Diário do Alentejo

A bejense Jéssica Pacheco a caminho de Itália para jogar no Lucchese

23 de dezembro 2022 - 13:00
Quero ser feliz...
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

“Se sou uma jogadora talentosa? Não sei! Talvez. Sabe que já jogo futebol desde os meus quatro anos de idade, portanto, atendendo àquilo que tem sido todo este meu percurso desportivo, é porque existirá alguma coisa dentro de mim que me tem proporcionado esta felicidade toda que sinto”.

 

Texto Firmino Paixão

 

A futebolista bejense Jéssica Pacheco, a “Jeka”, procura no futebol a sua expressão máxima de felicidade. Será essa motivação, esse prazer constante que o futebol lhe proporciona, que levará na bagagem quando, no próximo mês de janeiro, viajar para a cidade italiana de Luca, onde irá cumprir a sua segunda experiência no futebol transalpino, depois de uma passagem menos conseguida pela Liga BPI, com a camisola do Torreense.

 

 

“Espero concretizar o resto dos meus sonhos, principalmente, quero ser feliz a jogar futebol. O futebol, para mim, é felicidade, e como já tenho 26 anos, só espero sentir-me bem. No Torreense não me sentia feliz, por isso, decidi mudar. Se a cabeça não está bem, nós também não podemos estar globalmente concentradas, e o nosso futebol não sai como desejamos. Não nos libertamos. Por isso, como me senti bem na primeira vez que joguei em Itália, sinto que as coisas voltarão a correr bem”.

 

“Jeka” cumpriu a época 2020/2021 ao serviço do Ternana, gostou da experiência, ficou agradada com o futebol italiano e decidiu aceitar um novo desafio, agora na cidade de Lucca, na Toscânia, onde representará o Lucchese.

 

A jogadora admitiu que: “No clube, não conheço ninguém, mas já conheço o modelo do futebol, já sei falar italiano, o que vai facilitar a adaptação. Será diferente do primeiro contacto, em que tive que me adaptar”.

 

Mas então porque deixou o Ternana? “Acabou lá o campeonato e eu recebi uma boa proposta para regressar a Portugal. Nem pensei duas vezes, até porque já conhecia o míster Renato (Torreense) e decidi regressar, além de que ficaria mais perto da família, e essa proximidade também é fundamental para o nosso bem-estar”, esclareceu.

 

Em declarações recentes ao diário desportivo “Record”, “Jeka” lamentou que após a saída do treinador Renato Fernandes, do clube de Torres Vedras, e a chegada de Simon Parker, deixou de ser uma das principais opções. “Sim, o inglês Simon é o novo treinador do Torreense, chegou após a saída do Renato. Tive imensa pena dele ter saído, foram opções da direção do clube mas, desde que ele saiu, as coisas deixaram de correr como antes”.

 

Como adiante se verá, pouco lhe faltará fazer no futebol, títulos nacionais em futebol de rua, chamadas à seleção e competição na primeira liga feminina ainda assim fez notar que: “O que procuro agora é a felicidade. Jogar até que as pernas me permitam fazê-lo e depois logo se verá. Já fui também à seleção. Obviamente que gostaria de continuar num patamar mais elevado, mas é sempre difícil, porque a seleção está muito forte”.

 

Mas, afinal, quem é a jovem que se avalia desta forma? “Sou uma jogadora veloz e de drible fácil, sou determinada, nunca dou um lance por perdido, mas também gosto de defender, até já joguei a lateral. Tanto jogo a lateral, como no extremo, faço todo o corredor, mas prefiro jogar no ataque”.

 

Jéssica Pacheco nasceu em Beja, há 26 anos, e começou a carreira no núcleo local do Sporting Clube de Portugal, juntamente com os rapazes. Cresceu e, no escalão de iniciados, como já não existiam equipas mistas, não podia jogar. Então, contou: “Fui jogar um ano para a equipa de futsal do Alcaçovense, porque aqui em Beja não existia nada. Jogava com raparigas muito mais velhas do que eu, mas sempre me mantinha em atividade e, quando o Aljustrelense iniciou o futebol feminino, fui para lá. Joguei com a Ana Capeta”.

 

De Aljustrel rumou à vizinha vila de Castro Verde, onde se revelou. “Claramente, porque no Castrense eu jogava na extrema e marcava imensos golos, e quando terminei o 12.º ano tive logo sete propostas de clubes da primeira liga. Fui treinar ao Sporting, mas não gostei e optei pelo A-dos Francos, porque já conhecia lá pessoal”.

 

Depois, foi sempre a crescer: Estoril Praia, Ouriense e, entretanto, já conta com um palmarés de cerca de uma dúzia de diferentes camisolas. “Na verdade, já tenho uma boa bagagem, tem sido um percurso cheio de boas experiências, procurando sempre crescer e valorizar-me. Julgo que tenho mercado, porque todos os anos recebo propostas, sejam de clubes nacionais, mas também já recebi de Espanha. Agora vamos ver esta nova experiência em Itália”.

 

Influenciada pelo irmão, Fábio Pacheco, seguia-lhe todos ao passos pelas ruas do bairro onde moravam, sempre que o objetivo era jogar à bola. Reconhece, por isso: “Tive uma infância feliz, com momentos que jamais esquecerei”. Uma das histórias que aceitou partilhar é bem curiosa: “Tenho uma recordação muito bonita do meu primeiro jogo pelo Núcleo. Antes, tinha ido treinar no Bairro da Conceição, mas o treinador não me aceitou, dizia que não queria lá meninas. Então, fui para o Núcleo do Sporting mas, o primeiro jogo foi, curiosamente, no Bairro da Conceição e eu fiz três golos. O tal treinador, nessa altura, convidou- me para ir para lá jogar, mas eu recusei. Nunca esquecerei isso. Teve muita graça”.

 

A outra paixão de Jéssica Pacheco é o futebol de rua, modalidade em que, recentemente, conquistou mais um título, na sua cidade. A atleta confessou mesmo que: “O futebol de rua é o outro bichinho que me move, enquanto não for à seleção, não estarei descansada. Temos o mundial no mês de maio, espero estar entre os eleitos, porque a equipa é mista. Irão duas raparigas e eu espero ser uma delas, mas enquanto não for lá, não fico descansada”.

 

E, entretanto, vão três títulos nacionais. “Fui campeã nacional em Braga, com os rapazes, em equipa mista, mas eu era a única menina do torneio. Tenho outro título, conquistado nos Açores, e o terceiro aqui em Beja, este ano. Espero que isso me ajude a estar na seleção, aliás, fui eu que levei as meninas para o futebol de rua, fui a primeira, não havia nenhuma, era só eu, mas fico feliz, porque já estão a surgir mais raparigas”.

 

E o final da carreira já estará no horizonte? “Não! Acho que ainda é cedo, jogarei até que, fisicamente seja possível. Obviamente que, mais adiante, quero ser mãe, mas sei que quando o futebol terminar arranjarei trabalho. Estou confiante e, por agora, muito feliz”, concluiu.

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