O Shave Futebol Clube apresentou a sua equipa e as suas ideias para a fase local do Torneio Clube Escolhas que se inicia no próximo dia 8 de abril, em Beja, com quatro equipas, duas do Alentejo e duas do Algarve.
Texto Firmino Paixão
A “Oficina de futebol de rua” é um dos inúmeros módulos do “Projeto Shave Escolhas” promovido pela Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, através do Instituto Português da Juventude e Desporto, que, a nível local, tem como entidade promotora o Centro Social, Cultural e Recreativo do Bairro da Esperança.
O programa contempla outras atividades, nomeadamente, socioeducativas, culturais, aquisição de competências pessoais, sociais e digitais, entre outras áreas de promoção da inclusão e da capacitação de jovens de comunidades em situação de vulnerabilidade social.
O Shave Futebol Clube, bicampeão regional, apresentou-se num final de tarde da última semana. José Maria, António Correia, Beatriz Caixinha e Augusto Francisco (todos na foto) deram voz à crescente ambição da equipa, que passa pela conquista de um título nacional, algo que gostariam de materializar já na quinta edição do Torneio Clube Escolhas, cuja primeira ronda de jogos se realiza no dia 8 de abril no Pavilhão Municipal João Serra Magalhães, em Beja.
Uma convicção que satisfaz os responsáveis pelo projeto, a coordenadora Deolinda Zacarias e o técnico Saiming Fonta, mas também algo que regozija quem nele participa ativamente, como o jovem António Correia, de 17 anos. “O projeto tem-me ajudado muito a todos os níveis. Consegui crescer muito ao nível pessoal e profissional devido ao projeto e às pessoas que trabalham nele, porque são pessoas que acreditam sempre nos nossos sonhos, mesmo que nós não acreditemos”. O jovem é perentório quando ao mérito do “Projeto Shave”: “Crescemos muito enquanto pessoas, também crescemos a nível de atitudes e comportamentos, temos atividades na área da psicologia que nos orientam para a melhoria comportamental e para a valorização pessoal”. E até vai ao ponto de confessar: “Há uns anos, e vou ser muito sincero, eu era um ‘reguila’, não parava quieto e era muito mal-educado, e quando entrei para o ‘Projeto Shave’, além de corrigir todos esses comportamentos, tornei-me uma pessoa muito humilde, algo que antes nunca tinha sido. Hoje sei como devo estar, sei comportar-me, seja qual for o local onde entro. Sinto que a vida, às vezes, dá-nos lições que nunca esperávamos”.
Saiming Fonta é um desportista (guardião do Sporting de Cuba), ele também um exemplo de cordialidade e de vocação para aceitar as diferenças entre todos estes jovens, capacitando-os para que o futuro se torne mais risonho para cada um deles. O técnico revelou: “Trabalhamos, essencialmente, com a comunidade do bairro das Pedreiras e do bairro da Esperança, com alguns jovens de etnia cigana, contudo, um pouco por causa do impacto e do sucesso que o projeto tem tido junto de alguns jovens eles começaram a falar com outros colegas e já temos aqui, também, moços da cidade, alguns africanos e até romenos que, neste ano, vamos incluir na equipa do Shave Futebol Clube”. Quanto à expectativa dos meninos e meninas que integram o projeto, Saiming acrescentou: “Estes jovens procuram fazer parte de um grupo que já esteja estruturado porque sabem que aqui serão sempre respeitados e valorizados, pois, na verdade, isto é também um projeto de inclusão social. Portanto, mantemos estas quatro comunidades, a portuguesa, cigana e não cigana, as comunidades africanas e romena”.
Nos quatro anos de existência do projeto são já visíveis alguns exemplos de sucesso, admitiu Saiming. “Claramente que houve sucesso. Houve pessoas que foram bem inseridas e algumas, hoje em dia, são figuras conhecidas na sociedade. Dou-lhe o exemplo do André Rosa que recentemente apresentou um livro [Chega de Adiar, ed. Booksfactory] e que foi um dos participantes noutras gerações deste projeto”.
O futebol, como atrás ficou expresso, é apenas um dos módulos do projeto, eventualmente, um dos mais atrativos e no qual os jovens mais se empenham, daí terem estado já presentes em duas finais nacionais, com resultados de topo, um terceiro e um quarto lugar, e Saiming considera: “O futebol é apenas uma das ferramentas que utilizamos no nosso trabalho, porque temos outras atividades, desde o treino de competências, o complemento de apoio à família, dinâmicas de grupo, trabalhamos a empatia e a comunicação, também temos música, agora, a oficina de futebol de rua mobiliza quase todos os jovens, porque podem participar rapazes e raparigas de diferentes idades”.
Os apoios nem sempre são fáceis, mas o técnico ameniza as dificuldades: “Felizmente, não nos podemos queixar, pois temos tido o grande apoio do Centro Social, Cultural e Recreativo do Bairro da Esperança, mas também do município de Beja e da União de Freguesias de Salvador e Santa Maria, que nos dá um apoio constante, mas também a Cáritas e os agrupamentos de escolas”.
Muitas e boas razões para Saiming Fonta estar com o coração cheio, por tudo o que têm sido as suas vivências neste processo de capacitação e de inclusão. “Claramente! Olhando para o que foram os últimos quatro anos, eu não tenho quaisquer dúvidas disso”. Por tudo isto é que no Shave Futebol Clube “cada passe é jogado com o coração”. O coração daqueles meninos e meninas esperançosos no futuro, mas também com o nosso.