Diário do Alentejo

Francisco Palma vai nadar pelo Sporting Clube de Portugal

02 de outubro 2022 - 10:15
O jovem é a a grande referência da natação da Zona Azul
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

Um percurso “colorido”. Foi esta a definição que o nadador Francisco Palma encontrou para melhor definir o seu trajeto de cerca de 14 anos a conquistar medalhas e a bater recordes, com a camisola da Associação Cultural e Recreativa Zona Azul, emblema da cidade de Beja.

 

Texto Firmino Paixão

 

O sonho de se tornar num engenheiro aerospacial levou o Francisco Palma para a capital do País, cidade onde continuará a nadar, não em tons de azul, aqueles com que conquistou 91 medalhas e bateu 60 recordes regionais, mas em tons de verde, no Sporting Clube de Portugal.

 

O seu treinador, o professor Carlos Filipe Paixão, não teve dúvidas em concordar que “a natação da Zona Azul perdeu a sua maior referência”, mas, afirmou que “a vida é feita de ciclos. Este terminou, não sabemos o dia de amanhã, nem se ele poderá voltar, mas, agora, terminou o ciclo do Francisco na Zona Azul”.

O técnico sublinhou que o nadador “fez um percurso fantástico a todos os níveis, constituiu-se como a grande referência da natação da Zona Azul, a prova disso é que é o atleta com maior número de recordes do clube. Marcou uma geração, serviu de inspiração para os que virão a seguir e que tiveram a oportunidade de trabalhar com ele. Espero que aproveitem”. Fez também notar que “ele deixou uma semente para o futuro, deixou a sua marca, o seu trabalho e a assiduidade aos treinos. É um miúdo que estava sempre a trabalhar, a esforçar-se e era muito dedicado. O fruto dessa dedicação foram os pódios, as medalhas, os recordes, alguns apuramentos para campeonatos nacionais, um percurso muito bonito do qual só se pode orgulhar, como nos orgulhamos nós, de termos trabalhado com ele”, rematou.

 

O Francisco iniciou-se na modalidade aos quatro anos. Nos últimos seis, já como atleta de competição, percorreu todos os escalões, de infantil a júnior. Sobressaiu em todas as disciplinas e distâncias, mas é no estilo “costas” que tem conseguido melhores resultados. Um percurso desportivo que tem valido a pena, concordou o jovem nadador, de 18 anos.

 

“Sim tem sido muito gratificante. Tenho gostado imenso deste meu percurso, faço tudo com enorme prazer e, enquanto isso acontecer, continuarei a fazê-lo, a nadar, ou a fazer outro tipo de desporto, porque me sinto bem e tem-me proporcionando momentos de muito prazer, muita alegria. Por isso, não estou nada arrependido de ter enveredado por este caminho, só me tem dado vantagens, mesmo tendo a consciência de que tenho que abdicar de algumas coisas para me dedicar mais intensamente à natação de competição. Acho que, no final, valerá sempre a pena tê-lo feito”.

 

Por outro lado, deixou a nota: “O desporto, principalmente, tem-me dado muita maturidade. Lá está, não é só fazer desporto, é praticá-lo a um nível mais elevado, exige que tenhamos mais autodisciplina, sabermos controlar-nos e tomar as melhores decisões, por isso, obriga-nos a crescer. Até ao momento tenho sido um miúdo certinho, mas sinto que já consigo olhar para as coisas numa perspectiva mais racional e objectiva”.

 

O seu palmarés, o sucesso que alcançou como nadador, tornou-o uma boa referência para os atletas mais novos do clube. Será que o Francisco se sente bem nessa “pele”?

“Não sinto nenhum desconforto por isso, mas também não valorizo muito esse facto. Nunca pensei nisso, nem sinto qualquer pressão por ter os resultados que tenho. Falo e brinco com todos de igual forma, acima de tudo com aqueles que treinavam comigo, para os incentivar a gostar do treino, porque, com boa disposição, com alegria, o treino torna-se mais fácil”.

 

Quase uma centena de medalhas, a maior parte delas de campeão regional nas diferentes técnicas e distâncias. É obra?

“Sim, o meu treinador pediu-me para eu fazer essa contabilidade e eu surpreendi-me porque, de facto, não tinha a noção exata de serem tantas. Os anos vão passando, as provas são muitas e eu ia guardando as medalhas e só quando contei 91 é que percebi que estava quase a chegar à centena. Realmente, de vez em quando, sentia necessidade de aumentar a capacidade da caixa onde as guardo, mas não pensei que já seriam tantas”.

 

O jovem nadador bejense tem também o maior número de recordes entre os nadadores da Zona Azul: 34 em piscina curta (25 metros), 26 em piscina olímpica (50 metros), indicadores de uma constante evolução, concordou.

 

“Sim e principalmente nesta época. Mas lembro-me que nas primeiras épocas em que competi também bati alguns recordes regionais no escalão de infantil. Mas, de facto, a última época foi aquela em que fiz cair mais recordes, principalmente nos 100 metros costas e 100 metros estilos, tanto em piscina curta, como longa e, pronto, fiquei muito feliz. E nos campeonatos nacionais voltei também a bater um recorde regional”.

 

Fechado este ciclo com a camisola do clube das Alcaçarias, o Francisco enfrenta novos desafios, embora sentindo, já, alguma nostalgia. “Claro, já existe um bocadinho de saudade. Nesta altura já estaríamos na piscina de Beja a começar a preparação de uma nova temporada, principalmente apurando a forma física e a ganhar resistência, antes propriamente, de ir para a água. Mas pronto, foi um ciclo que se fechou e a vida continua”.

 

As próximas braçadas serão dadas com a camisola verde e branca do Sporting, um compromisso que surgiu com naturalidade.

“Como vou estudar para Lisboa, o meu treinador falou com os dirigentes do Sporting e tudo se concretizou no sentido de eu começar já a treinar em Lisboa e representar o clube. Tudo depende de um período de adaptação, um momento de mudança, de coisas novas, mas se tudo correr como penso, continuarei pelo Sporting nos próximos tempos”.

 

A competir por um clube de topo nesta modalidade, Francisco Palma pode começar a surgir nos pódios das provas nacionais, contudo, confessa não ter pensado muito nisso. Elege uma boa adaptação como prioridade, mas quando lhe recordamos o recente sucesso do nadador benfiquista, Diogo Ribeiro (conquistou duas medalhas de ouro e uma de bronze e fez cair um recorde mundial na sua categoria), revelou que são exemplos motivadores.

 

“Motiva sempre, até pelo facto de ser um português e nós, às vezes, pensamos que a natação em Portugal não está a um nível tão elevado como noutros países, mas o facto de ele ter conseguido esse feitos, mostra-nos que, afinal, também é possível chegarmos onde os outros chegam”, concluiu.

 

 

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