Diário do Alentejo

O São Domingos Futebol Clube comemorou, na segunda-feira, 100 Anos

13 de agosto 2022 - 11:00
Um marco histórico...
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

O São Domingos Futebol Clube, histórico emblema nascido na Mina de São Domingos, completou, na segunda-feira, 15 de agosto, um século de existência. Foram muitos anos, muitos meses, muitas horas de paixão de muita gente anónima, para que o clube sobrevivesse até aos dias de hoje. 

 

Texto Firmino Paixão

 

Na Mina de São Domingos, localidade hoje integrada na freguesia de Corte Pinto, no concelho de Mértola, antigo polo mineiro para extração de cobre, ouro e prata, nasceu, no dia de Santa Maria do remoto ano de 1922, o São Domingos Futebol Clube (São Domingos Foot-Ball Club na versão original).

 

Esgotado o filão, já na segunda metade do século XX, a Mina de São Domingos mantém, ainda hoje, os vestígios da mineração. São estes traços, essas memórias do passado, que tornam a terra acolhedora. Muitos dos seus filhos, que saíram à procura de uma vida melhor, regressam neste mês, em dias de canícula que a Praia Fluvial da Tapada Grande vai refrescando.

 

Quando se chega à Mina de São Domingos, sente-se um ambiente invulgar. É o ar que se respira, a tranquilidade das ruas, largas e muito limpas, revelando uma urbanização com estética muito cuidada.

 

Aventuramo-nos por essas “veias” ladeadas pelo casario branco, que outrora não possuía janelas, para minimizar os efeitos da poluição. Vamos até ao “coração” da terra. As poucas pessoas que circulam tomam a direção da praia, são forasteiros ou emigrantes que vêm refrescar a saudade.  Os outros, os que aqui vivem o dia-a-dia, reúnem-se nas suas tertúlias.

 

A terra tem os seus pontos de referência. A reerguida igreja de São Domingos (as duas anteriores foram destruídas), a Casa do Mineiro, o Centro Republicano, o Musical, a Fundação Serrão Martins e, porque não, o Campo de Jogos Cross Brown (afinal foi isso que nos trouxe até aqui), recinto construído há quase 70 anos e nomeado de “Cross Brown”, como tributo ao engenheiro da empresa mineira “Mason & Barry”, que se empenhou pessoal e interessadamente na sua edificação (História do Desporto no Distrito de Beja, Melo Garrido, edição do autor, 1956). Foi esse campo, palco do primeiro jogo internacional realizado a sul do país, que visitámos há dias.

 

António Calhegas, o histórico diretor desportivo do São Domingos, antigo atleta, ex-árbitro de futebol, cidadão dedicado ao emblema da sua terra, foi o nosso guia pelos quatro cantos e recantos do “Cross Brown”. E foi aí, nesse histórico palco, que nos confidenciou: “Sou dirigente há trinta e seis anos, mas, neste momento, não posso esquecer todos os outros dirigentes que passaram por este clube, não foram muitos, mas todos eles foram dedicados ao clube”.

 

Contudo, admitiu que a sucessão não é fácil. “Fazem-se eleições, ninguém dá o passo em frente e, quem está, é obrigado a continuar, como tem acontecido comigo, mas eu prefiro morrer aqui dentro do campo da bola, do que ver tudo isto cair. Se não existirem soluções eu continuarei disponível para o São Domingos. Um dia que surja uma solução diferente, sairei, porque também sei que ninguém é eterno, nem insubstituível. Tenho que louvar as pessoas que querem fazer parte dos órgãos sociais do São Domingos, fazem-no por amor ao clube”.

 

Desistir, é algo que não faz parte do léxico do carismático Calhegas: “Não viro as costas a isto. Nunca! Eu tinha dois sonhos. Um era chegar até ao centenário, o outro é o piso sintético no campo de jogos. O campo tem sido beneficiado, naturalmente, com o grande apoio do município de Mértola. Está muito melhor do que estava há uns anos atrás. Não tínhamos transportes, hoje em dia já possuímos três carrinhas”.

 

O piso sintético teria sido uma prenda fantástica para o clube assinalar o seu centenário, admitiu, compreendendo as dificuldades.

 

“Sim, mas nós sabemos que essas coisas não se fazem de um dia para o outro, existem sempre problemas para ultrapassar e vejamos, no distrito de Beja, quem é que já possui campo sintético. Recentemente surgiram alguns, mas compreendo que a prioridade será sempre a sede de cada concelho, e depois, evoluindo para as freguesias. Acho correto, até porque é muito mais fácil organizar uma equipa na sede de concelho, do que em terras onde a juventude é quase inexistente. Mas tenho esperança de que, muito em breve, possamos ter o nosso campo com relva sintética. Como já cheguei ao centenário, já agora vou ver se consigo ver aqui um sintético e depois já posso morrer à vontade”.

 

A equipa para o próximo campeonato está já em construção, mas ainda não se pode falar em escalões de formação.

 

“Ultimamente tem sido difícil, sobretudo desde que existe o campo sintético em Mértola, porque os miúdos querem jogar lá, mas acredito que se nós já possuíssemos um piso sintético, os miúdos da margem esquerda vinham todos para cá e não iam para mais sítio nenhum. Uma camisa nova é melhor que uma camisa rota e o São Domingos, por ora, tem um campo roto”.

 

Roto, não diremos, empoeirado, isso sim, mas as finanças do emblema estão equilibradas. “Sim, o clube está bem e recomenda-se. Não deixarei que o São Domingos tenha problemas financeiros, não entramos em loucuras. Temos cerca de 270 sócios. Nós não pagamos nada a ninguém, mas conseguimos sempre arranjar jogadores. Lembre-se que há sempre quem queira jogar à bola ou quem queira vir à bola. É diferente sabe… Existe sempre aquela velha questão, que é a diferença entre os jogadores que dizem, ‘eu vou ao treino’ e outros, ‘eu vou treinar’. Não é bem a mesma coisa”. Pois não…

 

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