“Pesco desde miúdo, ando nisto desde os meus oito anos. O meu pai incentivou-me a andar na pesca desportiva e há quase 30 anos que pratico o surf casting em competição. Já pesquei em Moçambique, pesquei em Angola, pesquei em vários países, tenho uma vida cheia na pesca desportiva. Neste momento estou na primeira divisão nacional”.
Texto e Foto | Firmino Paixão
O melidense Fernando Encarnação, de 68 anos, atleta da Juventude Desportiva Melidense, clube filiado na Associação Regional do Baixo Alentejo de Pesca Desportiva, ostenta, orgulhosamente, o título de campeão do mundo de pesca desportiva de mar/fundo (surf casting) na categoria de masters, conquistado em finais de outubro de 2024, em Parhos, no Chipre. Subiu ao pódio para ouvir “A Portuguesa” e ver a nossa bandeira subir no mastro, a sua coroa de glória na dedicação que tem pela modalidade. “Foi o momento mais alto da minha carreira na pesca desportiva. Tenho participado em vários campeonatos do mundo, sete no total, nomeadamente, com a seleção A, neste caso foi com a seleção de masters, mas é evidente que foi um grande momento. Ando já há quase 30 anos nestas competições, fiquei muito feliz e muito orgulhoso, porque foi com muito esforço e muita dedicação que consegui atingir o objetivo”. Um momento único, admitiu Fernando Encarnação.
“É qualquer coisa diferente de tudo. É uma emoção enorme. Estar num país que não era o meu, tão longe de Portugal, longe de casa e dos meus familiares, e ouvir o hino nacional porque, eu próprio, me tinha sagrado campeão do mundo, foi um momento único. Senti uma grande paixão. Não tenho palavras para descrever esse sentimento, foi um momento muito bonito, muito emotivo”.
Porém, como não há bela sem senão, a federação internacional não tinha presente a medalha para o agraciar, recordou o atleta. “Penso que houve ali uma falha da Federação Internacional de Pesca Desportiva (FIPS), algo que nunca tinha acontecido, porque eu já estive em vários campeonatos e nunca vi tal, mas foi uma falha, entregaram-me uma medalha provisória e só muito recentemente o presidente da Federação Portuguesa de Pesca Desportiva, Carlos Batista, me agraciou com a medalha original”.
À parte deste incidente, o pescador assume que representar o País, cá dentro ou em países estrangeiros, tem mesmo grande significado. São momentos inesquecíveis, momentos únicos: “Representar o meu país é algo muito emocionante, algo diferente, já me aconteceu por sete vezes, mas cada uma é sempre diferente das anteriores, mais desafiante, um compromisso maior e uma ambição sempre crescente. Pode ser que me calhe mais vezes, mas temos de ver que eu já vou tendo uma idade um bocado avançada, mas continuarei na pesca desportiva até poder”.
A conquista não foi fácil, mas a receita passa, invariavelmente, pela dedicação e pelo talento. “Este título foi difícil. Também não há conquistas fáceis, todos os títulos são difíceis e tem de existir também uma pontinha de sorte no meio disto tudo. Fomos para o Chipre dois dias antes do início do campeonato mundial, começámos os treinos, não conhecia as praias cipriotas, é um país banhado pelo mar Mediterrâneo, são águas muito abertas, o tipo de pesca é diferente do que estamos habituados aqui em Portugal, temos de fazer uma pesca diferente da que estamos habituados. Os dois dias de treinos não me correram muito bem, o treino oficial já me correu bem melhor e quando começou a competição fiz sempre primeiros e segundo lugares até ao final das provas”. As dificuldades passariam, inevitavelmente, pela diferença nas espécies. “Eram peixes de menor dimensão, peixinhos mais pequenos, chamam-lhe os peixes-guitarra, ferreirinhas e sarguinhos de menor dimensão, “palmetas”, foi por aí, eram peixes relativamente pequenos, mas em grande quantidade. Houve situações em que consegui capturar 50 ou 60 exemplares por prova”, recordou Fernando Encarnação, pescador que tem no seu palmarés títulos nacionais e vários títulos regionais.
A surpresa, porém, estava por desvendar. Questionado sobre a eventual prática de outras modalidades, Fernando Encarnação revelou: “Também fui futebolista e com esta idade em que me vê, com 68 anos, ainda sou o treinador da equipa de futebol sénior do Juventude Desportiva Melidense. Já treinei vários clubes, o Estrela de Santo André, o União Sport Clube, de Santiago do Cacém, o Grandolense, o Melidense, já corri vários clubes, sou treinador de futebol há trinta e tal anos”.
Qual será, então, a sua maior paixão? “São as duas! Mas, digamos que a pesca poderá estar um bocadinho mais acima do que o futebol, mas são as duas paixões que tenho na vida, o futebol e a pesca desportiva. Já tinha pensado em terminar a carreira de treinador, parei durante uma época, mas como também represento o Juventude Desportiva Melidense na pesca desportiva, pediram-me para voltar a treinar e eu acedi com agrado. Há 12 anos que treino a equipa sénior, mas também orientei equipas na formação. No meu palmarés tenho uma subida do Grandolense à primeira divisão, com o respetivo título regional, levei uma equipa de iniciados ao campeonato nacional, enfim, uma vida dedicada à pesca e uma segunda vida dedicada ao futebol”. É mesmo de campeão …