Viver o basquetebol enquanto modalidade desportiva, mas também atividade lúdica. Que os meninos e meninas sintam prazer e alegria quando o praticam, ao mesmo tempo que desenvolvem uma atividade física saudável e se potencia a dinâmica de uma modalidade. Tão simples, o segredo do crescimento e da valorização do Beja Basket Clube.
Texto Firmino Paixão
Uma celebração natalícia entre a comunidade mais jovem do Beja Basket Clube, os atletas do baby basket e do mini basket, que juntou no último sábado, 14, no Pavilhão Municipal de Desportos João Serra Magalhães, na cidade de Beja, meninos e meninas do clube anfitrião e convidados vindos de Évora e de Elvas. Um momento de solidariedade para com a Casa Pia de Beja e as associações Cantinho do Animais e Bigodes de Rua. João Margalha presidente do Beja Basket Clube, revelou ao “Diário do Alentejo”: “Estamos a celebrar um Natal solidário, com alguns amigos que convidámos para isto. Estão aqui equipas dos Salesianos e equipas do Elvas. Vamos fazer uma jornada de mini basket que, neste ano, tem sido a grande aposta do nosso clube. Queremos crescer muito no mini basket. Queremos crescer na base e queremos o número máximo de meninas e meninos a praticar, porque achamos que essa será a nossa grande aposta para o futuro na modalidade”.
Os meninos e meninas a quem dirigiram esta celebração serão, porventura, aqueles para quem a quadra natalícia terá maior significado…
Sim. Nós, no mini basket, temos já um número muito interessante de atletas. Temos mais de 60, com miúdos desde os quatro até aos 11 anos. Com as nossas miúdas de mini 12 estamos a disputar o Campeonato Regional do Algarve porque, infelizmente, aqui no Alentejo não temos equipas para fazermos o nosso próprio campeonato regional bem estruturado. E nós fazemos este esforço de levar as miúdas a disputarem outros campeonatos, até para poderem conhecer outras realidades e poderem evoluir. Tem sido um sucesso. Temos um grupo técnico bastante interessante a treinar no mini basket. Neste momento estamos com cinco técnicos a trabalhar nesta área.
Qual é o segredo deste crescimento?
São dois pontos que assinalo como fundamentais: conhecimento e profissionalização. Primeiro, a profissionalização do treino. Posso dizer que, neste momento, todos os nossos treinadores já são licenciados em Desporto e dois deles são profissionais a tempo inteiro no clube. Isso faz toda a diferença. Gosto muito dos ‘carolas’, têm o seu lugar – ‘carola’ sou eu –, agora, quem sabe é que tem de trabalhar e, cada vez mais, temos de perceber isso. É com qualidade e com intensidade no treino que se conseguem resultados. Temos apostado nisso e continuaremos por esse caminho. Os nossos escalões de formação sub/14, sub/16 e sub/18 treinam cinco vezes por semana e, para além disso, têm um treino adicional de preparação física específica, onde são fixadas metas aos atletas e é feita uma observação criteriosa.
A montante desse trabalho terá de existir outro, que é tornar a modalidade atrativa para as crianças?
Costumo dizer que quem vem para o basquetebol tem de se divertir. O mini basket tem de ser uma coisa também muito lúdica. As crianças têm de gostar e têm de se divertir quando praticam basquetebol. Não pode ser uma coisa monocromática que não gere apetência. As crianças terão de gostar, terão de sentir prazer a praticar e é por aí que nós temos ido, associando ao basquetebol esse aspecto lúdico que é fundamental. E é essa componente lúdica que nos tem trazido os atletas, porque se cada um deles se sentir feliz irá trazer mais um ou dois amigos. Mas primeiro terá de sentir felicidade naquilo que faz. Se não sentirem esse apelo pela modalidade e essa felicidade pelo clube não permanecem cá. Outra questão é levarmos a prática desportiva aos miúdos que nunca tiveram qualquer prática, nem têm ambientes familiares favoráveis para que isso suceda. Nós não podemos limitar as modalidades ao facto de o pai ter sido atleta desta ou de outra modalidade e o miúdo também ter de o ser. Não é por aí que transformaremos o País. Fomentar e desenvolver a prática desportiva é colocar toda a gente a praticar.
Um trabalho também de inclusão?
Exatamente. Lembro-me de ter estado, há algum tempo, na Eslovénia e com a pessoa que me recebeu, que era um antigo praticante de basquetebol, trocámos algumas impressões. Interrogava-me como é que aquele país, com uma população tão baixa, consegue resultados tão interessantes. Como é que o consegue? Com uma elevada dinâmica da prática desportiva para todas as pessoas e com a escola a dar espaço a que as pessoas tenham prática desportiva, e isso tem sido fundamental. A nossa escola não pode ser uma sucessão de aulas e explicações até à meia-noite. As crianças têm de crescer em todos os pontos de vista, que é a chamada inteligência emocional. Se as crianças não tiverem, na sua envolvência pessoal, todas essas experiências, não conseguem ser cidadãos resilientes e bem formados. Não podem ter só essa história da componente académica, têm de ter a componente desportiva, a componente da interação social com os outros. A componente de saber estar numa equipa, seja de que modalidade for. O importante é perceber que é o trabalho em equipa, no desporto, como na vida, que nos traz os resultados. Prezamos muito que os nossos atletas, futuramente, sejam melhores cidadãos, porque é isso que o País precisa.