A Academia de Ténis Ferreira Activa vai celebrar, no próximo mês de abril, duas décadas de atividade. A arquiteta e promotora do projeto, Ana Rita Nascimento, uma antiga jogadora internacional de futebol, não esconde o seu orgulho nesta missão em prol da modalidade.
Texto e Foto Firmino Paixão
Recuemos 20 anos: “No primeiro dia apareceram aqui cerca de 30 atletas. Foi fantástico. Faziam voar as bolas para todos os lados. Era o primeiro contacto com o ténis. Eu já tinha sido jogadora. No passado, Ferreira do Alentejo tinha tido essa atividade, que eu frequentei, mas, na época, o meu desporto de eleição era o futebol. Porém, a prática da modalidade foi crescendo”, revelou Ana Rita Nascimento, a mentora da academia de ténis da associação Ferreira Activa-Movimento Associativo de Ferreira do Alentejo. Um percurso gratificante, por certo? “Sim, muito gratificante, pois, em abril de 2024, a academia fará 20 anos”, reconheceu Ana Rita, puxando para trás a fita do tempo, para contar como tudo começou: “Era um projeto mais pessoal. Tinha acabado de tirar o curso, estava aqui um campo que eu entendia que estava desaproveitado e achei que seria oportuno criar uma escola ou academia de ténis, sem pensar que, em algum momento, fosse federada, nem que teria tantos atletas ou que iria ter esta longevidade de duas décadas. Mas, oxalá tenha muito mais”.
Quando a mulher sonha, a obra nasce. “Estou muito feliz e reconhecida a todos os que permitiram que isto acontecesse e que nos têm apoiado. Na altura, comecei pelo município, já trabalhava na Santa Casa da Misericórdia como professora de educação física, mas queria algo mais, mais dinâmica para o período pós-laboral”. Então, mão à obra que se faz tarde. “Falei com o município para tentar perceber o que teria que fazer para dar forma ao projeto, e foi lá que me informaram da existência de uma associação de jovens, cujo presidente era (e é) o José Diogo Rosa Branco, que pretendia dinamizar mais modalidades e poderia estar interessada no meu projecto. E assim nasceu a academia de ténis, enquanto secção da associação Ferreira Activa, entidade que nos abriu as portas a outros apoios, nomeadamente, tornando a atividade federada”.
Na época, a criação de uma academia terá sido algo inovador, mas a sua longevidade também será, de alguma forma, invulgar, concordou a professora. “Agora já existem muitos clubes. A Associação de Ténis do Alentejo já tem cerca de uma dúzia de clubes filiados. São muito distantes uns dos outros, por exemplo, de Milfontes a Portalegre, e isso cria algumas dificuldades. Mas os clubes agora estão divididos em zonas geográficas e as coisas ficaram mais facilitadas”.
A academia tem, atualmente, 70 atletas, 25 deles federados. “As épocas são de setembro a setembro. Filiamos, logo no início de cada época, esses miúdos que competem mais regularmente e, no princípio do ano, filiamos os mais novinhos, para fazerem os circuitos sociais. Mas, além da parte competitiva, temos uma área recreativa. Quem quiser praticar apenas por lazer pode fazê-lo. Naturalmente que cobramos uma mensalidade, mas oferecemos a primeira para a pessoa poder experimentar”, diz Ana Rita. O produto das mensalidades, como fez questão de revelar, “é, essencialmente, aplicado na aquisição dos materiais, que são de desgaste rápido”, apesar de terem “o apoio de diferentes empresas locais, bem como do município e da união de freguesias”. Os miúdos “não pagam qualquer tipo de equipamento com a imagem da academia”.
Treinadora habilitada com o segundo nível, desenvolveu a sua atividade a solo durante mais de 10 anos, porém, diz, “a escola era novidade, cresceu muito, foram construídos mais dois campos e tornou-se necessário ter o apoio de outra pessoa, atualmente a Lara Jardinha”. São, agora, duas as treinadoras responsáveis pela formação de talentos. “Temos a felicidade de ter muitos e muito bons atletas. Nós valorizamos a competição, mas também a recreação. Valorizamos tanto o mais pequeno e promissor talento como aquele adulto que passe por cá ocasionalmente para bater umas bolas. A nossa dedicação é igual para todos”, acentuou. Até porque, reconheceu Ana Rita, as vivências que as meninas e meninos trazem para os courts também são relevantes. “Existe uma aprendizagem recíproca. Nós ensinamo-los a jogar ténis, mas eles e elas também partilham connosco experiências muito diversificadas. São tantos os sentimentos e as emoções que também nos fazem crescer a par deles, porque nos alimentam o ego, porque nos comprometem com este trabalho. Tem sido essa a motivação que eu tenho sentido para continuar com este processo. Já deixou, há muito, de ser um projeto, já está consolidado, a academia é uma realidade”. Uma missão. A paixão foi o futebol? “Em termos de prática desportiva, sim, foi o futebol, embora eu ainda faça competição no ténis. Mas o futebol começou aos 12 anos. Foi uma carreira muito gratificante e, sim, o futebol foi a minha maior paixão. Mas esta missão é tão motivadora para quem aprende, como para quem ensina, porque é isto que me faz feliz, não direi que abdiquei de sonhos para estar aqui, mas é isto que me preenche e me dá felicidade”.
Lara Jardinha é, atualmente, o braço direito, digamos, a “extensão da raquete” de Ana Rita Nascimento, no ensino da modalidade a jovens praticantes. “Inicialmente vim para treinar, precisava de um hobby e então abracei o ténis, porque me disseram que eu tinha algum jeito e eu pensei: ‘Vamos lá ver no que é que isto vai dar’. E deu, realmente tinha um bocadinho de jeito. Mais adiante a Ana Rita convidou-me para treinadora e já estou há um ano e meio a dar aulas de ténis”.
Com entusiasmo crescente, assinale-se, diz que o ténis “é para todas as idades”. “Todos estão ainda a tempo de aprender, aqui ninguém faz diferença em ser homem ou ser mulher, jogar melhor ou jogar pior. Somos todos iguais, somos uma família”. Porém, admitiu: “É gratificante chegar aqui, ao final da tarde, e ver tantos meninos e meninas, a partir dos cinco anos, a quererem jogar. São futuros campeões, eles acreditam neles próprios e eu também acredito neles. Vão ser campeões!”. O que se passa aqui é, afinal, “uma partilha de valores, e quando estudo para ensinar os mais jovens estou também a valorizar-me”, conclui.