Diário do Alentejo

“O Moura precisa de todos”

03 de agosto 2024 - 08:00
Moura Atlético Clube lutará pela manutenção e consolidação no Campeonato de Portugal
Foto| Firmino PaixãoFoto| Firmino Paixão

O Moura Atlético Clube, que esteve três épocas afastado dos palcos desportivos nacionais, já prepara o seu regresso ao Campeonato de Portugal, época 2024/2025. Não com o plantel desejado, mas com uma equipa que obedecerá aos requisitos impostos pelo regulamento da prova.

 

Texto e Fotos | Firmino Paixão

 

“Estou confiante no futuro”, garantiu o empresário Luís Jacob, presidente do Moura Atlético Clube, salvaguardando, contudo: “Temos de perceber como é que as coisas vão correr, depois daqueles tempos de pandemia e após três anos com o clube afastado dos nacionais. Temos, rapidamente, de perceber o que mudou, para tentarmos colocar o Moura naquele caminho a que todos estávamos habituados, com grandes campeonatos e boas classificações – em 2016 fomos à fase de subida para a 2.ª Liga com grande mérito – e boas prestações na Taça de Portugal. São coisas que ficam. Mas fá-lo-emos com muita humildade, muito sacrifício e muita vontade de trabalhar”. E sublinhou: “O projeto é de crescimento e valorização, não só de jogadores, mas de treinadores e do próprio clube. É por aí que vamos”.

 

O Moura foi campeão distrital, na última época, com uma equipa de qualidade acima da média. Neste ano a exigência será maior…Não esperava que fosse tão difícil formar um plantel para este Campeonato de Portugal. Tive-mos que nos adaptar às regras que permitem apenas seis estrangeiros e aumenta de 12 para 14 os atletas formados localmente. Essas regras fazem com que os jogadores estrangeiros que são de qualidade não possam ficar aqui. Na época passada tínhamos 12 e podíamos jogar com 10. Os estrangeiros trazem alguma qualidade e, neste momento, estamos limitados a seis. Portanto, será subjetivo fazermos, ou não, uma equipa com valor semelhante ou superior à do ano passado. Eu próprio estou expectante, porque tive de mudar um bocado a estratégia. Essa regra valorizou muito os jogadores formados localmente e inflacionou os valores que eles pedem, porque sabem que são essenciais.

 

Prescindiu de alguns jogadores estrangeiros?Custou-me muito ter de dispensar alguns atletas. Para quem deu tudo pelo clube, durante toda uma época, e note que fizemos uma época fantástica. Custou-me ter de prescindir de alguns jogadores e tive de procurar outros. Tive de ir à procura de jogadores com formação em bons clubes, que fossem novos e ambiciosos, e apostar forte em quatro ou cinco jogadores com essas características. Já tinha feito isso quando cheguei ao Moura para o meu primeiro mandato e agora voltei um bocadinho a esse método. Vamos ver se acertamos. É provável, porque eles têm formação com qualidade.

 

O impacto financeiro será necessariamente mais elevado?Existe uma distância muito grande entre um campeonato distrital e um campeonato nacional. Quando se formou, o Campeonato de Portugal trouxe tudo com ele, incluindo as despesas. O valor das inscrições e das taxas de jogo duplicam, só que se aumente um bocadinho em cada jogador, o encargo com o plantel sobe consideravelmente, portanto, de uma forma natural, os valores sobem logo alguns milhares. Temos de procurar recursos para minimizar estes encargos. Gosto muito de organização, nunca trocarei qualquer sucesso desportivo pela estabilidade do clube. O Moura Atlético Clube é o mais importante, esteja numa divisão acima ou numa divisão abaixo. O clube, a sua estabilidade, a sua tradição e o seu futuro são o mais importante para todos nós.

 

Serão necessários mais e melhores apoios…Tenho-me reunido com os nossos parceiros, tentando compensar esse crescimento natural de despesas. Tenho tentado muitas situações, umas que não resultaram, outras que se concretizarão, é preciso esperar um bocadinho e, depois, o segredo é a alma do negócio. Nos últimos dois meses só tenho vivido o Moura, é uma paixão que tenho, não sou capaz de explicar isto. Saí quando estava cansado, voltei ainda um pouco cansado, mas não é fácil. O Moura é um clube que precisa de todos, é uma instituição que ajuda os nossos jovens a terem uma prática desportiva, a fazê-los sonhar em serem jogadores. Estamos no interior, a maior parte dos miúdos chega a uma altura e vai para a universidade, e as pessoas terão de perceber isso. Não há ninguém que gostasse mais do que eu de ter uma equipa com jogadores da terra. Mas cada vez há menos. É uma realidade que temos de aceitar e encontrar outras soluções, procurando quem queira vestir a nossa camisola e aceite os valores que temos para lhes dar, motivando-os e fazendo também com que as pessoas da terra nos ajudem, nos apoiem nas vitórias e nas derrotas.

 

O clube manterá uma aposta determinada nos escalões de formação? É esse o elo com a massa associativa?A formação neste clube é, e será sempre, uma grande aposta. O problema é que os jovens, quando chegam aos 17 anos, vão todos para fora. Moura não tem universidades. As pessoas terão de perceber que é muito difícil fazermos chegar miúdos vindos da formação à equipa sénior. Mas é importante termos uma formação mais ou menos bem organizada, digo mais ou menos, porque nem sempre conseguimos fazer o melhor, é sempre difícil. Estamos a trabalhar nesse sentido, nomeadamente, com a colaboração de João Portela, que tem essa vocação e experiência, juntamente com o coordenador dessa área, Carlos Ventura. Acho que esse trabalho dará frutos no próximo ano. Mas sabemos como é: se o miúdo joga, está tudo bem, se não jogar, está tudo mal…

 

Que objetivos traçaram para a equipa sénior?No mínimo, que consigamos a manutenção. Será importante para quem, no ano passado, fez um esforço tão grande para voltarmos aos nacionais. Foi tudo tão bonito… Agora é tentarmos manter-nos lá e consolidarmos a estrutura, porque os anos de campeonato nacional dão-nos alguma base de sustentabilidade. Não só na equipa, mas em termos de organização, e isso acaba por passar para dentro do campo. Costumo dizer que a organização dá e a desorganização tira. Repare que, neste período em que andei a contratar jovens com formação, muitos não conheciam o Moura Atlético Clube, porque, nos últimos três anos, não estivemos nos campeonatos nacionais. Daí a importância de recolocar o clube nesse patamar, onde passámos um período de 12 anos, para que o clube seja conhecido em termos nacionais. Somos um bom clube no Alentejo e é importante estarmos a este nível.

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