Diário do Alentejo

Zona Azul foi eliminada da Taça de Portugal e já prepara o campeonato

29 de outubro 2022 - 12:00
Os velhos problemas...
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

A Associação Cultural e Recreativa Zona Azul, de Beja, caiu logo na 1.ª eliminatória da Taça de Portugal, em seniores masculinos, derrotada, em casa, pela formação lisboeta do Esfera Andebol Masters.

 

Texto Firmino Paixão

 

Taça de Portugal já faz parte do passado. Os novos desafios passam pela participação no Campeonato Nacional da 3.ª Divisão. Novos desafios, com os velhos problemas, dos quais o treinador Carlos Guerreiro se queixa recorrentemente: a ausência de atletas para trabalhar durante a semana. Mas o técnico também se queixa da Federação de Andebol de Portugal que, diz Carlos Guerreiro, “se demite da sua responsabilidade de organizar o campeonato nacional da 3.ª divisão”.

 

O Esfera foi um adversário difícil que não vos deixou ir além da primeira eliminatória da Taça de Portugal?

Sim, é verdade, jogámos contra um adversário com qualidade, um clube novo, que não conhecíamos em termos daquilo que a equipa poderia valer em termos globais. Tínhamos apenas conhecimento de alguns valores individuais, mas sabíamos que teríamos dificuldades. Começámos por ter dificuldades, também porque tivemos muita gente indisponível para este primeiro jogo, por variadíssimas razões, as piores foram por lesões. Tenho um plantel curtinho, sobretudo com os que estão por Beja, e estávamos bastante limitados em termos de primeira linha.

 

Mas a equipa bateu-se bem…

Sim, no cômputo geral, acho que fizemos um bom jogo, mas fica, sobretudo, um amargo, porque sabemos que, em condições normais, estes são adversários com os quais nos podemos bater e, se calhar, até superiorizar-nos. Mas treinamos pouco. Agora, em termos de entrega, os atletas foram formidáveis. Aliás, fazemos, todos, um esforço enorme, começando pela direcção do clube, treinadores, atletas, para que continue a existir a equipa sénior. A única coisa que não deve acontecer é que, depois, não tenhamos a recompensa ao sábado quando jogamos, mas a recompensa nem sempre é ganhar, é termos uma atitude positiva no jogo, sermos competitivos, gostarmos de jogar, querermos disputar cada jogo e cada lance e, nisso, os atletas estão de parabéns, porque foi tudo isso que fizeram. Para nós, enquanto treinadores, obviamente que fica esse amargo, porque, mesmo com estas limitações e com a juventude do plantel, se os pudéssemos ter todos em Beja para treinar seria diferente. Nós próprios, no banco, queremos fazer coisas que o jogo nos vai pedindo mas que não temos tempo para trabalhar durante a semana, essa é a frustração.

 

O percurso na Taça não seria muito exigente, tirando, porventura, um ou outro jogo…

A Taça, para nós, serviria, sobretudo para fazermos mais jogos. Quando estávamos na 2.ª divisão a Taça era um problema, sobrecarregava-nos de jogos e nós tivemos sempre plantéis curtos. Neste momento, na 3.ª divisão, e com um calendário com tão poucos jogos, a única vantagem seria, eventualmente, podermos fazer mais um ou dois jogos. Mas, nesta etapa inicial, apanhámos logo um adversário ao qual não nos conseguimos superiorizar.

 

O campeonato será organizado pela Associação de Andebol de Setúbal e a vossa série terá apenas cinco equipas...

É muito curto. Estar na Associação de Setúbal ou na do Algarve é igual. A minha principal crítica, e faço-a há muito tempo, é que a Federação de Andebol de Portugal não se pode demitir de organizar o campeonato da 3.ª divisão. A federação lava as mãos, relativamente àquilo que se passa da 2.ª divisão para baixo. Delega competências, mas as delegações, umas vezes correm melhor, outras correm pior. Este ano, surgiram menos equipas no Algarve e encaixaram-nos na Associação de Setúbal, que fez os seus calendários em função dos seus clubes, penalizando-nos claramente a nós e à equipa de Loulé. No calendário inicial teríamos, apenas, um jogo no ano de 2022. Manifestámo-nos contra isso, nós e o Loulé, mas as melhoras não foram muitas. No segundo enquadramento teríamos dois jogos para cada equipa, antecipámos o jogo entre nós e o Loulé, que seria em janeiro, e faremos três jogos até ao final do ano.

 

Mesmo assim estarão sem competir entre 17 de dezembro e 21 de janeiro…

Repare, agora até teríamos muito tempo para fazermos jogos de campeonato. Muitas destas equipas têm atletas estudantes e vamos ter os jogos carregando na época de exames, em janeiro e fevereiro. Por isso, digo que existe uma falta de perspectiva, uma falta de capacidade organizativa e de percepção daquilo que se passa no terreno, mas apenas e só, volto a dizer, porque a Federação se demite da sua responsabilidade de organizar o campeonato, algo que deve dar um bocadinho de mais trabalho e de mais problemas, do que propriamente retorno. Mas, se queremos andebol no país todo, temos que ter a coragem de olhar para quem está mais longe dos grandes centros.

 

A Associação que vos tutela não teve uma palavra a dizer nessa questão?

Quem nos tutela é a Associação do Algarve, que nos tem defendido, isso nunca esteve em causa, mas a minha principal manifestação de desagrado é com a Federação. Ainda há pouco tempo, por ocasião da final a quatro da Supertaça, em Serpa, estivemos numa formação que foi ministrada aos treinadores, e ouvimos o presidente da Federação falar da sua perspectiva e da preocupação de olhar para o país como um todo. Mas o país como um todo não são só aqueles dois em que se jogaram a meia-final e a final de uma competição em território do interior, em que os holofotes estavam todos para ali virados. O país todo tem que ser olhado de forma constante e permanente.

 

Terão como adversários o Redondo, o Pinhal de Frades, o Évora, o Loulé, um lote de cinco equipas onde passarão duas para a fase seguinte. A zona Azul pode ser uma delas?

Vamos ter muitas dificuldades. Claro que faremos tudo aquilo que fizemos no jogo da Taça de Portugal. Lutaremos por cada lance, por cada ponto, por cada vitória, mas, honestamente, a avaliação que faço é que teremos mais dificuldades. Temos jogadores a fazer pouquíssimos treinos antes dos jogos, fruto da sua vida profissional ou académica, depois também perdemos dois jogadores importantes, da época passada. O Loulé tem uma boa equipa e os atletas disponíveis para treinar, o Évora veio da 2.ª divisão, uma prova mais competitiva, o Redondo tem os atletas disponíveis a tempo inteiro e o Pinhal de Frades também é, assumidamente, um candidato a seguir em frente, Portanto, as nossas dificuldades serão imensas.

 

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