Diário do Alentejo

“Guerreiros do Mira” anseiam pela construção de um novo campo de jogos

22 de setembro 2024 - 08:00
Um farol de humanismo
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

Tempos houve em que de Vila Nova de Milfontes, ponto de encontro do rio Mira com o Atlântico, se dizia ser a terra das três mentiras. Porque era uma aldeia e não uma vila, porque era velha e não nova e porque não tinha assim tantos fontanários que chegassem ao milhar. Bom, mas isso eram as lendas…

 

Texto e Foto Firmino Paixão

 

Na verdade, e isto é real, nada tem a ver com falácias de mentes criativas, o Clube Desportivo Praia de Milfontes continua o seu processo de crescimento e de valorização, não obstante permanecer condicionado pelas dimensões do seu palco de jogos, que impedem a homologação para que ali se disputem provas nacionais. Mas não impede o clube de ter a sua dimensão social, uma notável interação com o meio, com as gentes da terra. Uma expressão de humanismo que é, simplesmente, um exemplo.

Vila Nova de Milfontes, tal como a conhecemos, acordou na manhã de 26 de junho último com a notícia de uma explosão numa moradia que vitimou quase por completo uma família. Um casal e uma filha (10 anos) morreram na sequência do acidente. Sobreviveu, após prolongado tratamento, um menino (15 anos), canoísta (como a irmã) do Clube Náutico do Litoral Alentejano, Francisco Santos. O Francisquinho para a comunidade solidária de Vila Nova de Milfontes de que o Praia é o farol.

Rui Candeias, vice-presidente do Clube Desportivo Praia de Milfontes, assumiu: “Não podíamos ficar indiferentes a tamanha tragédia. O nosso clube não é só futebol. O Praia é da comunidade e é para a comunidade. Trabalhamos em prol das pessoas. Somos sensíveis a tudo isso”. O dirigente lembrou que era uma família muito querida em Milfontes: “Pessoas que se davam bem com toda a gente. Estou surpreendido com o Francisquinho (na foto com o dirigente), tem reagido muito bem. Não esperava! Acompanha os treinos da equipa, está sempre perto dos jogadores, come connosco, fica satisfeitíssimo”.

Num destes domingos, aquele em que a equipa foi a Odemira defrontar o Serpa para Taça de Portugal, almoçou com o plantel. “Pediu uma carne de porco à alentejana que saboreou com imenso apetite”, contou Rui Candeias, pormenorizando: “O Francisquinho gosta de futebol, mas preferiu a canoagem, ainda assim, se ele quiser jogar, as portas estão absolutamente abertas. Não pagará nada, tal como acontece com imensas crianças que temos aqui, cujas famílias não têm condições financeiras para pagar uma mensalidade e que nós isentamos. Não deixamos ninguém para trás!”.

Rui Candeias é, atualmente, a figura mais próxima da equipa que, na última época, conquistou a Supertaça do distrito de Beja. Apontado como próximo presidente do clube, o empresário nega, para já, essa intenção. “Espero que Fernando Cabecinha esteja connosco por muitos mais anos e como presidente do clube. Quero continuar neste lugar de vice-presidente. Na verdade, sou o rosto que está mais visível e que está mais perto da estrutura desportiva, mas o Fernando está na presidência há 34 anos e deve continuar, porque tem feito um excelente trabalho. Basta recordar o que era o Milfontes há 34 anos e o que é hoje. O Fernando equilibra muito as coisas e faz muita falta neste clube”. Crescimento e qualificação são as prioridades do clube, assegurou o dirigente. “Queremos continuar a crescer. Queremos continuar com este processo de valorização do clube, mas teremos de ver concretizado esse sonho que é a construção de um novo campo de futebol. Temos a promessa de um novo complexo desportivo desde há, pelo menos, 10 anos. Quando isso for concretizado apostaremos na promoção ao Campeonato de Portugal, porque para jogarmos em provas nacionais, seja nos escalões de formação, seja com os seniores, como se viu recentemente na primeira eliminatória da Taça de Portugal, temos de o fazer em Odemira”.

Rui Candeias garante a existência (e mostrou a maquete) de um projeto que, assegurou, será um complexo digno de Milfontes e do concelho de Odemira, uma infraestrutura capaz de receber estágios de equipas estrangeiras: “Espero que o Praia de Milfontes, dentro de cinco ou seis anos, seja uma grande referência no distrito de Beja”. Um novo complexo desportivo, na estrada do Portinho do Canal, a cerca de 500 metros do atual, uma distância razoável para que as pessoas se desloquem e continuem a apoiar a equipa. A obra está prometida, mas, “o fumo branco tarda em aparecer”, notou Rui Candeias.

Na vertente desportiva, a ideia é manter todos os escalões de formação, ainda que, por exemplo, com um número muito elevado no escalão de petizes tivesse sido necessário fazer um protocolo com o Colégio de Nossa Senhora da Graça para utilização de um campo que ali possuem. “Mas, sim, manteremos todos os escalões de formação. No passado tivemos equipas no nacional, mas depois temos de jogar em Odemira e isso não é o que pretendemos. Temos gerações muito boas, mas sempre condicionados pela falta de homologação do campo para as provas nacionais. Quando tivermos o nosso novo campo pensaremos nisso, gostaríamos de fazer também a festa da Taça de Portugal na nossa terra, no nosso campo, em conjunto com os nossos associados”. De resto, avançou: “As pessoas de Milfontes estão agradadas e reconhecidas pelo trabalho que temos feito, dizem até que o Praia ganhou uma nova vida. Na época passada, por exemplo, publicámos nas redes sociais um pedido de voluntários para pintarmos os muros do campo e apareceram 30 pessoas para o fazer. O município ofereceu-nos a tinta e, num dia, pintámos tudo. Foi excelente! Temos o carinho dos nossos sócios”. O foco, neste ano, garante Rui Candeias, “é uma classificação entre os cinco primeiros”. “Estamos muito agradados com a equipa, mas não queremos subir de divisão”.

Comentários