O Mértola United Futebol Clube é, inquestionavelmente, a novidade desportiva deste início de época desportiva. Um projeto novo, nascido na “Vila Museu”, cujos contornos já aqui foram revelados em passado muito recente, pelo seu dirigente Pedro Madeira. Hoje, o protagonista é outro.
Texto Firmino Paixão
Valdemar Afonso é um transmontano, com 72 anos, que, pelo futebol, e com o futebol, já percorreu quase os ‘quatrocantos do mundo’. Na sua carreira de mais de quatro décadas, foi adquirindo formações, foi valorizando o seu currículo, experienciando diferentes culturas, diferentes sensibilidades, mas também diferentes olhares sobre o futebol, esse jogo, essa arte, essa indústria.
Mas hoje, chegado ao interior do Alentejo, Valdemar Afonso não tem dúvidas “O que eu mais valorizo é o meu ‘curso’ de experiências pelas diferentes partes do mundo. Essas experiências, essas vivências, é que me fizeram muito mais conhecedor do futebol e, essencialmente, do ser humano, e é nisso que eu tenho trabalhado afincadamente”. O timoneiro deste novo projeto desportivo vairecebendo atletas, molda-lhes a técnica e o caráter e fá-los abrir os horizontes e ganhar asas para voarem para outras paragens, como explicou ao “Diário do Alentejo”.
Trabalhando como um “oleiro” do futebol, modela, aperfeiçoa e valoriza?Este projeto passa realmente por recebermos jogadores oriundos de diversos países, para fazermos a sua integração e valorização. Temos que avaliar a condição deles, percebermos melhor as suas características em termos competitivos e depois veremos como é que podemos fazer a integração de todos eles neste projeto. De facto, alguns destes jogadores poderão sair, aliás, já saiu um para o Vianense, e este projeto visa isso mesmo, competirmos aqui no campeonato distrital e valorizar os jogadores.
Certamente que já identificou alguns atletas com elevado potencial...Temos aqui qualidade, não em quantidade, mas temos qualidade num número mais reduzido e com grande potencial para despontar. E repare nesta curiosidade, temos aqui um jovem, de quinze anos, que vi jogar num torneio, o Mértola Cup, e disse logo à direção para ver se conseguia que esse menino viesse para junto de nós. Ele veio e está a revelar-se uma agradável surpresa. Talvez, dentro de algum tempo, possamos ter mais um jovem do Alentejo a despontar no futebol nacional.
Um primeiro passo para a integração dos jovens desta comunidade no projeto do Mértola United?Precisamente. É muito importante, e eu até deixo um apelo a todos os jovens desta terra, deste distrito ou de outroslocais do Alentejo que queiram vir fazer uma experiência connosco. Se lhes agradar, são bem-vindos, pois estou convencido que, tal como este jovem muito prometedor, que encontrei aqui em Mértola, haverão por aí ouros com essa capacidade e com esse talento em outras terras do Alentejo, porque o distrito de Beja é muito extenso, e achoque poderíamos dar visibilidade a esses atletas desta região.
O Mértola United treina duas vezes por dia procurando competir com equipas que venham estagiar ao sul do país?Sim, essa é uma das ideias. Mas os treinos são feitos com muitos cuidados nas cargas, em horários diferenciados,exatamente para fugirmos ao calor. Mas estes jogadores, que são profissionais, vieram para aqui, comem, dormem,estão ali na residência e não podem estar parados. Temos que exteriorizar todo o talento desses jovens, uns vêm doBrasil, outros de França, de Inglaterra, da Guiné-Bissau, de Lisboa e do Porto. Como vê, há diferenciação de hábitos, de culturas, de religiões. Só através dos treinos é que potenciamos a parte prática e teórica. Estamos a fazer um trabalho para que, dentro de um mês, tenhamos as coisas mais equilibradas e capazes de começarmos o campeonato e também darmos uma resposta progressiva nos jogos amigáveis que vamos efetuar. Fizemos o primeiro, com o Farense, já deu para tirar ilações, e a partir daí teremos oportunidade para a equipa ficar mais consistente e eu ficar a saber mais dos próprios jogadores. Mas também vamos fazendo preparação para, como eu costumo dizer, outros futebóis, o futebol de outros países onde irão encontrar novos hábitos.
Conhecia a realidade do futebol alentejano? O futebol é um jogo universal…Sou natural de Bragança e treinei diversas equipas na 2.ª e 3.ª divisão nacional no norte do país, desde Bragança,Valpaços, Melgaço, Valença do Minho, etc. Viajei para Angola, para o Senegal, daí fui para Londres e treinei em Inglaterra, estive em Malta, onde fui campeão, e estive na Holanda. Ultimamente estive numa grande Academia, emLondres, mas surgiu este projeto e eu queria regressar ao meu país. Quero dizer-lhe, com isto, que estava há 20 anos fora de Portugal e as coisas mudaram muito desde o meu tempo. Joguei no Salgueiros, era um futebol. Quando comecei a treinar, era outro. Hoje, passados 20 anos, as coisas estão modificadas a muitos níveis e eu também tenho que fazer essa adaptação às diferentes realidades. Mas essas viagens pelo mundo do futebol deram-me valências, experiências que, agora, poderei partilhar com estes atletas, para o seu processo de crescimento.
Parece confiante no sucesso desportivo e social deste projeto...Sim, na parte desportiva estou muito confiante, porque estamos sempre a receber jogadores com muita qualidade.Na área social, nós sabemos que existem outros clubes, que respeitamos muito, e até quero deixar aqui vincado quenós estamos dispostos em colaborar com todos os clubes da Associação de Futebol de Beja. Deixei isso bem expresso ao senhor presidente da associação e a nossa disposição é essa: nada de conflitos, colaboração total. O mesmo comuniquei ao senhor presidente do município de Mértola, disponibilidade para qualquer tipo de apoio ou colaboração. O Mértola United não está aqui para tirar o lugar a ninguém, mas para criar algo que aqui não existia, uma equipa sénior, mas queremos ir mais além criando uma equipa de juniores e uma de futebol feminino. Mas também quero deixar claro que fui muito bem recebido, as pessoas são muito agradáveis, muito simpáticas, gosto imenso de estar cá. O único senão é o calor.