Diário do Alentejo

Clube Desportivo de Beja e Sporting Clube de Portugal estão alinhados na valorização do futebol feminino

30 de novembro 2024 - 08:00
“Os passos certos”
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

O Clube Desportivo de Beja tem apostado no crescimento e valorização do futebol feminino, desígnios a que o Sporting Clube de Portugal não ficou alheio, daí resultando uma parceria de cooperação entre os dois clubes, com o foco na partilha de dinâmicas para captação de talentos.

 

Texto e Foto Firmino Paixão

 

Um protocolo para “promover a troca de conhecimentos e criar novas dinâmicas de captação de talentos no futebol feminino”, assumiu o Sporting Clube de Portugal, no momento de assinatura do acordo com o emblema bejense. André Sampaio, treinador das equipas sub/16 masculinas e sub/17 femininas do Clube Desportivo de Beja, também coordenador para a área do futebol feminino do clube, revelou como surgiu este protocolo e pormenoriza todos os aspetos ancorados a esta parceria com o Sporting. “O contacto surgiu através da estrutura do Sporting, concretamente, com o técnico Frederico Gonçalves, que numa das suas visitas a Beja apreciou imenso a quantidade de atletas que nós temos a praticar e, através dessa observação, fomos desenvolvendo ao longo do ano alguns contactos que culminaram com a celebração deste acordo”.

 

Será um retorno do investimento do Clube Desportivo de Beja no futebol feminino?

Sim. Tivemos, recentemente, algumas atletas com presenças em selecções nacionais, onde também têm sido observadas por diferentes clubes. O Sporting mostrou interesse em conhecer os nossos métodos de captação e promoção do futebol feminino, existe uma sintonia de ideias entre os dois clubes e tudo isso conduziu à celebração deste protocolo que nos deixou extremamente orgulhosos, porque significa que estamos no bom caminho e a fazer as coisas certas.

 

O Sporting fala em criar dinâmicas para captação de talentos. O Desportivo forma e o Sporting valoriza?

Este protocolo vai permitir-nos criar um modelo de organização diferente. O maior benefício será para as atletas, mas, ao longo do processo, os dirigentes e os técnicos que estão ligados ao futebol feminino também colherão frutos, porque estas atividades de parceria permitirão que as nossas atletas possam jogar algumas vezes com as equipas do Sporting. Os treinadores que as acompanharão terão, eventualmente, algumas conversas ou formações, mais ou menos informais, que potenciarão o desenvolvimento do futebol feminino no clube. Para o Sporting, acredito que possa construir uma boa base de dados para trabalhar no seu futuro; para nós, é excelente, porque nos permitirá sermos todos os dias melhores nesta área.

 

A celebração do protocolo foi consensual no clube quer para si, enquanto coordenador do futebol feminino, quer para os dirigentes?

Claro. É um processo que nos interessa bastante. Neste momento somos o único clube com uma estrutura bem delineada no futebol feminino. A nossa equipa de benjamins C está a competir no campeonato distrital de Beja, as nossas sub/17 competem no regional de Setúbal e as sub/19 competirão na Taça Nacional sub/19, em futebol de 11. Portanto, temos todo o interesse em poder ajudar as nossas atletas a encontrarem um trampolim que as possa projetar para outros degraus, tal como já aconteceu, no passado, com Lara Filipe, que está agora no Sporting Clube de Braga. E o Sporting conseguirá, eventualmente, captar atletas que demonstram muita qualidade, portanto, será benéfico, quer para o Desportivo, como para o Sporting.

 

Qual é o universo e o foco do Desportivo de Beja nesta área?

Temos atualmente cerca de 50 atletas. Todos os dias vão chegando novas, apesar de existirem ainda algumas crenças à volta do futebol feminino. Mas estamos a dar os passos certos, com a ideia de chegarmos a um patamar que é a possível criação de uma equipa sénior de futebol feminino, e esta parceria com o Sporting ajudará, na medida em que acrescentará qualidade ao nosso trabalho.

 

O André, que está no terreno, ainda sente a existência de preconceitos que impedem que as meninas possam vir jogar futebol?

Sim, ainda existem esses preconceitos. Já não são tão acentuados mas, por vezes, ainda se notam. Mas como temos conseguido mostrar aquilo que fazemos e a qualidade do nosso trabalho nesta área, esses medos têm sido atenuados. Lembro que temos miúdas de Moura, de Amareleja, de Aldeia dos Fernandes, de Serpa, de Aljustrel, de Almodôvar e de Castro Verde. Começámos a chegar a muitos sítios do distrito, mas queremos ainda mais atletas que tragam qualidade para os treinos, embora sintamos que, por vezes, ainda se notam alguns preconceitos. A verdade é que o futebol feminino já tem grande aceitação. Por outro lado, a visibilidade que, hoje em dia, tem a Liga BPI também permitiu uma abertura maior.

 

O distrito tem atletas que se notabilizaram ou internacionalizaram, entre outras, Jéssica Silva, Ana Capeta, Lara Filipe, Joana Lucas, e, em passado mais remoto, Vera Costa, Carolina Silva, Ana Rita Nascimento, Ana Rita Batista. São exemplos…

O expoente máximo do nosso clube é a Lara Filipe, uma jogadora que saiu, recentemente, da nossa formação e que, atualmente, está no Sporting Clube de Braga. Depois, também os valores que ela própria transmite. Quem a conhece sabe que é uma miúda simples, dedicada, humilde e líder, e isso permite-nos que ela seja um exemplo para as nossas jogadoras mais novas.

 

Já identificou talentos que possam, um destes dias, rumar à Academia do Sporting, em Alcochete?

Os talentos estão todos identificados. Todas as nossas atletas são talentosas. No dia 1 de dezembro deslocaremos a equipa mais nova a Lisboa para realizarmos um jogo treino com o Sporting e o processo caminhará um pouco por aí. Certamente que os técnicos do Sporting também já terão identificado algumas das nossas jogadoras. Vamos ver…

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