O Velo Clube Os Leões, histórica coletividade desportiva de Ferreira do Alentejo, organizou a décima sexta edição da Maratona de BTT Rota da Água. Uma prova de 50 quilómetros traçada entre três barragens e desenhada ao longo da sua principal veia para a irrigação dos terrenos agrícolas.
Texto Firmino Paixão
Longe da participação que conseguiu no passado, quando se dizia que “o BTT está na moda”, a prova organizada, neste ano, pelo Velo Clube Os Leões, vai dando sinais de recuperação e até, quem sabe, de reaproximação aos níveis de assiduidade que conseguiu nos seus tempos áureos. Os responsáveis pelo clube atribuem esse decréscimo à proliferação de provas. Esteve na moda, mas nunca foi barato acorrer a todas. Depois, os dois anos de pandemia cortaram, ou, pelo menos, fizeram abrandar, a vinda de gentes de outras paragens. Agora, aos poucos, vão regressando e vêm de longe, de muito longe. Rute Gonçalves veio de Quinta do Conde, no concelho de Sesimbra, aprontou a sua e-bike (bicicleta eléctrica) e ficou um pouco à conversa com Sónia Lua Carvalho, atleta do Team Escala Visual (Setúbal), formação muito forte da qual faz parte o conhecidíssimo Marco Chagas, atualmente impedido de dar o seu concurso à equipa, ocupado a comentar as peripécias – e que emocionantes peripécias – entre Pogacar e Vingegaard no Tour de France. Rute e Sónia estavam em amena cavaqueira. As provas de BTT também têm este mérito, a vertente social: criam-se amizades, trocam-se ideias e a concorrência dos trilhos fica para mais tarde. Interrompemo-las. Rute Gonçalves, com a camisola da 360.º Bike-Trail Mundimat CCA Paio Pires, revelou: “Foi a primeira vez que vim a esta prova. Vim com a minha equipa, para aproveitarmos este magnífico dia e usufruirmos das vossas paisagens”. Mas pedalar 50 quilómetros é obra, atalhámos. “A última prova antes desta foi de 75 quilómetros. Esta é bem mais curta, sempre são menos 25 quilómetros, mas não deixa de ser um esforço apreciável, só que eu estou habituada”. Veio para vencer? Olhe a concorrência, avisámos. “A concorrência não importa, estamos cá para nos divertirmos e o resto é conversa. Se me deixarem ganhar, não hesitarei, gostamos sempre de vencer. Temos de deixar o nosso nome marcado por onde passamos”. Nem mais, volte sempre Rute, que é benquista na planície.
E Sónia Lua? O que a terá trazido a esta vila que fica bem “no centro do que é importante”? “Falaram-nos na prova da Rota da Água e eu e a minha equipa resolvemos experimentar. É a primeira vez que cá estamos. Fazemos muitas provas, durante o ano, no distrito de Beja, mas esta tínhamos sempre passado ao lado, por isso, cá estamos”. Mas Rute Gonçalves já garantiu que iria vencer, avisámos: “Que importa? Estamos em campeonatos diferentes, por isso, não importa nada. Ela tem uma e-bike e eu não, podemos vencer as duas, cada uma na sua vertente. O importante é que cheguemos ao final, fisicamente bem, e que tenhamos dado o melhor de nós”. A meia centena de quilómetros também não a assustou, até pelo contrário. “Todas as provas deviam ter 50 quilómetros, pelo menos. As meias maratonas deviam ser assim. Viemos de tão longe para fazermos o que gostamos, que é pedalar, não é para fazermos meia dúzia de quilómetros e voltarmos para casa”. E não é que ambas venceram em cada uma das variantes?
Joaquim Realista, dirigente do Velo Clube Os Leões, mostrou-se otimista com a evolução da Rota da Água, naquela que foi a terceira edição, após um longo período de não realização. “Após a suspensão, regressámos com 30 inscritos, na edição do ano passado já tivemos 50 e neste ano registámos 70. O pessoal vai habituando-se a voltar à nossa prova”. A tendência é de crescimento, explicou. “Em tempos idos chegaram a reunir-se aqui cerca de 400 participantes, depois houve uma quebra, porque começaram a organizar-se provas um pouco por todo o lado e as pessoas têm de escolher, pois, em termos financeiros, inscrições e deslocações, já pesa um pouco. A seguir veio a pandemia, mas as coisas estão a recompor-se. Temos notado um acentuado crescimento de participação nas nossas organizações e isso deixa-nos otimistas quanto ao futuro. Já recebemos aqui pessoas de todo o Sul do País, portanto, estamos confiantes”. Quanto ao percurso e à designação de Rota da Água, Joaquim Realista adiantou: “Desenhámos um percurso em que passamos por três barragens e acompanhamos o canal de regadio na sua íntegra”, mostrando um pouco a realidade do concelho.
A próxima organização do clube será o passeio entre Ferreira do Alentejo e São Torpes, a par da Rota da Água, as mais importantes realizações do clube. O dirigente revelou: “Ao longo do ano fazemos vários passeios. Fazemos o Ferreira do Alentejo-São Torpes, em ciclismo de estrada, no terceiro fim de semana de setembro. Outro passeio, em março, no feriado da vila, uma noturna por altura da feira anual, e temos vários passeios mensais”.
O clube tem inúmeros associados, muitos deles agarrados à sua tradição. Foi reerguido em 2007 tendo como “restaurador” e primeiro presidente da era moderna, José João Cavaco. Mas o Velo Clube, lê-se no seu historial, terá sido fundado pelo empresário agrícola local, Luís Passanha, à época dirigente do Sporting Clube de Portugal, que, desavindo com os seus pares, em Alvalade, quis transferir para a sua terra natal a equipa principal de futebol do Sporting. Não o conseguiu. Fundou o Velo Clube Os Leões de Ferreira do Alentejo e trouxe a equipa de ciclismo. Com essa camisola, o ferreirense César Luís ganhou duas etapas e venceu, em 1935, a 6.ª Volta a Portugal em Bicicleta.