Diário do Alentejo

“O que me faz feliz”

28 de julho 2024 - 08:00
Beatriz Fernandes, 15 anos, tem o sonho de ser futebolista profissional
Foto| Firmino PaixãoFoto| Firmino Paixão

“A minha paixão é o futebol, é a modalidade que sempre me fez sentir ser eu própria. Quando estou a jogar futebol, sinto que estou a fazer aquilo que me torna mais feliz. Andei na natação e no karaté, mas fiz a minha escolha e dediquei-me só ao futebol. É a modalidade de que mais gosto”.

Texto e Foto Firmino Paixão

Beatriz Fernandes nasceu em fevereiro de 2009. Natural de Vila Nova de São Bento (Serpa) não esconde aquele orgulho em “#seraldeana”. Joga futebol federado desde a época 2016/17, tendo começado a sua carreira pelo Clube Atlético Aldenovense, transitando, mais adiante, para o Futebol Clube de Serpa, até, há duas épocas atrás, ter chegado ao Clube Desportivo de Beja. “Sou estudante, tive sempre uma infância com muitas emoções. Comecei a jogar futebol muito pequenina e daí, também, a minha felicidade. Sempre gostei muito de desporto”, acentuou.

Beatriz é uma jovem que respira desporto, uma menina em que a paixão se mistura com ambição e sonhos largos. “O meu sonho passa por crescer ainda mais e ingressar numa equipa profissional. Não é que o Desportivo de Beja não seja um clube grande, e do qual gosto imenso, mas será legítimo o desejo de ambicionar um voo mais largo, para mostrar a mim própria que sou capaz de mais e melhor. Seria ótimo! Queria fazer vida disto. Acho que todas as meninas que jogam futebol por paixão, todas terão o sonho de jogar numa equipa profissional, seja em Portugal ou no estrangeiro, e um dia, quem sabe, passar por essa experiência incrível de representar a seleção nacional”.

Uma jogadora que enche o meio campo, com bom passe e melhor remate. Tornou-se admiradora de jogadoras como “Kika” Nazareth e Andreia Norton. Vejamos, agora, como tudo começou: “Jogava futebol na escola ou no parque. Fazíamos as balizas com pedras. Eram pequenos convívios em que eu era a única menina. Aos sete anos comecei a jogar no Aldenovense. Em pequenina ia com a minha mãe ver os treinos do meu irmão, corria para o meio do campo e os jogadores achavam-me piada. Foi assim que comecei a dar os meus toquezinhos na bola”. O inspirador foi, afinal, o irmão, Guilherme Fernandes, atual jogador do Sambrasense. Como a vida não para, a ambição era crescente. “Saí do Aldenovense e fui jogar no Futebol Clube de Serpa, onde permaneci um ano. Sempre me trataram muito bem. Os treinadores foram exemplares comigo, os jogadores também, nunca me senti à parte. Ajudaram-me imenso a evoluir, depois decidi que queria jogar numa equipa feminina onde me sentisse mais integrada. Não é que não o tenha sentido no Aldenovense e no Serpa, mas queria jogar com outras meninas com quem partilhasse as mesmas ideias sobre o futebol. Queria ser mais eu. Queria estar mais confortável”. Sentia que, por ser mulher, subestimavam o seu valor? Era isso? “Não! Que me lembre, nunca passei por isso, senti que gostavam de mim e que me apreciavam como atleta, mas, sim, tenho amigas que passaram por alguns clubes em que eram subestimadas. Comigo nunca aconteceu”. Contudo, quando procurou uma equipa feminina surgiu o Desportivo de Beja: “Sim. Adoro estar no Desportivo de Beja. Acho que foi lá que dei o salto maior, que evoluí e me destaquei mais. Se calhar, pela competitividade do campeonato onde estávamos, no escalão sub/19, mas também pela qualidade da equipa, que também se tornou uma família. Sempre que ia para Beja, sentia que ia estar com as pessoas de quem gostava. Os diretores e os misters sempre tiveram um grande carinho por todas as atletas”.

A exigência passou, evidentemente, a ser maior, mas a oportunidade de maior crescimento também foi notória. “Acho que sim, porque jogava com meninas mais velhas do que eu, com outro ritmo competitivo e num campo mais dimensionado, por isso é que eu digo que foi nessa altura que dei o pulo, porque existia uma exigência maior, tive de dar mais de mim, até por causa da escola, pois tive de conciliar as duas coisas. Trabalhei muito, mas senti-me recompensada por isso”. Ora bem, e a maior recompensa foi a chamada às seleções, tendo mesmo sido a capitã da equipa sub/14? “Comecei pela seleção sub/14. Falo muito dentro do campo, estou sempre a motivar e a estimular as outras jogadoras e acho que isso revelava já alguma maturidade. Recebi a braçadeira e senti um orgulho enorme. Na última época já representei a seleção distrital sub/16”.

Na próxima época manter-se-á na cidade de Beja e até prometeu: “Espero dar mais de mim, espero que consigamos melhores resultados, que ganhemos mais jogos, para atingirmos a segunda fase e procurarmos o título, sempre honrando a camisola do Desportivo de Beja. Tento sempre dar o melhor de mim. Quando preciso, eu consigo”.

A vida desta jovem futebolista faz-se entre a terra natal, a escola, em Serpa, e o futebol, em Beja, uma exigência suprema, por isso, deixou o tributo: “Tenho de agradecer aos meus pais por estarem sempre ao meu lado e por me ajudarem muito a vivenciar esta paixão que tenho pelo futebol. Levam-me aos treinos e aos jogos, apoiam-me incondicionalmente. Pela seleção já fui a Vila Real e a Bragança e os meus pais sempre foram atrás, para me apoiarem e darem motivação. Se calhar, sentem uma paixão por me verem feliz e a fazer aquilo de que gosto, de me verem crescer como jogadora e como pessoa”. Porém, o futebol nem sempre põe o pão na mesa, é preciso acautelar o futuro, e a jovem sabe-o bem. “Vou iniciar o próximo ano académico em Serpa, na área de Ciências, porque, se não conseguir cumprir o meu sonho de jogadora profissional, quero enveredar por uma área que tenha a ver com pessoas e com desporto, eventualmente, fisioterapia.

Seria uma boa opção. O que quer que seja tem de estar associado ao desporto, de outro modo nada fará muito sentido. Mas não posso colocar o futebol à frente da escola, porque pode não dar o melhor resultado”, rematou.

Comentários