A superioridade dos bejenses expôs, uma vez mais, as fragilidades da formação “mineira”. Um Bairro da Conceição reorganizado e motivado, com o foco na segunda volta do campeonato, perante um emblema histórico e centenário, que não se reencontra com o palmarés do passado.
Texto e Fotos Firmino Paixão
No regresso do Campeonato Distrital da 2.ª Divisão, da Associação de Futebol de Beja, disputou-se a 13.ª jornada, a segunda da segunda volta da prova e a primeira ronda neste novo ano de 2025. Uma partida com a particularidade de ter trazido para jogo o primeiro e o último classificado da série A: Bairro da Conceição e São Domingos. Juntaram-se os extremos da tabela, algo que não é raro acontecer, devido ao dinamismo das classificações. Outra curiosidade foi o facto de o árbitro que dirigiu a partida, o vidigueirense Nelson Prego, ter realizado em Beja a sua primeira arbitragem no escalão de seniores. A história do jogo lê-se pelo elevado número de golos, três na primeira parte, os restantes no segundo período, momento em que o São Domingos quebrou fisicamente e não teve soluções para contrariar o maior poder ofensivo dos donos do terreno, que viram a sua tarefa facilitada.
No final da partida e perante este cenário, o treinador do Bairro da Conceição, João Santos, salientou: “Costumo dizer que não há jogos fáceis, porém, na segunda parte, o adversário quebrou fisicamente e o resultado acabou por se dilatar e facilitar as coisas”. Quanto ao significado do lugar que a equipa, atualmente, ocupa, admitiu: “O primeiro lugar é muito importante, porque aqui seguimos a política de vivermos jogo a jogo. Nesta segunda volta estamos a encarar todos os jogos como finais e o primeiro lugar é muito positivo, embora não seja fácil, porque os adversários olham sempre para nós como um alvo a destronar”. Na sua terceira época como técnico do clube, João Santos afirmou: “A primeira época foi o ano zero, a segunda foi de construção. Este ano temos um plantel mais equilibrado”. Quanto aos objetivos traçados, revelou algumas cautelas: “Estamos no primeiro lugar, temos que o assumir e não podemos esconder alguma ambição no sentido de nos qualificarmos para a segunda fase. No início o objetivo era fazermos melhor do que na época passada, que foi um terceiro lugar, portanto, a ambição, neste ano, passa muito por estarmos na segunda fase. Temos plena consciência de que será difícil, porque esta série é muito competitiva e não há jogos fáceis”. O próximo será na Cabeça Gorda e parece ser acessível, porém, João Santos garantiu: “Os jogos teoricamente mais fáceis acabam por ser os mais difíceis de preparar, tem tudo a ver com a mentalidade com que encaramos os jogos, embora nós tenhamos mudado muito a maneira como os nossos jogadores olham para todos os jogos, respeitando sempre o adversário, mas com o objetivo de ganhar”. Jogo a jogo tornou-se um chavão do futebol dos nossos dias, a que este treinador não foge. Mas este jogo a jogo de João Santos será a receita para atingir a divisão principal? “É a receita para pensarmos no próximo jogo, sem nos desviarmos muito disso. Não vale a pena fazermos muitas contas, assumindo a ambição de estarmos na segunda fase, o nosso pensamento, para já, está apenas no próximo jogo, que será na Cabeça Gorda”.
O silêncio no balneário dos “mineiros” era revelador do desalento. Mais uma derrota, a décima em 12 jornadas, e a segunda pela marca de oito a zero. Pedro Martins, treinador do São Domingos, fez uma leitura pragmática do percurso deste clube: “São as dificuldades de um clube sem muitos recursos, com poucos jogadores, é algo frustrante, mas a realidade é esta. Perante tantas carências, o facto de o clube se manter em competição já é por si uma vitória, mas é uma vitória bastante amarga, porque temos quatro ou cinco jogadores com qualidade, que estão numa equipa que só o que faz é perder semana a semana”. O técnico confessou mesmo: “É frustrante para toda a gente, mas principalmente para os jogadores que, apesar de todas as contrariedades, não nos têm abandonado”. O diagnóstico é simples, segundo o treinador: “Estamos num meio pequeno, num concelho com uma população muito reduzida, em que existem dois clubes de futebol. Tudo isso faz com que sintamos tantas dificuldades em recrutar jogadores, e os que estão connosco, já é complicado tê-los ao fim de semana para jogar, quanto mais contarmos com eles nos treinos”. Então o que faz correr este coletivo? “Andamos aqui por gosto, mas estamos a ficar um bocadinho saturados. Mudar este estado de coisas? Sinceramente, não tenho a receita para isso, teremos que refletir sobre o problema com mais pessoas da terra. Já tinha passado pelo clube como jogador e as coisas eram diferentes. Hoje temos três jogadores da terra, os restantes são de fora. Até temos outros jogadores com qualidade, mas não aparecem aos jogos”. O problema até parece estar identificado, mas… “Temos problemas que teremos que resolver internamente, temos aqui dirigentes com tradição no futebol distrital e não queremos estar a melindrar ninguém com essas coisas, porque, se calhar, o São Domingos hoje ainda existe por causa dessas pessoas”. Quanto ao próximo jogo, prognósticos só no final: “Será com a equipa bê do Serpa mas é muito complicado perspetivar o que quer que seja, porque nunca sei quem vai a jogo, nem quantos jogadores irão aparecer”.