Diário do Alentejo

Arregaçar as mangas

11 de janeiro 2025 - 08:00
José Piteira, atual treinador do Sporting Clube de Cuba, enfrenta mais uma missão difícilFoto| Firmino Paixão

O Sporting Clube de Cuba, último classificado do Campeonato Distrital da 1.ª Divisão, da Associação de Futebol de Beja, apostou em José Piteira para salvar o clube de uma hipotética despromoção ao escalão inferior.

 

Texto e Fotos | Firmino Paixão

 

José Piteira, 59 anos, cubense de nascimento e antigo atleta do clube, pegou no Sporting Clube de Cuba, à oitava jornada, com a equipa na situação de “lanterna vermelha” do “Distritalão”. Não evitou as derrotas em Vila Nova de São Bento, nem, em casa, com o Vasco da Gama, mas promete capacitar o plantel com uma atitude capaz de evitar a despromoção. Orgulhoso pelo convite, que considerou irrecusável, lamentou, no entanto, que os convites que lhe têm surgido, após uma experiência no futebol chinês, tenham sido para salvar equipas da despromoção. Vejamos o seu estado de espírito após o jogo com o Vasco da Gama de Vidigueira.

 

O “bom filho à casa torna”. Foi aqui criado e o clube chamou-o para uma missão difícil?Ultimamente, desde que vim da China, tenho sido procurado quando as equipas estão já em último lugar, ou para lá caminham, provavelmente, devido à experiência que tenho. Há três anos a esta parte fui salvar o Portel, que estava em último lugar, o ano passado fui salvar o Monte do Trigo, e este ano estou aqui. Tinha dito para os meus botões que nunca mais aceitaria um projeto assim. Quando me vêm buscar é porque as equipas já estão naquela fase de falta de vontade, de crença, sem união, mas eu vim para aqui. Tenho que fazer quase tudo. Não me custa, fiz noutros clubes, melhor farei no Sporting de Cuba.

 

Quer dizer que o convite foi irrecusável?Sim! Foi um convite que eu jamais poderia recusar. Vim com muito gosto, muito orgulho. Foi aqui que eu comecei a jogar futebol, estive cá na altura em que o clube tinha grandes equipas, por isso não podia virar a cara ao clube da minha terra. Vamos tentar levar isto até ao fim, com esta garra e esta vontade que vimos hoje, com este grupo e com mais dois ou três valores que hão de vir para acabarem o resto do campeonato. Se mantiverem esta atitude e esta vontade, a entrega a que o clube nos habituou sempre que joga no Amado de Aguilar, não será difícil levarmos esta missão a bom porto.

 

A equipa fez dois jogos sob o seu comando, Aldenovense e Vasco da Gama, mas ainda não conseguiu a vitória que seguramente persegue…Hoje perdemos. O Vidigueira foi melhor. Mas estivemos a ganhar 50 minutos, estivemos empatados até aos 92 minutos, no tempo de compensação sofremos dois golos. Esses golos já não contam para a avaliação que faço da equipa. Na outra jornada, perdemos em Vila Nova de São Bento, sofremos um primeiro golo e o segundo já foi aos 98 minutos. Hoje aconteceu um pouco do mesmo, embora, no cômputo geral, o Vasco da Gama tenha sido melhor equipa. É uma equipa tarimbada por vários anos no Campeonato de Portugal, candidata ao título, frente a um Sporting de Cuba empobrecido, porque metade dos jogadores ainda nem conseguem treinar três vezes. Mas será assim: a partir de agora, nova vida, novas ideias e aquilo que hoje já pusemos em prática será para manter e melhorar. Tentaremos ser uma equipa difícil quando jogamos em casa.

 

Houve necessidade de fazer alguma terapia para fortalecer os níveis de confiança do plantel?Sim, essa terapia é sempre importante. Mas não será apenas em poucos dias, e em dois jogos, que iremos recuperar essa mística que é típica deste clube. Terá que se construir e incentivar essa mística nos treinos e nos jogos, É nesse sentido que estamos a trabalhar, olhando em frente com confiança, deixando em campo tudo o que temos e o que não temos, dignificando esta camisola.

 

O plantel já recebeu um ou dois jogadores, mas existe a perspetiva de novos reforços?Só temos um guarda-redes, estamos à espera de outro e ainda precisamos de ir buscar mais jogadores. Hoje já apresentámos 14 jogadores, no último jogo tínhamos apresentado 12, é manifestamente insuficiente. Quem olhar para o nosso banco sente que temos essa dificuldade. Essa evidência de falta de soluções é ainda mais motivadora para os nossos adversários, porque expomos as nossas fragilidades. Nos últimos anos o Sporting de Cuba tem andado muito a leste do seu historial, vamos ver se os sócios e simpatizantes ajudam mais um bocadinho, para que as direções vindouras elaborem um projeto com pés e cabeça. Não é ficarem um ano, irem embora e deixarem isto como eu encontrei. Assim não.

 

O Sporting de Cuba teve sempre um grande viveiro de bons jogadores e, atualmente, tem muitos a jogar fora do concelho…Temos jogadores noutros clubes vizinhos e o clube a precisar tanto deles. Se saíssem daqui para irem jogar num clube grande, tudo bem, agora deixarem o clube da terra, o clube onde iniciaram a carreira desportiva, para irem jogar em clubes vizinhos? Não faz sentido nenhum. Não sei se será pelos euros… Mas os euros também não serão assim tantos que valha a pena trocar o clube da nossa terra por um clube vizinho. Mas pronto, eu não tenho cá estado, não posso responder por isso. As épocas planeiam-se e os plantéis constroem-se em agosto, agora não há muito a fazer. Vamos arregaçar as mangas, com vontade, com paciência, com inteligência e com a certeza de que não desceremos de divisão.

 

O próximo jogo será, de novo, no Amado de Aguilar, com o Castrense. Outro adversário difícil?Outro candidato ao título. Teremos que fazer o mesmo que fizemos hoje. Teremos que jogar com garra, com atitude e com inteligência, porque não temos os mesmos argumentos que essas equipas. Será uma partida idêntica à que fizemos com o Vidigueira. Foi pena não ter aqui ficado, pelo menos, um ponto. No domingo tentaremos ganhar os três. Estou confiante, mas desde que os jogadores mantenham crescente esta atitude e este compromisso.

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