Edgar Matias (São Francisco da Serra) e Patrícia Serafim (Areias de São João) venceram a 19.ª Ultra Maratona Melides-Troia, na extensão de 43 quilómetros. Kcénia Bougrova (Run Tejo) e Bruno Santos (Reboleira) triunfaram nos 15 quilómetros da 10.ª Corrida Atlântica, entre as praias da Comporta e Troia.
Texto e Foto Firmino Paixão
O melidense Edgar Matias é o “príncipe” dos areais do litoral alentejano. Correu, em 2020, em solitário, e com fins solidários, os 65,2 quilómetros que separam a costa norte de Sines e a marina de Troia. Atual embaixador da Ultra Maratona Melides- -Troia, em que tem participado inúmeras vezes, o bicampeão europeu de masters e medalha de bronze no mundial nunca conseguira mais do que segundos e terceiros lugares. Este foi o seu ano. O ano da vitória.
“Se não tivesse sido possível, pelo menos, tinha podido desfrutar deste areal imenso que conheço tão bem, porque há muitos anos que participo nesta ultra maratona. Na edição anterior fiquei em segundo lugar, já fui terceiro, três vezes segundo, mas, neste ano, aconteceu. Como ‘embaixador’ da prova e vencedor, pela primeira vez, só poderei estar orgulhoso perante todos aqueles que me são queridos e me apoiam diariamente, a família e os amigos. Correr aqui é sempre especial, e conseguir vencer é algo que me deixou muito feliz”, confessou o atleta que interrompeu o ciclo de duas vitórias de Carlos Papacinza que, apesar de inscrito, não alinhou à partida.
O recorde da distância continua na posse de Eusébio Rosa, com 2h46’30, conseguidos na edição de 2012. Mas o areal da frente atlântica, no concelho de Grândola, é, também, a “passadeira vermelha” de Patrícia Serafim, atleta que já vestiu a camisola do Beja Atlético Clube antes de rumar ao clube de Albufeira. É titular de dois recordes, o horário (3h18’16 em 2021) e o número de vitórias conseguidas. Esta foi a décima desde 2013, um palmarés só interrompido, em 2019, por Palmira Quinhama. Para além da vitória, que é notável, também a excelência do terceiro lugar absoluto.
“Correu bem e estou muito feliz”, disse a atleta. E adiantou: “Esta é uma prova que exige muito de nós, exige muito sacrifício físico e uma grande preparação psicológica, é muito longa. Estamos a falar de 43 quilómetros à beira-mar, com as dificuldades que o piso nos coloca. Se essa distância em estrada já é difícil de superar, então, à beira-mar, no areal, imagine-se o sacrifício e o esforço de superação”.
No segundo lugar da geral, Daniel Martins (Areias de São João), duplo vencedor dos “10 km Fernando Mamede”, revelou: “Vim pela primeira vez e a concorrência era forte, atletas com muita experiência neste tipo de provas, ainda assim, deu para conhecer a técnica. Tive alguns conselhos da Patrícia, minha colega de equipa, atleta muito experiente mas, de facto, sem negar que a tentei vencer, acho que foi uma experiência muito positiva”.
À cabeça dos atletas que já participaram nas 19 edições está a luso-belga Chantal Xhervelle, outra “embaixadora” que confirmou as exigências da prova. “É sempre um grande desafio, porque as condições do piso todos os anos são diferentes devido às marés, mas é uma paisagem única, uma grande praia com 43 quilómetros de extensão. A costa alentejana é magnífica, espero voltar no próximo ano, se a saúde me permitir. Sempre são 56 anos, mas faço bastante treino e uma dieta rigorosa nos três meses que antecedem o dia da prova”.
A Corrida Atlântica foi ganha por Bruno Santos (Reboleira), pondo fim ao ciclo de quatro triunfos de Bruno Paixão, do Beja Atlético Clube (2.º classificado), e, no setor feminino, Kcénia Bougrova (Run Tejo) somou a sua quarta vitória consecutiva, mas longe do recorde que lhe pertence desde 2022, com o registo de 58’10.
“É uma prova de grande sucesso”, considerou António Figueira Mendes, presidente do município da “Vila Morena”, revelando: “Neste ano batemos mais um recorde, tem sido assim todos os anos, de recorde em recorde. Neste ano temos cerca de 720 participantes e é, de facto, um orgulho para nós continuarmos a trabalhar nesta prova que é realmente dura e difícil, mas é uma prova que não acontece, diria eu, em lado nenhum”. Um evento que promove a atividade física e promove o território, ainda acrescentou o autarca, lembrando que a junção da Corrida Atlântica à Ultra Maratona foi uma boa decisão. “Foi uma decisão acertada, porque as pessoas que não possuem grandes capacidades para participar na Ultra Maratona, pela dureza associada à natureza da prova, começaram a inscrever-se na Corrida Atlântica, que tem apenas 15 quilómetros e a participação tem aumentado todos os anos”.
O peso da logística foi outros dos aspetos abordados pelo edil. “Esse é outro aspeto que temos de realçar, porque é uma questão muito interessante de sublinhar. A maior parte das pessoas que está envolvida na organização é voluntária que se disponibiliza para ajudar o município. Todos eles acham que é um evento muito importante para o concelho, na medida em que gera esta dinâmica de termos por cá tantas centenas de pessoas a aderirem a uma prova desta natureza e a fazer desporto. Creio que é importante, não só para nós, como é relevante que tenham esta atitude de prática desportiva”. Um município que se empenha em grandes realizações desportivas e que tem uma equipa de desporto multidisciplinar vocacionada para os erguer, admitiu. “Realmente temos uma forte vocação para a promoção da prática desportiva e para a organização de grandes eventos, não só nós, como a nossa divisão de desporto, que tem um conjunto de colaboradores e uma técnica responsável, que vivem isto com alma e coração. Eles é que fazem mover tudo isto, independentemente da decisão política, que é da nossa responsabilidade, mas os nossos colaboradores é que são os grandes promotores destes grandes eventos”.
Ultra Maratona Melides Troia – 43 quilómetros
Femininos
- 1.º | Patrícia Serafim (GD Areias São João) 3h22’02
- 2.º | Laura Grilo (C. Praças da Armada) 3h43’24
- 3.º | Sheila Azevedo (individual) 4h03’41
Masculinos
- 1.º | Edgar Matias (GD São Francisco Serra) 3h05’35
- 2.º | Daniel Martins (GD Areias São João) 3h20’05
- 3.º | Rodrigo Carrilho (CB Reg. Monsaraz) 3h26’36
Corrida Atlântica Comporta Troia – 15 quilómetros
Femininos
- 1.º | Kcénia Bougrova (Run Tejo) 1h05’52
- 2.º | Ana Lourenço (BDC Odemira) 1h08’41
- 3.º | Paula Ramalho (CB Reg. Monsaraz) 1h10’13
Masculinos
- 1.º | Bruno Santos (GRD Reboleira) 53’18
- 2.º | Bruno Paixão (Beja Atlético Clube) 53’35
- 3.º | Cláudio Rodrigues (CD Areias São João) 54’50