O ciclismo é, porventura, a modalidade desportiva que mais arrebata as emoções dos almodovarenses. A forte tradição existente em Almodôvar, alimentada pela presença de vários corredores filhos da terra em equipas nacionais, tem sido, através dos tempos, o dinâmo que fomenta esta realidade. A poucos dias do início da Volta ao Concelho de Almodôvar o “DA” falou com um dos seus símbolos: Manuel Caetanita.
Texto Firmino Paixão
A Volta ao Concelho de Almodôvar, que terá a sua 17.ª edição nos dias 12 e 13 deste mês, é um dos exemplos, entre muitos, da paixão que ali existe por esta modalidade. Por esta altura já Manuel Domingos Caetanita preparará as suas máquinas para correr mais uma edição da prova em torno do seu concelho. As máquinas, sim, não foi erro de cálculo. Uma é a sua bicicleta, a outra é o próprio corredor, e ambas são fundamentais, porque, aos 72 anos de idade, andar aí pelas estradas do País a puxar pelo físico, é mesmo típico de uma máquina que, nesta altura da sua existência, já tem muitos milhares de quilómetros nas pernas. Também muitos títulos, muitas alegrias, muitas camisolas de campeão nacional e vencedor de etapas da Taça de Portugal. A mais importante, não subsistem dúvidas, será a camisola de campeão ibérico de masters.
Até quando manterá o Manuel Caetanita esta atividade, este frenesim pelas provas de ciclismo? “Até que o corpo me permita”, garantiu o almodovarense, acrescentando: “Vou entretendo-me com a bicicleta e quando não puder ainda tenho lá o meu quintalinho para cultivar umas coisas”. Um grande exemplo de envelhecimento ativo. Caetanita não tem dúvidas: “É muito bom andar de bicicleta, muito bom poder, ainda, andar aqui nestas corridas, porque animamos o povo. As pessoas têm paixão pelo ciclismo, é uma modalidade muito popular. Por outro lado, é importante estimularmos os mais novos a andarem de bicicleta. É isso que eu faço com os meus netos, quero que eles aprendam a praticar desporto, porque é muito bom para a saúde”. Foi isso mesmo que fez Manuel Caetanita ainda muito jovem. “Comecei a andar de bicicleta, mais a sério, aí pelos meus 16 anos. Corri uma Volta a Portugal em 1973, tinha 20 anos. Corri pelo Louletano Desportos Clube, foi aí em que me iniciei no ciclismo. Mais tarde, quando acabei o serviço militar, é que se fez essa grande equipa que existiu em Almodôvar, comigo, com o Barradas, o João Silva, o Francisco Revés, que era um moço de Olhão, e o António Cândido. Ganhámos uma etapa na Volta a Portugal”.
Mais recentemente, o “jovem” ciclista já representou a equipa da Casa do Benfica, em Almodôvar, a Amiciclo, de Grândola, o Centro de Ciclismo de Loulé, e, atualmente, veste o “jersey” do Team Danado, da Associação de Moradores do Bairro da Cerca, em Castro Verde. Mas a camisola que mais admira, e também a que mais passeia pela estradas do Alentejo e do País, é a de campeão nacional, e, na verdade, são tantas que nem se preocupa em lavar e secar: “Tenho bastantes, se calhar, mais de 20 camisolas de campeão nacional nos diferentes escalões pelos quais fui passando, sempre a competir com a mesma vontade e a mesma dedicação. Também tenho duas de campeão ibérico, mais duas que me faltavam, que eram as da Taça de Portugal, ganhas, recentemente, em Ourique e em Castro Verde”.
A verdade é que Manuel Caetanita ainda não se dá por satisfeito. Assinala que ainda lhe falta mais qualquer coisa no palmarés: “Quero voltar a disputar o campeonato do mundo de masters. Estive lá no ano passado, mas as coisas não correram como eu desejava, porque me enganei numa rotunda no percurso do contra-relógio. Mas ainda mantenho o sonho de voltar a um campeonato do mundo, subir ao pódio e trazer de lá uma camisola e uma medalha de campeão do mundo. Falta-me essa camisola, mas, até aos 74 ou 75 anos, ainda tentarei ir buscá-la”. É esta ambição, esta resiliência e a capacidade de pedalar atrás do sonho que caracteriza um ciclista, e Caetanita não desistirá dele. “Não desistirei, se me mantiver com a saúde e a força que tenho atualmente. Não desistirei de perseguir esse meu sonho”.
E por falar em saúde, esta é a prescrição: “Faço avaliações periódicas ao meu estado de saúde e as coisas têm corrido bem. Faço análises e exames médicos, aliás, são requisitos obrigatórios para manter a licença nacional e poder competir oficialmente. Sem esses exames não conseguiria obter a licença”. Mas não só, a vida regrada e a disciplina alimentar: “Nunca abuso da alimentação e mantenho um estilo de vida saudável, bebo uma cervejinha só de vez em quando, não abuso do feijão nem do grão, nada de abusos. Depois, temos de manter treinos regulares, isso é que não pode mesmo faltar, sem treinar não se pode competir, porque as pernas não deixam. Treino duas a três horas por dia, conforme a meteorologia permite”.
No momento da despedida, quisemos empossá-lo como um dos embaixadores do concelho de Almodôvar, mas Caetanita confessou algumas reticências: “Talvez os nossos representantes nem sempre pensem assim e esqueçam um bocado aquilo que nós fazemos pela nossa terra. Deviam apoiar-nos mais um pouco, esquecem um bocadinho aqueles que têm feito alguma coisa pela promoção do concelho de Almodôvar”. Fica o registo…