Diário do Alentejo

Jiu-jitsu é a base das lutas

16 de março 2025 - 08:00
João Letras e Tiago Galhano venceram as duas etapas da Taça de Portugal de Elites e Masters em ciclismoFoto | Firmino Paixão

A Associação de Karaté Goju-Ryu de Beja promoveu, no passado fim de semana, o 2.º Kokusai Ronin Taikai, um encontro de escolas que teve a presença de dois consagrados “mestres” internacionais: o espanhol Barrera (ju 10.º dan) e, ainda, o irlandês Tony Codrick (hachi 8.º dan).

 

Texto e Foto | Firmino Paixão

 

O programa incidiu sobre “Escolas de Conexão Chinesa – Século XVII e a Tradição de Jiu-Jitsu Japonesa” e foi desenvolvido em três momentos diferentes. Um primeiro painel, teórico, que teve lugar no auditório da Biblioteca Municipal José Saramago, em Beja, para acolhimento dos participantes, seguindo-se uma palestra em que os “mestres” apresentaram as suas escolas. O segundo e terceiro dia do encontro, já no dojo da associação, na Escola Básica de Santiago Maior, foram preenchidos com sessões práticas. Um primeiro treino de kogusoku (combate corpo a corpo) e um segundo momento para treino de laido toyama-ryu morinaga-ha (combate com espadas de samurai).

 

Sobre a palestra com que abriu esta ação formativa, as ideias principais deixadas pelos dois mestres, segundo nos relatou a treinadora Ana Usié, apontaram no sentido de: “As escolas tradicionais de jiu-jitsu assentam em cinco pilares, a história da escola e as suas origens, a área da filosofia, o entendimento da arte, a medicina, a meditação e o quinto pilar é o das artes marciais”.

 

E exemplificou: “Tal e qual como uma mesa com cinco pés, se lhe faltar um deles, ficará coxa, portanto, uma escola completa terá de assentar nestes cinco pilares”. Nessa linha, apurámos que a diferença entre as duas escolas, que têm a mesma origem, é mais ao nível das movimentações, revelou ainda Ana Usié: “O mestre Barrera tem mais a parte do miura-ryu, assenta num movimento mais natural do corpo, deixar fluir os movimentos de uma forma natural sem fazer esforços para o controlar, esquivar aos ataques e defender”.

 

Por outro lado: “A escola do mestre Tony (shintowa-ryu) é mais forte, aponta mais para o contacto, mas os princípios básicos são os mesmos. Esta escola virou-se um bocadinho mais para a componente competitiva e é essa, realmente, a maior diferença entre as duas escolas. Os princípios básicos convergem em ir buscar os pontos de controlo do nosso corpo, mas diferem na forma de chegar a esses pontos”, completou a treinadora da Associação de Karaté de Beja (AK Beja).

 

Já no tatami do dojo, o diretor técnico, Teófilo Fonseca, revelou: “O objetivo da palestra inicial passou um pouco por explicar o que iria acontecer nas duas formações seguintes e quais as diferenças que têm estas duas escolas, embora sejam muito parecidas. Explicou-se o que demonstram as escolas, o conceito de defesa, o porquê e as pequenas diferenças que elas têm entre si”.

 

O segundo momento formativo, segundo o presidente da AK Beja, “foi o trabalho do kogosoku, ou seja, o trabalho do corpo a corpo do samurai, que vem das escolas de jiu-jitsu tradicional”. “É a luta de corpo a corpo. É conhecido como defesa pessoal, mas isto é arte de combate corpo a corpo. Os samurais lutavam para se defender e para matar. Mas não podemos falar assim para as crianças, nem para os adultos, que era para matar”, sublinhou Teófilo Fonseca, adiantando: “Falamos em defesa. Todo o nosso trabalho é defesa.

 

E como nós estamos a trabalhar uma linha de ha heiho, que é uma linha em que há 13 escolas de heiko, a trabalhar de joelhos, esta é a escola de oficiais de espada japoneses, do exército imperial”. O técnico acentuou ainda: “Este já é um trabalho médio, para alguns será a primeira vez, mas nós já fizemos cinco ações semelhantes e destinam-se, apenas, a quem está inscrito. Isto são ações para as pessoas conhecerem a defesa pessoal, mas não é uma defesa pessoal ligeira, é mesmo corpo a corpo”.

 

Quanto ao jiu-jitsu, explicou: “O jiu-jitsu é a base das lutas, o princípio de onde vêm as artes marciais japonesas. O jiu-jitsu tradicional, o desportivo ou de competição e o jiu-jitsu brasileiro, hoje muito em voga, que é a parte só de chão, é o grapling, ou seja, um terço de chão e, depois, tem a parte de pé, que é a parte projetar ou rasteirar. São estas três componentes”. Sobre a evolução desta arte oriental, considerou: “A evolução foi simples. O princípio foi a defesa e a aplicação da arte para eliminar um adversário.

 

A evolução derivou para a parte desportiva, há quem faça o jiu-jitsu tradicional, outros fazem a parte desportiva, que nos traz muito conhecimento da realidade, e isso é bom, claro, desde que seja bem ministrada, bem orientada e traz a proteção do nosso parceiro, seja ele adversário, ou não, é sempre o nosso parceiro”.

 

Foi um evento, o maior do ano nesta área na região, que contou com duas grandes figuras internacionais com as quais Teófilo Fonseca tem já uma grande relação. “Já trabalho com eles há muito tempo. Um deles há 14 anos, outro há cerca de 11, mas já trabalhei com ambos muitas vezes, em vários encontros, em trabalhos que apresentei e em várias aulas de karaté que ministrei para eles, nomeadamente, da arte de socar ou de pontapear, até já estivemos duas vezes juntos no Japão”. São dois mestres de topo, acrescentou.

 

“O mestre Barrera é a pessoa responsável pela escola para o exterior do Japão, o mestre irlandês é um dos expoentes máximos na Irlanda e também reconhecido pela comunidade internacional”, concluiu.

Comentários