Diário do Alentejo

Clube Desportivo Praia de Milfontes privilegia a aposta na formação

13 de maio 2023 - 11:30
O Milfontes engordou...
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

“Uma caminhada com altos e baixos” é como David Campos, treinador do Clube Desportivo Praia de Milfontes, define o percurso da equipa do litoral alentejano durante a época desportiva que se aproxima do final.

 

Texto Firmino Paixão

 

David Campos iniciou a temporada como elemento da equipa técnica liderada por Sérgio Rocha, que acabou por sair prematuramente, deixando ao executivo do clube a decisão de cooptar o então treinador de guarda-redes, para assumir as funções de treinador principal. Um desafio prontamente aceite porque, confessa David Campos: “Sou um ‘guerreiro do Mira’ de corpo inteiro e continuarei a dedicar-me a este clube, seja em que função for”.

 

Não se poderá dizer que apanhou o comboio em andamento, porque já integrava a anterior estrutura técnica…

Sim, não foi bem em andamento, por que eu pertencia à equipa técnica desde o início da época. Sou treinador de guarda-redes. Há mais de 15 anos que me especializei nessa área e estava inserido na equipa técnica que iniciou a época desportiva. Em outubro saiu o treinador principal e a direção depositou em mim a sua confiança para assumir esse cargo. Sou um homem da casa e conheço bem a realidade do clube, então, acabei por aceitar esse desafio até ao final desta época e cá estamos.

 

O Milfontes veio daquele processo de suspensão da atividade …

Penso que, naquela altura, tomámos a decisão mais correta, tendo em conta as medidas impostas pelas autoridades de saúde. Somos todos amadores e não podíamos aceitar competir nessas condições. Se tivéssemos um caso positivo, teríamos de estar 15 dias em confinamento, algo que não conseguíamos justificar perante as nossas entidades patronais. Portanto, pensamos que a decisão foi a mais acertada e o tempo acabou por nos dar razão, porque o campeonato acabou por ser suspenso. Mas sentimo-nos um bocado injustiçados com a despromoção administrativa. Entendemos que a Associação de Futebol de Beja deveria ter tido um bocadinho mais de sensibilidade.

 

Mas rapidamente recuperaram o vosso lugar na divisão principal…

Sim. No ano seguinte, quer a direção, quer a equipa técnica e os jogadores, assumiram o compromisso de competir na segunda divisão, mas com o objetivo de recolocar o Milfontes na divisão principal, lugar de onde nunca devíamos ter saído.

 

E nesta época? Cumpriu as metas traçadas?

Na verdade, não. Tem sido uma época bastante difícil. Tivemos muitos jogadores lesionados durante o campeonato. Temos atualmente 17 jogadores seniores, mais dois juniores, muita gente a trabalhar por turnos, há sempre impedimentos e nunca tenho contado com a equipa na máxima força. Tínhamos o objetivo de ficarmos entre os seis primeiros, lutámos por isso quase até final da primeira fase, mas não o conseguimos. Nesta altura estamos a trabalhar para a melhor classificação na fase de manutenção.

 

O Milfontes tem um historial recente, mas uma ascensão muito rápida. Alimentam a ideia de dar um passo mais ambicioso?

Não, isso será uma utopia. Não olhamos para o futuro com essa perspetiva, porque temos muitas condicionantes para ultrapassar antes de pensarmos em disputar um campeonato nacional. Obviamente que estamos inseridos numa zona onde temos muitos miúdos, temos mais de 200 atletas na escola de formação, e o nosso objetivo é formá-los para que cheguem, no futuro, à equipa sénior.

 

Mas a ambição será legítima?

Claro que gostaríamos de um dia chegar mais além, mas para a direção isso é utópico, porque as responsabilidades financeiras e a logística são enormes. As pessoas que dirigem o clube fazem-no pro bono e só conseguimos andar aqui mercê do esforço e dedicação dessas pessoas. Considero que o clube não cresceu em pouco tempo, o Milfontes engordou num tempo muito curto. O crescimento tem que ser sustentado e, quando não o conseguimos, não é por culpa nossa, é por não termos os meios para o fazermos, portanto, vamos trabalhando, dia a dia, para fazermos o melhor possível.

 

Milfontes é uma terra com uma população flutuante. Os adeptos e a comunidade em geral reconhecem o vosso empenhamento?

Temos uma freguesia com 5500 habitantes que, no verão, recebe cerca de 50 000 pessoas. Apesar disso, toda a gente, de norte a sul, conhece o Praia de Milfontes e somos o clube do distrito de Beja com mais seguidores nas redes sociais, se calhar, por causa do turismo, pessoas que nos visitam sazonalmente e que, quando se fala em Milfontes, manifestam o seu apreço e nos acompanham. Mas sentimos muito o apoio das pessoas da terra. Contudo, esperamos que as nossas condições sejam melhoradas, que nos proporcionem melhores infraestruturas. Existe um projeto de um novo parque desportivo, que agora está parado, mas essa será uma fase que poderá alavancar uma nova etapa de crescimento do clube.

 

A formação, já o referiu, é uma das preocupações do clube e já tiveram escalões a competir em provas nacionais. Vai olhando para essa cantera?

Temos uma equipa muito jovem, 80 por centro do plantel é oriundo da nossa formação e disputou campeonatos nacionais de sub/17 e sub/19. Depois, temos alguns que já estão ligados ao Praia há mais de uma década, como o Mikó e o Henrique. Temos esse núcleo para orientar os mais novos. Sei que outras equipas estão cheias de atletas de outras nacionalidades, que procuram uma oportunidade em Portugal. Não tenho nada contra isso, mas nós abastecemo-nos, prioritariamente, na nossa formação. Temos a prata da casa e atletas fidelizados ao clube e temos muito orgulho nisso. Mas estamos abertos a receber toda a gente e até jogadores de fora que acrescentem alguma qualidade à equipa.

 

Já se olha para a próxima temporada?

Em relação à próxima época não está nada definido. Eu tomei conta da equipa por atenção à direção do clube mas, fazendo uma introspeção, também achei, de facto, que era a pessoa mais indicada para aglutinar o grupo e fazermos esta caminhada até ao final da temporada. Como disse, sou treinador de guarda-redes, nunca tive a ambição de ser treinador principal, tenho várias valências e bastantes competências nesta área da formação de guarda-redes, sou formador dos cursos de treinador da Associação de Futebol de Beja, mas nunca tinha tido esta experiência. Surgiu a oportunidade e entendi que devia aceitar, sentindo que não seria a pessoa mais preparada para aceitar a tarefa, mas acho que as coisas correram bem. Sou o mesmo David Campos que assumiu a equipa em outubro, mas também cresci no meu processo de aprendizagem.

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