Diário do Alentejo

Columbófilos “Jorge & Gonçalo”, da SC Asas de Beja, foram os vencedores distritais da “Clássica de Barcelona 2024”

27 de julho 2024 - 08:00
Uma época notável
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

A colónia de “Jorge & Gonçalo”, filiada na Sociedade Columbófila Asas de Beja, foi a vencedora distrital da “Clássica de Barcelona”, uma prova de 887,148 quilómetros de linha de voo, com solta desde Igualada (Catalunha, Espanha).

 

Texto Firmino Paixão

 

“Eu respeito o meu adversário” foi o lema sob o qual decorreu, no dia 30 de junho último, a mítica “Clássica de Barcelona”, uma prova de longa distância, organizada pela Federação Portuguesa de Columbofilia, que, neste ano, reuniu cerca de 4000 atletas. A solta realizou-se desde Igualada, município da província de Barcelona, na Comunidade Autónoma da Catalunha, em Espanha.

O primeiro atleta, entre os columbófilos do distrito de Beja, a chegar ao pombal de origem foi uma fêmea dos columbófilos Jorge Trigacheiro e Gonçalo Bernardo, da dupla “Jorge & Gonçalo”, formada em 2012, que tem pombal na Aldeia Columbófila de Beja. “Vinha de asa. Extenuada! Pousou no chão, junto do pombal, e só quando deu pela minha presença fez um último esforço para subir ao patim e ficou registada”, explicou, orgulhoso, Gonçalo Bernardo, de 35 anos. “Foram 887,148 quilómetros de voo, distância que percorreu em 13h42’10s, uma média de 1078,037 metros por minuto”, completou Jorge Trigacheiro. A primeira, no distrito de Beja, a completar a missão, e uma entre as primeiras que chegaram a território nacional, e no próprio dia da solta, porque, a grande maioria, só chegou no dia seguinte e muitas delas nem regressaram aos seus pombais.

A prestação desta atleta deu à dupla “Jorge & Gonçalo” o título de campeões de grande fundo e vice-campeões de fundo, da Associação Columbófila do Distrito de Beja, título que somaram ao de campeões de fundo da SC Asas de Beja e a outras classificações de topo (anilha de ouro no Campeonato de Velocidade e o melhor borracho na Asas de Beja) nas diferentes disciplinas em que a colónia de 120 pombos atualmente voa. Uma campanha bem-sucedida, como concordou Jorge Trigacheiro, de 44 anos: “As campanhas anteriores também nos tinham corrido bem, mas a performance desta foi excelente, desde o início até ao final. Sentimo-nos felizes, porque foi uma época dura”. “Muito orgulhosos”, reforçou Gonçalo, lembrando: “Temos tido êxito com este projeto conjunto, depois, porque também conseguimos vencer uma colónia excecional, que é a da família Ameixa, habituais vencedores na disciplina de fundo. Foi uma excelente época”.

Uma luta ponto a ponto, assim explicou Jorge Trigacheiro, o esforço para ganhar àquela colónia com grande tradição na columbofilia distrital: “Mas tivemos alguma sorte”. Sorte? Interrogámos. Na columbofilia não existe também trabalho, dedicação e competência? “Claro. Há alguns anos que trabalhamos o acasalamento e os cruzamentos, para termos sempre os melhores atletas. A nossa especialidade mais forte é o fundo. Umas provas correm melhor do que outras, procuramos sempre melhorar, conversamos um com o outro e chegamos sempre a um acordo na forma como procederemos para obtermos o melhor rendimento”, justificou Trigacheiro. Uma colónia não muito extensa, mas muito equilibrada, como provam as boas classificações em velocidade, meio-fundo e fundo, admitiu, lembrando: “O nosso pombal pode até não estar muito bem localizado para as provas de velocidade, já no meio-fundo as médias são mais moderadas, mas, sim, em velocidade, se o pombal estivesse numa posição mais favorável, talvez tivéssemos feito um bocadinho melhor. Os pombos têm de estar saudáveis e bem fisicamente, mas quem manda muito na columbofilia é o vento. O vento é que manda nisto”.

A colónia voou três provas em grande fundo, duas desde Alcaniz (Espanha), depois, enviou 10 atletas à “Clássica de Barcelona”, onde conseguiu esse brilharete extraordinário de ter feito o primeiro lugar ao nível do distrito. Trigacheiro até não concordava com a participação na prova, mas Gonçalo insistiu na ideia de o fazerem e acordaram enviar 10 atletas. “Foi uma alegria imensa”, sentimento corroborado por Gonçalo Bernardo, contando que “a pomba deu tudo para chegar ao pombal”. “Vinha arrasada! Deu mesmo o máximo, pousou no chão, como quem diz: já fiz o meu papel. Foi uma coisa linda. Assim que deu por mim, num último esforço, subiu ao patim e eu telefonei ao Jorge, que tinha saído daqui há minutos, pensando que seria cedo para chegar algum dos nossos pombos. Dos 10 que enviámos, recebemos três, os outros ficaram pelo caminho. Foi um fim de semana muito bonito para nós. No sábado tínhamos sido campeões de fundo da Sociedade Asas de Beja, no domingo tivemos esta alegria com a ‘Clássica de Barcelona’”.

Jorge Trigacheiro regressou de imediato ao pombal, ainda a tempo de partilhar aquele momento com o sócio Gonçalo: “Viu-se bem a alegria do animal. Foi logo para o ninho juntar-se ao macho. Nós tínhamos enviado cinco machos e cinco fêmeas, só vieram duas fêmeas e um macho, é assim, provavelmente, alguns columbófilos do distrito não terão recebido nenhum dos que enviaram. A columbofilia tem disto. Sentimos grande tristeza sempre que temos perdas de aves, mas as coisas são mesmo assim. São muitos quilómetros, pelo caminho existem muitas aves predadoras e, noutras vezes, são as condições meteorológicas. Acontecem sempre estes imprevistos, para os quais temos de estar preparados”.

Preparar uma ave para um desafio tão exigente não é tarefa fácil, revelou Gonçalo Bernardo. “Temos de os alimentar bem, comida boa e algumas vitaminas, depois o exercício físico, voando duas vezes por dias, exige muito acompanhamento”. Muita dedicação diária, acrescentou Trigacheiro, vincando: “Tão ou mais importante do que a preparação é a recuperação após as provas. Nos momentos posteriores às grandes provas não têm muita vontade de comer, nem de voar, descansam e voltam lentamente às rotinas”.

Nesta altura já se olha para a próxima campanha. Objetivos? Quais? “Ganharmos tudo o que tivermos para ganhar”, responderam em uníssono, embora conscientes de que “não será fácil”. “Neste ano tivemos bons pombos para o fundo, no próximo ano poderemos não os ter”. “Depois, este é um desporto com pouca verdade. A localização dos pombais, a orientação do vento, tudo conta, não é só a qualidade dos atletas nem a forma como os preparamos”, completou Trigacheiro.

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