Diário do Alentejo

João Ranhola é o novo campeão nacional da pesca ao achigã de margem

05 de janeiro 2023 - 15:00
Como o peixe na água...
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

“Este título foi o culminar de alguns anos de empenho e de dedicação a esta modalidade, com muitos treinos e muitas experiências que acabaram agora por dar algum fruto. No ano passado já tinha feito um 4.º lugar, este ano consegui melhorar. Aliás, é esse o objetivo de quem está na pesca desportiva, além de todo o convívio que existe nas competições”.

 

Texto Firmino Paixão

 

João Ranhola, atleta do Clube Bejense dos Amadores de Pesca Desportiva, sagrou-se campeão nacional de pesca ao achigã de margem. O percurso competitivo iniciou-se na barragem do Chança, passou pelas barragens de Santa Clara e de Fronteira e terminou em Alqueva. Capturou um exemplar em cada uma das primeiras três provas e “gradou” em Alqueva, ainda assim uma prestação que foi suficiente para chegar ao título nacional.

 

“As provas foram todas muito difíceis, em todas elas capturou-se pouco peixe, pescar um ou dois exemplares nestes dias mais difíceis já faz a diferença. Na prova de Alqueva fiquei realmente um pouco desapontado, porque, tradicionalmente, apanho ali sempre peixe e, nesse dia, as coisas não me correram bem”.

 

O pescador confirmou ainda que, hoje em dia, a pesca desportiva é uma atividade que contribui, inequivocamente, para a preservação das espécies.

 

“Claro que sim, já alguns anos que a pesca desportiva tem essa prática de ‘pesca e liberta’. Nós entendemos a pesca desportiva apenas como um hobby, em que desfrutamos desses momentos especiais com a luta que o peixe nos proporciona e, depois, devolvemo-lo à água, porque, se assim não for, chegará um dia em que não teremos espécies para continuar esta prática desportiva que também tem uma forte componente social”.

 

Além do convívio que sempre proporciona, a pesca desportiva associa um conjunto de fatores em que são preponderantes o conhecimento dos planos de água, o treino, a técnica e, claro, a existência de peixe. Mas… e a sorte? Que peso terá? “A sorte, como alguém disse um dia, dá muito trabalho”, assegurou João Ranhola.

 

“Eu também tive alguma sorte, mas trabalhei para isso. Fiz um 1.º e um 2.º lugar nas duas primeiras provas, resultados que me deram, depois, algum conforto para o resto do campeonato. No próximo ano tentarei melhorar alguns aspetos menos positivos que identifiquei e procurarei repetir o título de campeão nacional”.

 

Um título nacional é sempre uma marca que fica em qualquer modalidade, mas o pescador bejense não sente que ele mude alguma coisa na sua carreira desportiva.

 

“Nem por isso, tentarei ser cada vez melhor pescador, apurar novas técnicas e novas abordagens à pesca desportiva, que é uma modalidade em constante evolução. Continuarei empenhado nas diferentes provas em que costumo participar, tentando superar-me, mas vejo os outros adversários como colegas”.

 

Ainda assim, projeta sempre o emblema que o pescador representa, concordou. “Sim, é importante para o clube que os seus pescadores obtenham bons resultados. O nosso clube é muito titulado, tem um palmarés muito rico, mas é sempre importante contribuir para o enriquecer em termos de bons resultados”.

 

João Ranhola pesca desde muito jovem, mas só na última década se dedicou mais a sério à competição e a evolução está à vista. “Este ano cheguei às últimas provas, quer do regional, quer do nacional, nos primeiros lugares.

 

No nacional fiz uma ‘grade’ na última prova mas, fruto do que tinha feito antes, ainda deu para manter esse lugar. No regional estava também em 1.º, mas a última prova correu-me mal e não consegui chegar ao título”, lamentou o novo campeão nacional, que carrega consigo um apelido de enorme responsabilidade.

 

O pai, Manuel Ranhola, uma figura com grande carisma na pesca desportiva regional, esteve entre os fundadores do Clube Bejense de Amadores de Pesca Desportiva (Cbapd), fundou diferentes núcleos regionais desta atividade e foi, igualmente, um dos dinamizadores e fundador da Associação Regional do Baixo Alentejo de Pesca Desportiva, entidade a que presidiu durante muitos anos.

 

Não admira, por isso, que o filho tenha abraçado esta atividade: “O meu pai é que me meteu este bichinho da pesca desportiva. Desde que me entendo que pesco e que acompanho os meus pais. A minha mãe também pescava e eu, ainda muito novo, naturalmente, ia com eles. Nem sequer me devo lembrar de algumas vezes em que estive à beira da água, porque era tão pequeno mas, à medida que ia crescendo ia entusiasmando-me e comecei a fazer também alguns concursos de pesca à boia, competindo nos escalões mais baixos”.

 

E João sentirá essa responsabilidade, esse legado do pai? “Existe sempre alguma pressão, se calhar, alguma responsabilidade por ser filho de quem sou, de um homem que, ao longo dos anos, tem tido um papel bastante relevante na promoção e incremento da pesca desportiva nesta região, mas eu também já aprendi a deixar isso um bocado de lado”.

 

João Ranhola nasceu em Beja há 43 anos, a mesma idade que tem de sócio do Cbapd, revelou. “O meu pai foi um dos fundadores desse clube e, logo que eu nasci, fez-me sócio, portanto, sou sócio há 43 anos, por isso, representá-lo foi uma escolha óbvia. É um clube que muito estimo, que gosto de representar, enquanto pescador, e nem penso mudar de emblema”.

 

Por outro lado, adiantou: “Também já faço parte dos órgãos sociais e sei bem os esforços que o clube faz para dar alguns incentivos aos seus pescadores. Há outras entidades que ajudam e outras que até podiam ajudar mais, e temos patrocinadores a quem estamos gratos pelo apoio que nos dão. Tentamos fazer o máximo para desenvolver este desporto, que é relativamente caro. Claro que a parte embarcada ainda é mais onerosa, mas aqui já envolve alguns valores em termos de materiais, de deslocações para conhecer as massas de água, para os treinos e competições. E não está fácil”.

 

Na infância, este novo campeão de pesca desportiva jogou futebol, informalmente, na rua com os moços da sua idade e, já na adolescência, foi basquetebolista do Despertar e atleta de triplo salto na Juventude Desportiva das Neves.

 

“Gostei de ter praticado todos esses desportos, acho que essas experiências foram uma boa ajuda para o meu percurso de vida”. Hoje, já mais maduro, sabe que a pesca desportiva é rica em histórias. O maior peixe é sempre aquele que nos escapa, mas, com notável otimismo, disse-nos que: “O maior peixe espero eu que ainda esteja por capturar. Já deixei fugir alguns, mas, é verdade, há sempre histórias, umas verídicas, outras nem por isso”.

 

Comentários