As Jornadas de Educação de Beja juntaram, no quinto e último painel do seu programa, dois antigos atletas olímpicos: o consagrado e muito titulado fundista alentejano Paulo Guerra e o nadador recordista Nuno Laurentino, num debate que foi moderado pelo treinador Acácio Santos.
Texto e Foto | Firmino Paixão
“Uma reflexão para promoção e partilha das boas práticas educativas, afirmando-se como um espaço de diálogo entre profissionais de educação e especialistas da comunidade educativa, com o objetivo de fomentar a cooperação e a motivação nas escolas”, foi este o propósito da Câmara Municipal de Beja na construção de um programa bastante rico, sugestivo e diversificado, ancorado a três pilares: “Incluir, associar e aprender”.
Ao longo dos dois dias de debate, sempre com sala cheia, temas como a capacitação parental, a superação e o sucesso, a mediação intercultural e a inovação social, cruzaram-se com os caminhos da atividade física, num conceito, simples, de que a brincar também se atingem metas. Foi, aliás, o mote para o painel que reuniu o barranquenho Paulo Guerra, atleta olímpico (Atlanta/96) com um rico palmarés, nomeadamente, seis títulos de campeão europeu de corta-mato e cinco vezes vice-campeão e quatro medalhas de bronze em mundiais da especialidade, com o nadador Nuno Laurentino, também olímpico (Atlanta/96 e Sydney/2000), num espaço de debate moderado pelo professor de educação física e treinador de futebol Acácio Santos.
Paulo Guerra deu-se a conhecer aos jovens da plateia com um vídeo que mostrou as suas grandes conquistas e, a propósito da temática “A brincar para chegar à meta”, afirmou: “No início é realmente uma brincadeira. Depois, conforme vamos evoluindo, acabamos por pensar que poderemos concretizar o sonho e chegar à alta competição e, uma vez aí chegados, porque não haveremos de ser dos melhores da Europa ou, então, dos melhores do mundo?”. Porém, concordou: “Tudo isto só acontece com o pressuposto de gostarmos muito daquilo que fazemos, de termos um enorme espírito de sacrifício e de nunca sairmos daquela linha até ao objetivo. Porque as solicitações, ao lado dessa linha, são sempre muitas e muitas vezes perdemo-nos. Mas, se queremos muito uma coisa temos de seguir passo a passo, degrau a degrau, caminhar por esse percurso na procura e na obtenção desse objetivo. Acredito que todos nós conseguiremos. Cada um no seu mundo”, vaticinou o antigo atleta, confessando que o convite do município de Beja de algum modo o surpreendeu. “Surpreendemo-nos sempre quando somos reconhecidos na nossa região e, muitas vezes, houve longos períodos de não reconhecimento e de ausência de contactos, por isso, sempre que venho aqui ao nosso recanto mais belo deste mundo sinto sempre uma enorme nostalgia, porque em cada lugar que entro tenho sempre uma boa recordação”. Amar aquilo que nos propomos atingir e sentir que a vida é feita de batalhas até se ganhar uma guerra foram outros conceitos que Paulo Guerra partilhou com os jovens alunos, técnicos, docentes, dirigentes desportivos e outros agentes da comunidade educativa.
Nuno Laurentino foi nadador quase por “imposição” dos pais. “O meu gosto pelo meio aquático era manifesto e os meus pais, de forma a terem, eles próprios, uma segurança adicional, iniciaram-me na natação. Depois, o meu gosto e, digamos, as minhas características físicas, fizeram o resto, mas também a motivação e a ambição de querer ter resultados foram preponderantes para tudo aquilo que fiz e para o modo como construi o meu percurso no desporto”. O antigo atleta reconheceu: “Foi ótimo poder partilhar a minha experiência com todos estes jovens, poder regressar às memórias da década de 80, partilhando aquilo que eu considero que é uma mais-valia para as opções que todos eles queiram ter perante o desporto: primeiro, serem ativos, depois, algum dia, escolherem uma modalidade de que gostem”.
Exemplos de sucesso, partilha de vivências, conselhos, ideias motivadoras na escolha dos percursos. Conversas moderadas por outro campeão. Acácio Santos, um homem da casa, foi exemplo de inconformismo, especializou-se em futebol (treinou em muitos lugares do mundo) e em comunicação (foi comentador na “Sport TV”) e regressou, neste dia, à sua terra natal.
“Foi com muito orgulho que aqui estive”, admitiu. E continuou: “Tenho memórias muito fortes de estar em casa a ver o Paulo Guerra a conquistar aquela medalhas ou o Nuno com as suas participações nos campeonatos do mundo, portanto, estou muito grato ao município de Beja por me ter dado a possibilidade de estar perto destes dois grandes campeões”. Lembrou ainda: “Nasci em Beja. Sou bejense, isto faz parte de mim. Quando vi a sala cheia de jovens e de professores fiquei emocionado”.
Acácio Santos lembrou a localização geográfica da sua cidade, dizendo sentir: “Estamos no interior do País e, por vezes, sentimos uma dimensão de pequenez que não deve ser real. Não! Não deve ser essa a sensação que devemos sentir, porque somos muito grandes. Beja é uma cidade muito bonita, com imensos encantos, e a pessoas que cá vivem, que a sustentam e que a fazem crescer, têm de ser elogiadas. Temos de abandonar essa sensação de pequenez”.
Questionando os jovens presentes sobre a dimensão dos sonhos de cada um, Acácio Santos recordou: “Já trabalhei em muitos sítios do mundo, mas quando saí da faculdade vim para Beja. Abri aqui a minha escola de futebol e tive liberdade pedagógica total por parte do Benfica. Quis mostrar que é possível formar jovens, para além de estarem associados ao futebol. Trouxe a minha equipa e conseguimos pôr essas ideias em prática. Já agora, partilho um livro que todos podem ler, cujo autor é Viktor Frankl, um psiquiatra que viveu o holocausto bem de perto. Esteve num campo de refugiados e criou uma corrente que é a ‘Logoterapia’, teoria que se baseia naquilo que é a realidade. Se as pessoas quiserem concretizar os seus sonhos, o primeiro passo é verem a realidade, a forma de trabalhar para a poderem mudar, para que possam dar os seus pequenos passos na direção de atingirem os seus sonhos”.