O futebol na Mina de São Domingos pode ganhar um novo élan. O mítico Campo de Jogos Cross Brown ganhou uma nova cor. O areão acastanhado de outrora, em cujo subsolo os mineiros esventravam a terra na procura de cobre, ouro e prata, tem agora um verde esperançoso.
Texto e Foto | Firmino Paixão
O futuro arrelvamento do mítico Campo de Jogos Cross Brown, inaugurado em 1952, na Mina de São Domingos, era uma ideia que andava no ar naquela tarde de 15 de agosto de 2022, quando o São Domingos Futebol Clube celebrou o seu centenário. Falava-se em surdina, mas a premonição tinha força. Tanta força que, passados dois anos, agora no dia 15 de agosto, a requalificação e o arrelvamento do espaço se tornaram realidade. No exato dia em que o clube comemorou o seu 102.º aniversário. Que rica prenda!
Sob o lema “As raízes no passado e os olhos no futuro”, o município de Mértola lançou mãos à obra, orçada em mais de 362 mil euros, mais alguns trabalhos complementares que fizeram subir o investimento para cerca de 400 mil euros. O verde é agora a cor dominante deste palco desportivo. Um verde de esperança que preconiza um melhor futuro para o clube local, sobretudo, uma maior capacidade de mobilização da juventude e a criação de melhores dinâmicas na promoção da atividade física da comunidade local, sendo ainda um reforço à atratividade e singularidade da Mina de São Domingos enquanto polo turístico de excelência. Mário Tomé, presidente do município de Mértola, garantiu: “A requalificação do Cross Brown, em termos de infraestrutura de proximidade, é muito mais, e esta é a verdade, do que uma só resposta àquilo que são as exigências atuais”. E justificou: “Fizemos algo que tem uma componente estratégica para o município, mas tem associado também aquilo que é a necessidade de nos aproximarmos das exigências atuais das entidades desportivas, neste caso, a Secretaria de Estado do Desporto, ou associações de clubes, como a Federação Portuguesa de Futebol e a Associação de Futebol de Beja, que obrigam, e bem, que canalizam, e bem, cada vez mais os clubes, via municípios, porque os clubes não têm essa capacidade, de dotar as suas infraestruturas das melhores condições para a prática desportiva”.
“Roma e Pavia não se fizeram num só dia”, tudo a seu tempo, foi a mensagem política que Mário Tomé deixou no ar, recordando: “O concelho tem 1300 quilómetros quadrados de área, tem 108 localidades habitáveis, o orçamento tem, naturalmente, as suas limitações, e é difícil executar tudo em todo o lado ao mesmo tempo. É preciso ter coragem política, também, para investir, num campo de futebol, valores muito próximos dos 400 mil euros, porque foi isso que foi feito”. O autarca fez notar: “É verdade que dá resposta ao clube, do ponto de vista de uma infraestrutura que necessita para competir e manter-se vivo”. Mas, adiantou: “É um investimento necessário para enquadrar dentro de uma estratégia que temos para o concelho, do ponto de vista turístico e, naturalmente, para a Mina de São Domingos em particular, com o potencial que tem”. Este equipamento, reforçou, “pode ser muito mais do que só uma componente desportiva da equipa sénior e, eventualmente, e espero, também a seguir, para os escalões de formação ou futebol feminino do São Domingos”.
Pode ser, e tudo será feito para que aconteça “uma infraestrutura que ajude a dinamizar a Mina de São Domingos. Como? Organizando um conjunto de eventos de cariz lúdico ou recreativo, que se possam tornar atractivos, para que as pessoas se desloquem e estejam aqui envolvidas”, referiu. A Mina de São Domingos, insistiu Mário Tomé, “já tem essa capacidade de atratividade para o turismo, que é única e que ninguém nos pode tirar. Associado a isso, uma estratégia que vá dotando o concelho, na sua globalidade, de estruturas que possam servir a esse nível, naturalmente, que nos dará uma dimensão diferente”.
Veio depois a revelação de que será possível a organização de um torneio internacional por altura da Páscoa, aproveitando o potencial de contactos com a diáspora que o concelho tem espalhado pelo mundo inteiro e, num segundo momento, no verão, um segundo torneio de futebol de formação.A ouvir a intervenção do autarca esteve o secretário de Estado do Desporto, Pedro Dias, que antes também já usara da palavra para assumir que “os indicadores em termos de prática desportiva da população portuguesa são péssimos, e é desta forma [que devemos atuar], em parceria, todos alinhados com o objetivo de proporcionar condições para que as nossas crianças e os adultos, naturalmente, tenham mais oportunidades para praticarem desporto”. Pedro Dias sublinhou que o desenvolvimento desportivo se promove através de uma célula de três pilares: “Os clubes, que são a base, as autarquias, um elemento fundamental, e as famílias dos jovens praticantes”.
O programa da inauguração do piso relvado e celebração de mais um aniversário do clube incluiu uma partida de futebol entre o São Domingos e Santaclarense (que, nesse mesmo dia, celebrou 104 anos de existência), dirigido, imagine-se, pelo árbitro Nuno Almeida (da 1.ª divisão do campeonato nacional de futebol), e um torneio entre equipas de veteranos do Aljustrelense, Farense e São Domingos. O presidente da Junta de Freguesia de Corte do Pinto, Ricardo Godinho, o líder da assembleia-geral do clube, Manuel Gonçalves, e o presidente da Associação de Futebol de Beja, Pedro Xavier, estiveram entre os convidados.