Diário do Alentejo

Carolina Hrytsevych tem o sonho de, um dia, vestir a camisola de Portugal numa competição internacional

13 de dezembro 2025 - 08:00
“Vou seguir o meu coração”
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

“Os troféus que conquisto têm sempre muito significado para mim, pois são o reconhecimento do meu esforço, da minha dedicação e do sacrifício que faço por algo de que gosto muito. Porém, aquela medalha de prata que conquistei no ano passado, em Beja, nos Campeonatos Nacionais Universitários, tem um significado diferente e muito especial, porque foi a minha primeira medalha em termos nacionais”.

 

Texto Firmino Paixão

 

Uma confissão da atleta Carolina Vitória Hryt-sevich, de 20 anos, natural de Beja, mas com ascendência ucraniana, que atualmente representa a Adrap – Associação Desportiva e Recreativa de Água de Pena, do Machico (Madeira). A atleta conquistou, em maio de 2024, o segundo lugar na prova de 800 metros planos, dos Campeonatos Nacionais Universitários realizados no Complexo Desportivo Fernando Mamede, em Beja, com organização do Instituto Politécnico de Beja, sob tutela da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU). Uma medalha de prata que, reconheceu a atleta, “também serviu de tributo ao meu treinador, José Belchior, que me ajuda muito”. E que, na verdade, a deixou debaixo dos holofotes e no radar de vários clubes. Saibamos, porém, e na primeira pessoa, quem é a protagonista desta história. “O meu nome é Carolina Vitória Hrytsevich, sou portuguesa, nasci em Beja, em 2005, portanto, tenho 20 anos. Sou estudante do Instituto Politécnico de Beja, na área de Engenharia Informática e resido em Vidigueira”. Sobre a sua convivência com a prática desportiva, Carolina disse: “Sempre gostei de praticar desporto, comecei a fazê-lo por volta dos meus sete ou oito anos. Primeiro comecei pelo futsal e pelo futebol, no Desporto Escolar, mas depois desenvolvi uma grande paixão pelo atletismo através dos corta-matos que fiz no Desporto Escolar. Ganhei a prova do agrupamento escolar, qualifiquei-me para o regional, fui até ao nacional e por aí adiante. Nunca me interessei por outras modalidades, foi somente o futsal, futebol e atletismo”. Começou a prática do atletismo no Clube Natureza de Alvito, emblema que deixou para representar o Beja Atlético Clube, até chegar ao Adrap. A atleta confessou: “O Beja Atlético Clube foi, principalmente, o clube onde eu evoluí. Sinto realmente que tive uma grande evolução até que a Adrap reparou no meu sucesso e me convidou para representar o clube. Isso foi um sinónimo de que viram que tenho potencial e alguma qualidade naquilo que faço. É um clube da Madeira, um bocadinho longe da Vidigueira, mas, hoje, o digital e as redes socias eliminam essas distâncias”. A sua infância, percorrida na vila de Vidigueira, onde a família reside, foi igual à de tantas outras jovens que se apaixonam pelo desporto, e Carolina até contou que lhe chamavam “maria rapaz”. “Nestas terras é sempre assim que dizem quando veem uma rapariga a fazer desporto, principalmente, na área do futebol ou do futsal, eram preconceitos que existiam. Mas, hoje em dia, já não me importo nada com isso, faço o que gosto, porque a vida é minha e nunca me preocupei demasiado com isso, esses preconceitos até me davam mais força, sentia-me forte e, às vezes, até superior aos rapazes”. Sabendo-se que é uma atleta multidisciplinar, corre em pista, corta-mato e estrada, haverá, por certo, uma disciplina pela qual sente uma natural atração? “Na verdade, faço um pouco de tudo, tudo isso é prática desportiva, tudo isso é desporto e movimento, e alimenta a paixão que eu tenho. Mas prefiro a pista. Foi aí que já fui mais feliz quando conquistei o título de vice-campeã nacional universitária, nos 800 metros. Mas também já estou a treinar para os 1500 metros e, futuramente, penso evoluir para os 3000, 5000 e 10 000 metros. Porém, neste momento, estou apenas focada em me preparar para os 800 e 1500 metros em pista, que foi onde consegui mais sucesso”. No momento de se avaliar como atleta, Carolina mostrou alguma hesitação: “É um pouco difícil responder-lhe a essa questão”. Mas, rapidamente disparou: “Olhe, deixe ver, defino-me como Vitória, porque sou uma conquistadora e Vitória também está no meu nome. Sou Carolina Vitória Hrytsevych”. O seu olhar está sempre no horizonte, mais além, sonhando e projetando novas conquistas. “Confesso que pretendo fazer uma marca que me permita competir em provas internacionais em representação de Portugal. É o meu grande sonho. Seja em pista, em corta-mato ou em estrada, esse é o meu principal objetivo, vestir a camisola da seleção nacional portuguesa”. Preparemo-nos, pois, para, futuramente, ouvir falar, e bem, de Carolina Hrytsevych: “Espero que sim, porque também tenho o apoio da família que é o meu primeiro e grande pilar. O segundo será o meu treinador. Sem eles não seria possível”. Já que a família veio à baila, refira-se que os pais são ucranianos, razão mais do que óbvia para lhe pedirmos um olhar sobre a guerra naquele país. “É muito difícil recordar e, sobretudo, falar disso. Mas espero que um dia o conflito se possa resolver, e que não se prolongue mais esse desastre. Sinceramente, espero que esta guerra não se alastre ao resto do território europeu, nomeadamente, a Portugal, porque se, lá, já as pessoas sofrem tanto, nós também não queremos sofrer cá. Tenho a maior parte da família na Ucrânia, em Portugal só estou eu, a minha irmã e os meus pais, mas sabemos que, por lá, as coisas estão muito difíceis”. Mudemos de agulha e saibamos como vai a carreira académica de Carolina. “Posso dizer que vai bem. A Engenharia Informática é um curso difícil de conciliar com o desporto, mas estou a gostar e está a correr muito bem. O sonho, após a licenciatura, será fazer o mestrado em segurança informática e, mais adiante, pode ser que avance para o doutoramento. Por hora, quero acabar a licenciatura”. Em tempo de despedida, uma derradeira questão: prefere a engenharia informática ou o desporto? “Não é fácil encontrar essa resposta, mas vou seguir o meu coração e dir-lhe-ei que é o desporto”.

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