Uma abordagem inicial sobre a atual realidade do desporto e as boas práticas que existem na região alentejana deram conteúdo aos painéis com que se iniciou o fórum “Desporto no Alentejo, que Futuro?”, complementado com uma mesa redonda que projetou esse futuro.
Texto e Foto Firmino Paixão
“Este fórum foi a concretização de um sonho que eu tinha há alguns anos, desde que estou nestas funções”, admitiu o diretor regional do Alentejo do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), Miguel Rasquinho, justificando: “Sempre entendi que o Alentejo tem de trabalhar de uma forma conjunta. Não podemos andar separados, divididos, entre concelhos, entre distritos, entre regiões”. Por isso, acrescentou: “O que eu queria mesmo era juntar todas estas vontades, todas as regiões, todas as entidades que têm um papel importante na prática desportiva, porque o desporto, noutras regiões, promove e potencia o desenvolvimento socioeconómico, potencia o emprego e o crescimento, e eu acho que o Alentejo não tem sabido aproveitar as potencialidades que tem, e que são muitas. Trabalhamos bem, temos muitas coisas bem-feitas em todas as regiões do Alentejo, mas trabalhamos, às vezes, de forma, não direi desorganizada, mas, pelo menos, afastados uns dos outros, e é isso que nós pretendemos corrigir. Discutir, de forma concertada para onde é que queremos caminhar, foi isso que aconteceu aqui neste fórum, em Évora”.
O dirigente regional do IPDJ admitiu também ter sido feito um diagnóstico prévio a essas necessidades para que os painéis convergissem nas soluções. “Foi feito um retrato daquilo que é o Alentejo. Mas as coisas não estão tão mal como as pessoas poderão imaginar. E existem até alguns indicadores que mostram que o Alentejo tem estado a aumentar a sua dinâmica no que diz respeito à atividade desportiva. Por exemplo, verificamos que todos os fins de semana, e em todo o lado, se realizam muitas provas desportivas, sim, muitas delas competitivas, mas também muitas atividades lúdicas, para que as pessoas pratiquem desporto. Mas as coisas são diferentes, uma coisa é o desporto competitivo, a outra é manter uma atividade física regular. E nós, nesta pesquisa que foi feita, verificámos que não estamos assim tão mal quanto isso. Mas isso não nos pode deixar descansar, antes pelo contrário, potencia-nos e leva-nos a um outro patamar para a procura de mais e melhores objetivos”.
Miguel Rasquinho anuiu também à ideia de que, querendo equipararmo-nos a outras realidades nacionais, teremos de esbater as assimetrias entre as diferentes sub-regiões do Alentejo. “Sim, e daí esta necessidade de nos juntarmos. Esta necessidade de fazermos bem, fazermos melhor e fazermos de forma concertada. No Alentejo há quem tenha uma atividade muito maior, de melhor qualidade até. Digo sempre que no Alentejo são mais importantes 10 pessoas a praticarem desporto do que 1000 em Lisboa. Mas aquilo que nos importa também é a qualidade: fazermos bem aquilo que estamos a fazer. E, sim, existem essas assimetrias. Mas este fórum serve também para isso, para percebermos como é que os outros fazem. Como é que se faz no concelho ao lado, no distrito vizinho e, se calhar, trazê-los para junto de nós, para trabalharmos em conjunto e vermos muito melhor aquilo que podemos fazer. Deixe-me dizer que o Alentejo, e conhecemos os 47 municípios que estão sob a alçada do IPDJ, tem uma diversidade enorme de provas desportivas, e eu conheço excelentes exemplos em toda a região, de provas organizadas com muita qualidade que precisam é de divulgação, de promoção, de articulação entre todos, para terem o devido destaque”. A temática proposta a debate identificava até duas áreas que serão credoras desse relevo: o desporto adaptado e o desporto escolar. Questionado sobre essa relevância, Miguel Rasquinho referiu: “O desporto escolar é a base. É óbvio que é nas escolas que estão as crianças, estão os jovens, e é aí que os podemos levar a ganhar o hábito da prática desportiva, também a prática competitiva federada, mas não só, a prática da atividade desportiva em si, como fator que promove a saúde e a qualidade de vida, a base é realmente a escola”.
Quanto ao desporto adaptado, o dirigente recordou: “O IPDJ Alentejo tem tido uma preocupação grande nessa área. Está sediado no IPDJ Alentejo o Centro de Recursos de Desporto Inclusivo, ou seja, nós dispomos de cerca de 16 equipamentos para a prática de desporto adaptado, que emprestamos às pessoas com necessidades especiais, para iniciarem a prática desportiva. Se todos dermos um bocadinho daquilo que temos na nossa casa, provavelmente construiremos algo de maior”.
Académicos, autarcas, líderes das comunidades intermunicipais, e de outras entidades regionais, técnicos, dirigentes associativos e de clubes, interagiram neste debate, realizado no auditório do Colégio do Espírito Santo, alimentando a expectativa do dirigente regional do IPDJ de que este primeiro fórum – a promessa é de que outros se repitam e de uma forma descentralizada, com as mesmas ou outras entidades – tenha sido um grande contributo para se atingirem os objetivos. Por isso, avisou: “Isto não pode terminar aqui”.
As conclusões serão publicadas oportunamente, contudo, o secretário de Estado do Desporto, Pedro Dias, cuja presença não tinha sido anunciada, surgiu na abertura da segunda parte do fórum para deixar a mensagem: “Temos tentado seguir as orientações que emanam do Conselho da Europa, nomeadamente, no que diz respeito à definição do desporto, que me parece que é muito simples e nos ajuda, por vezes, a dinamizar algumas questões que temos tido em termos de semântica, e é esta a orientação que estamos a seguir. Incluímos, nessa definição, todas as formas de atividade física, quer através da participação ocasional ou organizada, que visem melhorar a condição física e o bem-estar mental”. Enumerou, por fim, alguns pilares do desenvolvimento desportivo, como o conhecimento, a educação e a igualdade de oportunidades no acesso a prática desportiva, com uma oferta qualificada em todo o território nacional.