Diário do Alentejo

Liga de Futsal Adaptado da Associação de Futebol de Beja envolve cinco instituições do distrito

26 de março 2023 - 10:00
O sol quando nasce...
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

A Associação de Futebol de Beja promove regularmente torneios de futsal que envolvem as instituições do distrito de Beja que acolhem pessoas com deficiência. O futebol e o futsal são para todos.

 

Texto Firmino Paixão

 

O Sol nasce para todos e para todas, ainda que essa estrela central não os ilumine, nem bronzeie, de igual forma. Nasce para todos, mas brilha de forma diferente para uns e para outros. Existem fatores, intrínsecos, que condicionam a qualidade da exposição.

 

O desporto, nos tempos modernos, também se diz para todos e para todas. É esse, pelo menos, o novo paradigma das entidades que o tutelam, sendo que nem todos, nem todas, dele podem desfrutar de igual forma, tão variadas são as competências, as capacidades físicas e cognitivas. Porém, aí cresce a felicidade de, pelo menos, em alguns momentos, todas e todos se sentirem iguais quando sobem a esses palcos e lhes cabe o protagonismo, mesmo sendo, inequivocamente, diferentes.

 

A Associação de Paralisia Cerebral de Odemira (APCO), a Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Moura (Appacdm), o Centro de Paralisia Cerebral de Beja (CPCBeja), a Cooperativa para a Educação, Reabilitação e Capacitação para a Inclusão (Cercicoa) e a Cooperativa de Educação, Reabilitação, Capacitação e Inclusão de Beja (Cercibeja) juntam-se regularmente, e de forma alternada, à Associação de Futebol de Beja (AFBeja) na organização de convívios entre os seus utentes, em que a disputa dos golos e dos lances, mais ou menos vistosos, concorre com os momentos que se seguem, de interação e de valorização social. Senão, vejamos alguns dos “flashes” recolhidos no Pavilhão Municipal João Serra Magalhães, em Beja.

 

Sérgio Guerreiro, de 45 anos, é utente do CPCBeja, do qual se autointitula porta-voz, nasceu em Beja, mas cresceu em Odemira, antes de voltar à capital do distrito, após os familiares terem falecido. Sérgio, “sem papas na língua”, foi logo por aí adiante: “Sou muito feliz com aquilo que faço, sou a pessoa mais feliz do nosso centro, estou ali há 10 anos, é a minha casa, sou muito acarinhado. Em Odemira marquei cinco golos, hoje marquei outros cinco. Sou, mais ou menos, como o Cristiano Ronaldo. Umas vezes ganhamos, outras perdemos, mas o mais importante é o convívio. Agora vou ao duche e depois vamos para a quinta da Cercibeja porque é lá o almocinho”.

 

Ao seu lado, Fábio José, de 28 anos, nascido em Almodôvar, utente do lar Vidas Coloridas, da Cercibeja. “Marquei dois golos e gosto muito destes jogos. Há alguns anos que estou na Cercibeja, tenho muitos amigos. Também já pratiquei andebol e pratiquei judo, mas o desporto de que mais gosto é o futsal”.

 

À espera do seu momento para entrar em campo e mostrar as suas competências, Rogério Santos, de 56 anos, nascido em Relíquias, Odemira, e utente da APCO, não mostrou timidez. “Jogo bem, marco sempre golos. Treinamos de vez em quando, mas estes torneios é que são especiais e, daqui a bocado, virá o almocinho. Já nos conhecemos todos e damo-nos muito bem. Sou feliz. O pessoal da APCO é a minha família, são todos meus amigos”.

 

Roberto Carlos nasceu em Barrancos, mas vive em Moura. Sim, tem nome de um famoso cantor brasileiro, mas não se fica apenas pela coincidência. Toca instrumentos de percussão na banda de música Os Leões e, de vez em quando, reforça a banda de Cuba. Toca guitarra e acordeão e é animador de bailes.

 

“A minha paixão é a música, é também o meu ganha-pão, porque é aí que vou ganhando alguma ‘massinha’. Gosto de vir aqui jogar futsal, é sempre um bom convívio, mas onde me sinto mais seguro é na área da música. Tenho de agradecer muito à Appacdm por me terem acolhido, aquela é a minha casa e as pessoas são a minha família, é ali que me dão carinho e amor. Hoje sinto-me uma pessoa muito melhor do que era”. É, assim, o ambiente que se vive em redor do ringue, onde o desporto é para todos e o sol entra envergonhado através das frechas das janelas.

 

Rui Baião é um dos técnicos da AFBeja que coordena estas ações. “O intuito da Associação de Futebol de Beja, ao promover estas atividades, é de o futsal ser um desporto inclusivo e para todos. O mais gratificante é que, durante e após a realização destas atividades, notamos a satisfação no rosto de todos os que desfrutaram destes momentos”, afirmou.

 

Rui Baião garantiu mesmo: “Desde o início que percebemos a sua relevância e, sobretudo, a felicidade dos utentes das instituições que participam. Vê-se que estão aqui com prazer, com muita satisfação e, para além de se sentirem capazes, interiorizam estes momentos como se fosse um objetivo que conseguem concretizar, mesmo aqueles que têm menos disponibilidade física ficam felizes só por entrarem em campo”.

 

Os encontros da Liga de Futsal Adaptado, referiu, “são momentos de inclusão onde estão cinco instituições do distrito, duas em Beja, Almodôvar, Moura e Odemira. O objetivo é que todos os meses seja realizada uma atividade em cada uma dessas localidades. Neste caso, em Beja, e com o apoio da Cercibeja, realizámos o terceiro encontro da época. No próximo mês de abril teremos outro em Moura e, em maio, teremos em Almodôvar. Temos este compromisso e fazemos todo o gosto em ajudar naquilo que estiver dentro das possibilidades da AFBeja”.

 

Rui Baião revelou também: “No final projetamos organizar algo diferente, que ainda está em avaliação, talvez um mega encontro com instituições de outros distritos ou, não havendo essa possibilidade, faremos um encontro distrital em que a AFBeja assumirá a sua parte como anfitriã”.

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