje está tudo diferente”, rematou o, então, empresário corticeiro, falecido em fevereiro de 2008.

 

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