O Elvas-Clube Alentejano de Desportos tem um glorioso palmarés, escrito a “azul e ouro”, que, no final dos idos anos 80, aquando da sua última presença na primeira divisão nacional, albergou talentos que se tornaram lendas do futebol português, de que é exemplo o “Patalino”.
Texto | Firmino Paixão
Crise após crise foi sobrevivendo à erosão dos tempos, com constantes subidas e descidas aos campeonatos nacionais. O Elvas é um dos clubes que atualmente disputa a série D do Campeonato de Portugal, a mesma onde estão a competir os restantes quatro clubes que representam o Alentejo. Começou a época sob a batuta do técnico Pedro Canário, rendido no início de outubro por Pedro Hipólito, treinador que ainda não perdeu qualquer jogo desde que assumiu o leme dos raianos, tendo, nomeadamente, qualificado o clube para a quarta eliminatória da Taça de Portugal. A primeira vitória no Campeonato de Portugal foi conseguida em Serpa, mas os próximos desafios não serão fáceis.
Está satisfeito com o triunfo em Serpa, o primeiro da equipa nesta edição do campeonato?
Saímos daqui felizes. Foi uma vitória que a equipa precisava, num campo difícil, perante uma equipa bem orientada e com alguns jogadores que não merecem a pontuação que têm, porque têm feito bons jogos, tal como o Elvas, que também tem realizado boas partidas, mas não tem sido feliz. Por vezes, a pontuação não mostra a qualidade das equipas e a qualidade do trabalho que é feito. Mas, hoje, sorriu-nos a nós a vitória, finalmente, a primeira. Era o que procurávamos, mas não temos muito tempo para celebrar, porque ainda estamos numa situação difícil na tabela de pontos e temos já que pensar nos próximos compromissos.
Veio da Malásia, onde treinava o Melaka. Foi fácil aceitar esse convite com a equipa numa posição tão difícil na tabela?
Sim, foi realmente fácil. Não temi pela posição difícil que a equipa tem na tabela classificativa, mas valorizei antes o projeto que as pessoas me apresentaram e aquilo que querem para O Elvas. Querem apostar e desenvolver o clube e tudo isso motivou-me a vir para a cidade de Elvas e comprometer-me também com o projeto.
Sem falar muito do passado, porque a época começou com o Pedro Canário ao leme, como encontrou a equipa?
Acho que, muitas vezes, os treinadores são demitidos mas antes fizeram tudo o que podiam e, às vezes, as coisas não correm como se pretende. Às vezes as coisas não saem, mas não significa que estivessem a treinar mal ou a fazer um trabalho menos bom. E tenho até a certeza de que o Pedro Canário não estava a fazer um mau trabalho, simplesmente, as coisas não estavam a acontecer. Infelizmente, aconteceu ao Pedro, noutros momentos já me aconteceu a mim, porventura, acontecerá alguma vez a todos os que andam nisto. A vida de treinador é complicada, só o Pep Guardiola é que ainda não terá sido demitido, portanto, a partir daí, muitas vezes, não é pela falta de qualidade de trabalho, simplesmente, as coisas não saem bem nesse momento, mas sairão noutro clube e noutra altura qualquer.
A sua primeira tarefa foi elevar o espírito anímico dos jogadores?
Não. A minha tarefa foi mudar algumas situações táticas. Foi dar mais confiança à equipa. O plantel estava com falta de confiança em alguns momentos, estava com receio de perder, receio de tomar algumas iniciativas, mas esse é um processo normal que se elimina com as vitórias e espero que isto nos dê mais confiança para o futuro.
A manutenção na Taça de Portugal e o triunfo em Serpa potenciarão essa recuperação?
Certamente. Mas continuamos numa situação difícil. Foi uma vitória importante, mas foi apenas isso, uma vitória, e precisamos de mais. Precisamos já de pontuar nos próximos jogos. Empatámos com o Oriental, vem aí o Imortal de Albufeira, precisamos de mais pontos, precisamos de mais vitórias, estamos ainda numa situação difícil e o projeto de O Elvas não contempla uma descida de divisão, passa, sim, pela manutenção no Campeonato de Portugal.
O Elvas tem um historial muito prestigiado, competindo na alta-roda do futebol nacional. Hoje em dia como é que as pessoas vivem o clube?
Sei que, há muitos anos, o clube competiu ao mais alto nível. Depois baixou, caiu nos distritais e desde que existe o Campeonato de Portugal tem andado num sobe e desce constante. Sobe ao nacional e desce logo a seguir. Desde 2009, na então terceira divisão, que tem sido assim, essa é a história recente do clube. Teve uma história maravilhosa na primeira divisão nacional, com grandes jogadores a saírem do clube mas, neste momento, está a necessitar de ser reestruturado. Os investidores que vão entrar na sociedade anónima desportiva (SAD) querem estruturar o clube e estão a trabalhar nesse aspeto. Também me pediram para ajudar a profissionalizar tudo isto e estamos a procurar as melhores condições. Nada muda de um dia para o outro, mas estamos a trabalhar.
Tem um trajeto ainda curto à frente desta equipa, mas já conseguiu a qualificação para a quarta eliminatória da Taça de Portugal. Quer projetar esse jogo?
Uma festa em Elvas. Já está toda a gente a falar nesse jogo em Elvas, mas, até lá, ainda temos compromissos muito importantes para ultrapassar, jogos muito importantes para o campeonato. Mas, sim, será uma grande festa em Elvas e um jogo muito interessante para todos nós. Vamos tentar dar o nosso melhor, o ideal seria passarmos à eliminatória seguinte.
Tem treinado pelo estrangeiro e pelo norte do País. Como analisa esta realidade do futebol alentejano, com escassez de recursos financeiros?
Por isso é que O Elvas tem aqui uma grande oportunidade de se valorizar, através das pessoas que estão interessadas em investir no clube. É muito difícil. As associações não têm grande força a nível nacional, os clubes têm pouca capacidade financeira, mas, ainda assim, lá vão fazendo o seu trabalho. Évora está a fazer um excelente trabalho com o Juventude e com o Lusitano e O Elvas e a Associação de Futebol de Portalegre têm aqui uma grande oportunidade, porque há pessoas muito interessadas em apostar no clube. E eu estou muito confiante no futuro, senão, não teria assumido este compromisso.