O bejense Jorge Sousa, de 33 anos, foi o árbitro melhor classificado entre os seis juízes que, atualmente, integram o quadro de elite-categoria C5, do Conselho Regional de Arbitragem da Associação de Futebol de Beja.
Texto Firmino Paixão
Foi, portanto, o “Árbitro do ano” na época 2023/2024 e, nessa condição, cumprindo a tradição a que o conselho de arbitragem nos tem habituado, dirigiu, muito recentemente, a final da Taça Distrito de Beja em seniores masculinos, um jogo entre o Futebol Clube Castrense e a Associação Cultural e Recreativa do Penedo Gordo.
Jorge Sousa nasceu no dia 15 de dezembro de 1989 num bairro da zona oriental da cidade de Beja mas, atualmente, reside no chamado bairro das Alcaçarias, zona com muita história, e ainda mais estórias, e uma forte ligação ao associativismo desportivo, nomeadamente, através da columbofilia, cuja designação de zona azul esteve na origem da fundação da Associação Cultural e Recreativa Zona Azul, o popular emblema da rua Frei Manuel do Cenáculo, nascido no outono do ano seguinte à Revolução dos Cravos. São factos do passado que Jorge Sousa não domina bem, apesar da proximidade da sua residência com a sede daquela agremiação desportiva que também já representou.
Jorge confessou que teve “uma infância feliz, igual à de tantos outros jovens da sua época”. “Brincava na rua, jogava à bola com os outros miúdos. Nessa altura não existiam jogos eletrónicos”, recorda.
E foi nesse tempo que despertou para a prática da atividade física. Experimentou outras modalidades, como o andebol e o futsal, mas foi o futebol que mais o cativou.
“Iniciei-me no Clube Desportivo de Beja, onde fiz o meu percurso formativo até ao momento em que o clube suspendeu as suas equipas de formação. Nos quatro anos seguintes joguei andebol na Zona Azul, também como guarda-redes, porém, voltei ao futebol na equipa de juniores do Centro de Cultura e Desporto do Bairro da Conceição e, mais tarde, enveredei por uma vertente ainda mais amadora, o futebol da Fundação Inatel, primeiro com a camisola do Salvadense, onde estive cinco anos, e terminei a carreira jogando futsal federado nas equipas do Instituto Politécnico de Beja e no Clube Desportivo de Beja, ao mesmo tempo que representava aquela que é a equipa mais antiga da região neste tipo de campeonatos, o Quintos”.
Jogava na posição de guarda-redes. Quando lhe perguntámos se, nessa altura, se exaltava ou insultava os árbitros, sorriu abertamente e negou fazê-lo. “Não, nunca o fiz. Sou uma pessoa educada, pacífica, podia discordar, ou não, deste ou daquele lance, mas nunca gritei nem insultei ninguém, de resto, na posição de guarda-redes nunca se intervém de uma forma muito ativa nesse tipo de situações”.
A arbitragem entrou na sua vida como prolongamento da atividade de jogador, mas também acedendo ao desafio de um amigo, o árbitro Tiago Gonçalves, que o incentivou a tirar o curso. Foi experimentar, gostou, ficou e, sete anos depois, ainda celebra a distinção de melhor árbitro da época desportiva que está a findar, com uma classificação ligeiramente superior à dos colegas Alexandre Sesifredo e João Lopes, segundo e terceiro classificados, respetivamente.
O juiz bejense recordou: “O primeiro jogo que dirigi foi em Almodôvar, uma partida do campeonato distrital de iniciados, entre o Desportivo de Almodôvar e o Mineiro Aljustrelense, em que tive como auxiliares Luís Lameira e Filipe Gomes. Muita ansiedade, algum nervosismo, era uma sensação nova, mas correu tudo bem, porque também estava a ser auxiliado por árbitros já muito experientes”, reconheceu.
A atividade desportiva e os diferentes compromissos em que se envolveu não o impediram de concluir com êxito uma licenciatura em Desporto, na Escola Superior de Educação de Beja. Porém, revelou: “Decidi não prosseguir nessa área, porque é uma atividade que nos obriga a um horário de trabalho muito intenso e ganha-se pouco. O que faço atualmente, como estafeta na distribuidora UPS, dá-me muito prazer, tenho um horário mais liberto e ganho melhor. Ganho mais como estafeta do que ganharia se prosseguisse na área do desporto. Não estou nada arrependido”.
A sua carreira tem sido pautada pela tranquilidade, de tal forma que não se recorda que algum episódio lhe tenha provocado insónias ao ponto de ter uma noite mal dormida por causa de uma decisão errada ou uma arbitragem mal conseguida.
O melhor momento da carreira, como assumiu, “foi a nomeação para dirigir a final da Taça Distrito de Beja e a qualificação para os exames de acesso ao quadro nacional, entre 5 e 9 de junho, no Centro de Alto Rendimento (CRA), em Rio Maior, na companhia do Alexandre Sesifredo”.
“Somos 42 candidatos para 30 vagas, espero ficar dentro desses 30. Preparei-me para isso, o que constituirá um número recorde de árbitros do CRA de Beja nos quadros nacionais”.
No diálogo com Jorge Sousa vê-se facilmente que é uma pessoa discreta, nota-se a sua humildade, qualidades que, certamente, terão influência no seu desempenho dentro de campo.
“Sou um árbitro tolerante, tranquilo, dialogante, gosto de comunicar com os jogadores, os atletas podem contar comigo e podem interagir com o árbitro desde que o façam com correção, sem gesticularem de forma excessiva, porque isso passa uma má imagem para fora do terreno de jogo”, afirmou.
Avaliando a arbitragem no distrito de Beja, Jorge Sousa não tem dúvidas de que “a arbitragem distrital está bem, tem qualidade, apesar de muita gente dizer o contrário”. “Não somos muitos, o conselho teve que ir buscar alguns que já não estavam em atividade, mas, repare, a presença continuada de árbitros bejenses nos quadros nacionais é a prova dessa qualidade”, adiantou.
Porém, Jorge Sousa sabe que a idade lhe condiciona os sonhos. “Já não posso pensar em voos muito altos, a minha meta é entrar no quadro nacional e manter-me por lá, porque a idade já me condiciona noutros objetivos mais ambiciosos”, concluiu.