Diário do Alentejo

Academia de Rugby do Colégio de São José, em Beja, quer relançar uma modalidade que em 2007 não vingou

19 de janeiro 2025 - 08:00
A germinação da semente

A Academia de Rugby do Colégio de São José, em Beja, estabelecimento particular de ensino, nesta cidade, é um projeto que pretende integrar a modalidade no universo dos desportos coletivos praticados no distrito.

 

Texto e Fotos Firmino Paixão

 

“Um desporto para brutos, jogado por cavalheiros”. Eis a expressão que, de grosso modo, define uma modalidade com grande implantação no meio universitário. Mas o rugby rege-se por cinco valores fundamentais: a integridade, a paixão, o respeito, a solidariedade e a disciplina. Valores que estão, naturalmente, presentes na jovem Academia de Rugby do Colégio de São José, apresentada em fevereiro de 2023. Um projeto que navega em boas águas e que tem tudo para ser levado a bom porto. Uma convicção do treinador Pedro Pereira, responsável pela sua execução.

 

Como surgiu a Academia de Rugby em Beja?

O Colégio de São José tinha alguma carência de desportos no seu programa educativo e tentou diferenciar-se, dinamizando uma modalidade em que toda a gente pudesse ser incluída, que é uma das valências do desporto, e para que os atletas mais novos criassem raízes. Esse é o pilar fundamental: incluir toda a gente e fazer com que todos sejam integrados. O Colégio de São José tem essa preocupação.

 

Quando fala em integração é porque a atividade não se restringe aos alunos do colégio?

Não, a atividade é aberta a toda a comunidade, aliás, essa foi uma das exigências que o próprio colégio fez na altura em que surgiu o processo, tanto para dar visibilidade ao Colégio de São José, como para fazer crescer um desporto cuja semente tinha sido já plantada aqui em Beja, em 2007, voltasse a florescer. É isso que estamos a tentar fazer e o colégio está, obviamente, a apoiar-nos, sendo um dos grandes pilares do projeto, fazendo um grande esforço, em conjunto com os pais dos atletas, para que isto se concretize e tenha sucesso. Recorde-se que esta é a única escola no Baixo Alentejo que tem esta modalidade no seu programa educativo. O Colégio de São José quer também diferenciar-se por essa via.

 

Os objetivos estão bem definidos?

Os objetivos que nós temos traçados passam pela criação de um clube. Temos o apoio do colégio e da própria Federação Portuguesa de Rugby. O Bairro da Conceição cedeu-nos um espaço nas suas instalações, mediante um valor simbólico, enquanto não conseguirmos ter uma estrutura própria. O objetivo é criar a base das academias para que, no futuro, possamos ter um campo no próprio colégio, com todas as infraestruturas necessárias ao desenvolvimento da modalidade. Um espaço que abriremos à comunidade em geral, para que o rugby seja para todos. Temos também um espaço dentro do Seminário Diocesano de Beja, onde os mais jovens treinam sob orientação do Tiago Coroa.

 

O percurso, até ao momento, tem sido bem-sucedido?

Tem sido atribulado, mas nem é por terem acontecido muitos percalços. O que temos notado é a existência de muita resistência à modalidade. O rugby é tido como um desporto violento, mas existem muitas coisas que desmistificam isso. Na última década tem existido muita preocupação em mitigar alguma violência que estivesse associada à modalidade e, nas formações que tenho frequentado para me poder inserir neste quadro, tenho confirmado isso mesmo. A World Rugby, principalmente, tem feito um esforço enorme para que se evitem lesões ao praticar este desporto e as regras têm evoluído muito nesse sentido. Por outro lado, as maiores dificuldades que temos sentido têm sido os espaços e o recrutamento de atletas. É um desporto que só vingará se for criada uma boa base de formação, especialmente, ao nível dos escalões mais jovens. Esse foi um dos grandes motivos do insucesso do projeto em 2007, na secção de rugby do Clube Desportivo de Beja, quando a semente do rugby foi plantada nesta cidade.

 

Acredita que essa semente germinará em definitivo e que o rugby, em breve, será uma realidade aqui na região?

Tenho muita confiança. As pessoas que neste momento estão envolvidas nisto querem muito que as coisas aconteçam. Estamos a lutar e a fazer tudo para que isto vingue. Temos de consumir muitas horas, estamos a tentar formar o clube, a procurar apoios junto dos municípios, da federação da modalidade e do Instituto Português do Desporto e Juventude. Sabemos qual o caminho que queremos seguir e temos algumas ferramentas, resta saber a forma como vamos ser acarinhados. Já tivemos o apoio do Oeiras Rugby Club, que dinamiza a modalidade nas escolas de Lisboa, através do Desporto Escolar, e esse é um dos passos que queremos seguir para mostrarmos a modalidade à comunidade educativa.

 

O rugby é uma modalidade com uma forte componente universitária. Projetam envolver o Instituto Politécnico de Beja nesta caminhada?

Claramente. O nosso colaborador que está a ministrar o treino aos nossos atletas mais jovens, o Tiago, é um aluno do curso de Desporto da Escola Superior de Educação de Beja. Não tinha qualquer ligação ao rugby – até joga futebol –, mas mostrou interesse em vivenciar esta experiência connosco. Tem sido fantástico, está bastante entusiasmado, ele próprio não tinha a noção de que os meninos e meninas nos passam tantos valores.

 

O projeto vai chegar a bom porto?

Estou muito confiante. Não será uma coisa de hoje para amanhã, levará o seu tempo. Acredito que, dentro de dois anos, poderemos ter equipas em alguns escalões. Temos, atualmente, 16 atletas a treinar no Bairro da Conceição, mais uma dezena (os mais jovens) no seminário diocesano, mas estamos constantemente a procurar novas pessoas que queiram praticar. Acreditamos muito que o rugby em Beja, em breve, será uma realidade.

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