Diário do Alentejo

Cinquenta anos “é muito tempo”

15 de junho 2025 - 08:00
Centro de Cultura Popular de Serpa assinalou meio século de existênciaFoto | Firmino Paixão

O Centro de Cultura Popular de Serpa celebrou os 50 anos de existência e concluiu a sua participação no Campeonato Nacional da 2.ª Divisão de Andebol, em seniores masculinos, sem evitar a despromoção à 3.ª Divisão.

 

Texto e Foto | Firmino Paixão

 

Uma página que se virou, com meio século de promoção do desporto e partilha dos valores a ele associados. Outrora, mais eclético, hoje, apenas, com o dinamismo do andebol, por vicissitudes do tempo. O clube, personificado pelos seus históricos dirigentes, mantém a convicção da sua importância no movimento associativo desportivo do concelho de Serpa e da região alentejana. Na sua presidência há 21 anos, Carlos Amarelinho fala de um clube amadurecido, em contraponto com uma dinâmica jovem, o que fazem dele um “farol”.

O dirigente afirmou: “Apesar de o Centro de Cultura Popular de Serpa (CCP) ter já alguma idade e, se calhar, por isso mesmo, é um clube com alguma maturidade. Um clube que tem dado muito de si à comunidade serpense, no andebol, mas não só. O clube, ultimamente, tem apenas a modalidade de andebol mas, no passado, já promoveu outras atividades”. Carlos Amarelinho lembrou: “No início da década de Oitenta foi uma colectividade muito eclética, com uma atividade muito intensa e diversificada. Uma coletividade que sempre deu muito ao concelho de Serpa, uma escola de dirigentes que ainda hoje aqui permanece. Tem sido uma escola de solidariedade, de companheirismo, valores interiorizados por pessoas que, hoje em dia, lideram muitos projetos e entidades”. O presidente do clube disse mesmo: “Face a essa dinâmica, a comemoração destes 50 anos é encarada, por nós, como um tempo de juventude, de vitalidade, e só esperamos estar cá muitos mais anos para testemunharmos esse futuro”.

A perda do tal ecletismo, justificou Amarelinho, teve, fundamentalmente, a ver com a alteração da sede social: “O centro foi fundado no tempo do PREC [Processo Revolucionário em Curso, logo após o 25 de Abril de 1974], no período das ocupações. À data ocupávamos um palacete cuja manutenção, hoje em dia, seria insustentável. Tinha 60 divisões, salões enormes junto a uma boa parte da muralha de Serpa. Era, claramente, impensável continuarmos naquele edifício. Deixámos esse espaço e, atualmente, estando no Pavilhão Carlos Pinhão, era de todo impossível mantermos as atividades que tínhamos na época, nomeadamente, ténis de mesa, judo, teatro e uma grande atividade de jogos de mesa. Tivemos também o voleibol, atividade que terminou há duas épocas. O andebol é a modalidade pela qual somos mais conhecidos e que nos tem dado mais alegrias”.

Sem se deter, o dirigente recordou o título nacional conseguido na época 2005/2006. “Fomos campeões nacionais da 2.ª Divisão, em iniciados, mas também destaco a subida dos seniores à 2.ª Divisão, um escalão em que a manutenção não é fácil numa terra do interior do Alentejo”. E afirmou: “A nossa política não passa por roubarmos jogadores uns aos outros. A nossa política é termos a nossa própria formação e recrutarmos onde for possível e pacífico fazê-lo. Temos de jogar com o que temos e, com essa realidade, andarmos a disputar campeonatos da segunda divisão tem sido algo incrível”.

Formar e partilhar valores é outro dos desígnios deste clube, realçou o dirigente. “Neste momento temos cerca de 90 atletas, desde os minis até aos seniores, passando por uma equipa feminina, e, efetivamente, o nosso papel é esse, é uma missão social. Ao longo deste tempo temos tido o cuidado de transmitir e partilhar valores com os nossos jovens atletas. São os valores da solidariedade, os valores da camaradagem, e queremos muito que assim continue a ser. Não queremos só praticar o andebol. Queremos também formar pessoas, homens e mulheres, desportistas no verdadeiro sentido da palavra, porque isso também nos engrandece”.Quanto ao reconhecimento da comunidade por este percurso de cinco décadas, Carlos Amarelinho deixou uma nota. “O andebol não é, propriamente, uma modalidade como o futebol, onde toda a gente fala, toda a gente dá opiniões. O andebol é um desporto diferente. Mas as pessoas reconhecem este trabalho e nunca falham no pavilhão. Direi, até, com toda a certeza e com toda a justiça, que o nosso é o pavilhão que mais público tem nos jogos da segunda divisão, na zona sul. Não se vê em mais nenhum pavilhão tanta gente como no nosso, e com entusiamo, apesar de perdermos ou ganharmos os jogos. Umas vezes ganhamos, outras perdemos, isso faz parte do jogo, mas o público apoia-nos muito e isso é o reconhecimento daquilo que fazemos”.

Neste virar de página para a outra metade do século, Carlos Amarelinho, o presidente do Centro de Cultura Popular de Serpa, deixou um voto. “O regresso rápido à segunda divisão e mantermos este património, que são os nossos jogadores, com renovado interesse pelo clube. Espero que os jovens mantenham esta dinâmica, esta ligação ao clube, com alegria, com empenho, e orgulho por vestirem a nossa camisola. Serpa precisa do andebol. O andebol faz parte da história desportiva de Serpa, do concelho e do Baixo Alentejo”, rematou.

A anteceder o último jogo do campeonato nacional da segunda divisão, com o Pinhal de Frades, o Centro de Cultura Popular de Serpa enalteceu o contributo de algumas pessoas, na divulgação do clube e da modalidade, como João Efigénio Palma, presidente do município de Serpa, os dirigentes Carlos Amarelinho, Francisco Mira e Luís Mestre e o “Diário do Alentejo”.

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