Diário do Alentejo

8.º Trail da Ribeira de Limas contou com mais de 700 participantes

23 de fevereiro 2024 - 20:00
Um caso de sucesso
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

O Trail Ribeira de Limas, em Santa Iria, no concelho de Serpa, cuja oitava edição decorreu no último domingo, está a revelar-se um caso de sucesso. Uma organização cuidada, percursos criteriosamente marcados e uma paisagem apelativa, estarão, por certo, a montante deste sucesso.

 

Texto | Firmino Paixão

 

Na saída mais oriental da cidade de Serpa, chegados ao entroncamento da Estrada Nacional 260 com a Nacional 265, percorremos quatro quilómetros e seiscentos metros e chegamos ao povoado de Santa Iria, território administrado pela União de Freguesias de Salvador e Santa Maria.

Nas imediações, entre cerros e vales, num pedaço de natureza quase virgem, corre a Ribeira de Limas, nascida algures entre Vila Nova de São Bento e Vale dos Mortos (Monte da Corte Limas), com águas límpidas que se misturam no Guadiana na zona do mítico Pulo do Lobo. O curso de água empresta o nome ao Trail de Santa Iria, uma povoação que preserva tradições, com o casario bem arrumado, arejado e orlado por pequenas hortícolas, mas cuidadosamente limpo, como é tónica daquele concelho. As suas gentes sabem receber, são acolhedoras e comunicativas e isso pesa na apetência das pessoas que ali acorrem, desde há oito anos, sempre que a Associação Cultural e Recreativa de Santa Iria põe no terreno esta prova de puro contacto com a natureza. Nesta edição foram mais de 840 as inscrições que a organização recebeu, lamentando que não tivesse sido possível acolher toda a gente. Ainda assim confirmaram 760 participantes.

A associação tem cerca de duas centenas de associados e, a par de um restaurante inserido na malha urbana e de uma pequena taberna existente na estrada da Mina de São Domingos, revela-se a terceira opção local de restauração. Um dos mais competitivos troços do percurso habitual do Rali Cidade de Serpa está ali também na fronteira de Santa Iria com a serra de Serpa. Há um ano nasceu ali o Moto Clube de Santa Iria, criado por um grupo de entusiastas do motociclismo, residentes e ausentes, mas todos naturais da terra.

Minutos antes do numeroso e multicolorido pelotão de atletas partir para o trail sprinte (16 quilómetros), trail longo (31 quilómetros) e caminhada (nove quilómetros) soou um balido de ovelhas. Era a senhora Antónia, de 82 anos, que ia acomodar o mini rebanho numa cerca onde verdejava a pastagem. “Isto é muito bonito, dá muita vida à aldeia”, disse a anciã, revelando: “É a primeira vez que vejo estas corridas, porque estive muito doente, tive que ser operada, mas agora já vou indo melhor”.

À margem da competição, mas aproveitando a elevada presença de pessoas, a Associação Miau-Gatos de Rua de Serpa promoveu uma recolha de ração para aqueles animais, inúmeras vezes abandonados. O Instituto Politécnico de Beja também ali desenvolveu uma ação de sensibilização dirigida à perceção do impacto dos desportos de natureza nos territórios, enfim, muitas e boas causas, razões de sombra para uma visita mais demorada à pequena aldeia.

O rosto visível da organização é João Paulo Correia, atleta do Grupo Desportivo de Alcoutim, militar da Guarda Nacional Republicana, em Vila Real de Santo António, que a paixão pela sua terra natal obriga a integrar os corpos sociais da associação cultural. Foi ele o mentor desta organização, uma prova de trail pontuável para o Circuito Nacional de Trail Sprint da Associação de Trail Running de Portugal, para a Taça Alengarve de Trail e para o Circuito Regional de Trail do Baixo Alentejo, da Associação de Atletismo de Beja.

João Paulo Correia revelou que o sucesso desta organização “é, em grande parte, o resultado” de tratarem “bem as pessoas” que os visitam. Por outro lado, acrescentou: “Os trilhos são muito bonitos e cativantes, a região em si é toda ela de uma beleza ímpar. Trabalhamos muito nas marcações, diversificando os percursos pelas margens da ribeira, e tudo isso torna-se apelativo à vinda de cada vez mais pessoas”. São percursos lindos, insistiu João Paulo: “São locais onde quase não existem trilhos, está tudo ainda num estado quase selvagem, a exigência está no topo, não podemos subir mais o nível, mas tentamos sempre variar, mantendo as distâncias e a altimetria”. Mas essa não será a única razão de tão elevada assiduidade: “Por outro lado, o valor que nós cobramos pelas inscrições é abaixo da média e tudo aquilo que oferecemos a quem nos visita está acima da média do que é habitual. O resto é o carinho das pessoas que aqui residem, cuja adesão à organização tem sido crescente e mesmo os que não podem colaborar, sabem receber com entusiasmo. Tem sido esse o retorno que, ao longo destes oito anos, tenho recebido de quem nos tem visitado”.

Perante um impacto tão relevante numa terra com pouco mais de uma centena de residentes, a associação cultural, garantiu João Paulo Correia “continuará a fomentar o desporto, a cultura, o desenvolvimento, porque é assim que se dá vida a estes pequenos povoados”.

 

CLASSIFICAÇÕES

Trail sprint 16 quilómetros masculinos

  • 1.º Jorge Grilo (CB Reguengos Monsaraz) 1h25’18
  • 2.º Dinesh Khadka (Nepal Campesino Trail) 1h27’02
  • 3.º Vítor Carvalheira (NDC Odemira) 1h28’19

 

Trail sprint 16 quilómetros femininos

  • 1.º Ana Torradinhas (Piranhas Alqueva) 1h51’38
  • 2.º Ana Grade (Algarunners) 1h56’22
  • 3.º Aly Hayes (United Kingdom) 2h03’06

Trail longo 31 quilómetros masculinos

  • 1.º Roberto Baião (Desportivo de Espite) 2h42’34
  • 2.º Carlos Papacinza (NDC Odemira) 2h55’10
  • 3.º Joel Silva (GD Alcoutim) 2h58’16

Trail longo 31 quilómetros femininos

  • 1.º Patrícia Serafim (Areias São João) 3h17’51
  • 2.º Ana Marinheiro (ADN Mértola) 3h39’14
  • 3.º Ana Ramos (CB Almodôvar) 4h05’06
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