Diário do Alentejo

“Estamos mais maduros”

24 de maio 2025 - 08:00
Ricardo Vargas, treinador dos campeões distritais, faz o “raio x” da época desportiva
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

O Vasco da Gama, de Vidigueira, sagrou-se campeão distrital da 1.ª Divisão da Associação de Futebol de Beja duas jornadas antes do final de um campeonato que concluiu com 10 pontos de vantagem sobre o segundo. No final deste mês disputará a Supertaça, um título que ainda está em falta na galeria de troféus do histórico emblema vidigueirense.

 

Texto e Foto | Firmino Paixão

“O maior mérito deste título, deste trabalho bem-sucedido, é de quem jogou, é de quem esteve dentro das quatro linhas”, garantiu o treinador do Vasco da Gama, de Vidigueira, Ricardo Vargas, justificando: “Os jogadores é que foram os grandes protagonistas, são eles que conseguem as grandes conquistas”. O técnico recordou aquilo que foi afirmando ao longo da época. “Dissemos sempre que não éramos candidatos, mas éramos favoritos. A maior parte das pessoas apostou todas as fichas em nós e acertaram, embora, no início da época, tenhamos sentido algumas reticências, ao ponto de olhamos uns para os outros e nos questionarmos sobre o que estaria a acontecer. À quarta e à sétima jornada estávamos em sétimo lugar, ainda assim, nas primeiras 14 jornadas houve cinco líderes. Depois mudámos o chip e veio uma maior consistência”, reafirmou.

 

Competência e supremacia, qual dos substantivos escolheria para qualificar o título conseguido? Se calhar, não escolheria nenhum, porque competência qualquer campeão tem de ter e a supremacia vem a espaços. Vou mais para aquilo que foi a regularidade da equipa e, depois, a partir de determinada altura, a consistência. Penso que ficaria nestas duas avaliações: regularidade e consistência.

 

Podemos acrescentar a qualidade do plantel e a coesão da estrutura?Sim. O segredo do Vasco da Gama vai muito por aí. Se bem que temos tido algumas entradas, mas a grande base do grupo vem de trás e, naturalmente, a qualidade dos atletas, algo que é sempre fundamental. Mas também a qualidade do trabalho que é feito semanalmente. Não podemos só olhar à qualidade dos atletas, nem dos treinadores, temos de olhar também à qualidade de um conjunto de pessoas que, na retaguarda, trabalham para nos proporcionarem as melhores condições, pessoas que têm sido fantásticas. Depois, foi também fundamental o apoio dos sócios e dos adeptos. Todos eles foram fundamentais para este título, porque estiveram sempre connosco, sempre ao nosso lado em toda esta caminhada.

 

A equipa tem um modelo de jogo muito genuíno. Uma estratégia que impede os adversários de se organizarem. E é a sua quota-parte no sucesso…Esse é o meu “ADN”. Uma das minhas linhas orientadoras, enquanto treinador. Fazer pressão alta, procurar ter bola sem esperar pelo adversário. Um modelo que os jogadores interiorizaram ao longo das quatro épocas em que estamos juntos. Se lhes pedir para jogarem de outra forma, não sei se o conseguirão fazer, parece que ficam travados, não estamos habituados a ser mais contidos.

 

O Aldenovense foi a única equipa a quem não conseguiram ganhar, mas, se uma equipa vence uma prova com 10 pontos de vantagem não se questiona a justiça do triunfo…Sem dúvida. O Aldenovense foi a equipa que tirou mais pontos ao Vasco da Gama e terminou o campeonato em sexto, a 17 pontos. Agora, a classificação final da prova diz tudo. Contudo, ainda haverá alguém que possa dizer que não foi uma vitória justa. Terminámos com uma vantagem dilatada, fomos campeões duas jornadas antes do final da prova e isso espelha tudo o que foi o campeonato e a justiça que existiu.

 

A época só não foi exemplar porque ficaram, precocemente, afastados da Taça Distrito de Beja…Conseguimos o nosso principal objetivo, que era o regresso ao Campeonato de Portugal. O Vasco da Gama é um clube para estar nesse patamar. Mas admito que só um título nesta época é curto para a nossa equipa, assumo isso. Ainda temos a Supertaça, que queremos muito vencer. Se conseguirmos a Supertaça podemos fazer história num clube que ainda não a venceu, nem ganhou dois troféus numa só época. Se não o conseguirmos, para mim, fica curto.

 

O plantel sofrerá alterações? Carlos Rato despediu-se no último jogo…Sabemos a base que temos e não abdicaremos dela. A vontade dos atletas conta muito. Muitos dos jogadores do Vasco estavam no clube antes de eu aqui chegar. Todos eles fazem parte, mais do que eu próprio, da história do Vasco, e nunca abdicaremos deles porque, em cada momento, cada um deles será importante e fundamental. O Carlos Rato, sim, decidiu terminar a sua carreira e fê-lo de uma forma muito bonita. Foi meu colega na formação, jogámos juntos e tive o privilégio de trabalhar com ele. Se muitos dos miúdos, que estão agora a começar, tivessem a vontade e a dedicação do Carlos, o nosso futebol distrital estaria melhor. Foi sempre um exemplo para todos.

 

Já se percebeu que continuará ao leme do Vasco da Gama na próxima época…Fomos convidados a continuar. Eu, pessoalmente, mas também a restante equipa técnica, achámos que nos devíamos manter, porque achamos que este projeto tem pernas para andar. Este foi um ano de aprendizagem, descer de um campeonato de Portugal, mantendo a base da equipa, com a aposta de regressar de imediato àquele patamar, foi muito importante. Foi muito difícil fazer o luto da descida. A nossa fase inicial no campeonato distrital, menos conseguida, teve muito a ver com isso, e essa experiência marcou-me. Não é fácil descermos de uma prova nacional e querermo-nos reerguer no ano seguinte com, praticamente, os mesmos atletas. Foi uma tarefa árdua que superámos com sucesso. Por isso, crescemos. E as duas épocas que estivemos no Campeonato de Portugal vão dar-nos bagagem para aquilo que possa ser a próxima época.

 

Com que ideias regressam depois de ter acabado esse período de luto?O Campeonato de Portugal está cada vez mais competitivo, com muitas equipas cada vez mais profissionalizadas, e em todos os sentidos: jogadores, equipas técnicas e estruturas. É uma prova onde o amadorismo tende a acabar. O que queremos é ir buscar as aprendizagens e o capital de experiência das duas épocas em que lá permanecemos, como bagagem para enfrentarmos os novos desafios. Ambicionamos fazer um campeonato tranquilo, será importante mantermos as nossas bases e os nossos pilares, com vontade e empenhados a 100 por cento. Será importante sabermo-nos reforçar, porque o clube não tem capacidade para ter mais do que quatro ou cinco jogadores de fora, nem nós nos revemos nisso, mas sentimos que estamos todos mais maduros. Vamos com o sentimento de que, não dando para ganhar, será fundamental não perder.

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