Um triunfo no reduto do Sintrense, um empate no terreno do Estrela da Amadora e uma vitória, em casa, com o Lagoa. Três jogos, sete pontos conquistados em nove possíveis, eis o palmarés de David Maside, treinador recém-chegado ao Moura Atlético Clube. Texto Firmino Paixão
Quem é, afinal, David Maside? O treinador, de 38 anos, nascido no Seixal, que na última época treinou o Oriental Dragon e que o Moura Atlético Clube foi buscar para inverter os resultados negativos que estavam a mergulhar a equipa no fundo da tabela da série D do Campeonato de Portugal. O filho de Rui Maside, uma antiga glória do Vitória de Setúbal, que treinou os mourenses nas épocas de 2017/18 e 2018/19, é ambicioso, um bom líder, um bom comunicador e avalia-se assim: “O melhor exemplo que dou para me definir como treinador é que ‘eu sou eu’. Quem não me conhece pode achar isso estranho, mas eu sou a pessoa mais sincera e mais honesta que pode existir. Estou a moldar-me, também, porque, enquanto jogador, fervia muito em pouca água, e agora acho que estou a corrigir isso. Mas sou o mais sincero e honesto que posso ser com todos os jogadores, procurando sempre soluções em prol do coletivo e não do individual, no sentido em que, para eu ser bem-sucedido, o primeiro sucesso será dos meus jogadores. Mas tudo o que seja sinceridade e honestidade está presente na minha vida, enquanto treinador e enquanto homem”.
Foi o Moura que o descobriu ou foi o David que descobriu este clube para treinar?
Foi uma mistura das duas coisas. O meu pai já tinha sido cá treinador sob a presidência de Luís Jacob, e eu, nessa altura, vinha a Moura ver vários jogos. O facto de ter sido jogador e o meu pai ser treinador fez-me andar sempre neste meio, e já várias vezes tinha falado com o presidente sobre o facto de isto poder acontecer um dia. Sabia que aconteceria. Muito também por influência do meu pai – não vou esconder isso –, mas foi assim, de certa forma: descobrimo-nos um ao outro e, até ao momento, tem sido uma boa ligação.
O clube estava na cauda da tabela. Isso não o fez pensar duas vezes antes de se comprometer?
Aceitei de imediato, sabendo as condições que o clube nos proporcionaria. É um clube do interior do Alentejo, com poucos recursos financeiros, como sabemos. Os recursos humanos também não abundam e as pessoas que aqui estão têm de fazer um pouco de tudo. Os jogadores e a equipa técnica também têm de se esforçar bastante, mas isso fez-me pensar que seria crucial para o meu crescimento. Eu ainda não sei tudo, estou numa fase de crescimento. Estou a aprender e passar por todos estes processos é algo extremamente enriquecedor. Depois, o facto de ser uma equipa do Campeonato de Portugal também é aliciante, sejamos sinceros. É a minha primeira experiência como treinador principal neste patamar, mas toda essa envolvência fez com que eu aceitasse de imediato meter as mãos à obra.
Encontrou uma equipa com os níveis emocionais um bocadinho em baixo?
Sim. Bastante. Emocionais e físicos. Hoje, com o Lagoa, ainda se notou um pouco isso, mas é normal quando uma equipa não ganha jogos, quando está abaixo da linha de água. Portanto, tivemos de criar aqui um espírito de união muito grande. O jogo com o Lagoa, em casa, foi um exemplo disso, de uma grande união, espírito de grupo e entreajuda e quando somos reais o suficiente, quando somos honestos e verdadeiros o suficiente, às vezes “estes rebuçados caem do céu”.
Pediu alguns reforços para dar mais sustentabilidade à equipa?
Sim, pedi. Temos identificado e contactado alguns jogadores, mas lá está, o facto de estarmos a falar de um clube alentejano, nesta zona geográfica, dificulta bastante a possibilidade de trazermos jogadores com a qualidade que pretendemos para este campeonato. Continuamos à procura, já tivemos uns nãos, uns “nins”, vamos continuar na pesquisa.
O percurso que já fez roça a perfeição. Ganhou sete pontos em nove possíveis…
Sem dúvida que é muito melhor começar a ganhar jogos do que a perdê-los. Temos até o exemplo do João Pereira, no Sporting, com uma tarefa super difícil. Mas sim, é muito mais saboroso e motivador começar a ganhar pontos. Os jogadores acabam por acreditar mais nos planos estratégicos e no modelo de jogo que desenvolvemos, porque veem os resultados a curto prazo. No entanto, ainda temos muito para aprender, falta muito para crescermos. Temos de manter este nível, o objetivo é dar esta continuidade e essa é a parte difícil. Não é difícil ganhar uma ou duas vezes, difícil é dar continuidade e sequência a esses bons resultados. Vamos continuar com esse trabalho, para atingirmos o nosso objetivo que é, claramente, a manutenção e, uma vez lá chegados, traçaremos novas metas.
Ter saído já da zona de despromoção dá um pouco mais de tranquilidade ao grupo de trabalho?
Sem dúvida. Dá-nos outro conforto. Mas o campeonato é muito longo, não será por estarmos uma jornada fora da zona de despromoção que nos podemos acomodar. Temos de dar continuidade ao trabalho e seguir em frente.
No próximo domingo vão jogar com o Amora. Não será nada fácil. Acredita que a sua estrelinha vai continuar a brilhar?
Esperemos que sim. Será mais um jogo difícil. Sendo eu lá de muito perto, conheço bem toda a estrutura e toda a organização do Amora, mas não esperamos facilidades. Continuaremos a trabalhar os índices físicos, principalmente, continuar a moldar o nosso modelo de jogo, procurarmos fechar um ou dois jogadores e continuar esse trabalho de crescimento a todos os níveis, dentro e fora de campo.
Gosta de ser conhecido enquanto filho de Rui Maside ou prefere uma identidade própria?
Isso tem-me perseguido pela vida. Quando era jogador tinha pessoas que me chamavam Rui, mas orgulho-me bastante em ser filho de quem sou. O homem que sou deve-se muito à educação que os meus pais me deram. No que toca ao futebol, quero seguir o meu caminho. O meu pai tem o percurso dele, que conquistou com muito mérito, e eu quero fazer o meu, conquistando o meu próprio mérito em termos individuais, mas também para fazer jus ao nome do meu pai, que foi um grande jogador e é um grande treinador. Claro que conto sempre com a ajuda dele.