Diário do Alentejo

Futebol Clube de São Marcos é "uma família"

04 de fevereiro 2022 - 15:10
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

O Futebol Clube de São Marcos conseguiu a segunda vitória no Campeonato Distrital da 1ª Divisão da Associação de Futebol de Beja. Os três pontos conquistados ao Piense, que apagaram a ‘lanterna vermelha’, serão, inevitavelmente, um enorme estímulo para os desafios vindouros.

 

Texto Firmino Paixão

 

Os últimos não se abandonam. Sublinha-se até o mérito pelo esforço de participação e acentua-se o reconhecimento das dificuldades com que muitas vezes se debatem e que são inúmeras e de variadíssima ordem. São Marcos da Atabueira (com u, segundo o foral, por ter origem na atabua, planta que abundava no território) é uma freguesia rural do concelho de Castro Verde, com pouco mais de duas centenas e meia de habitantes, maioritariamente envelhecidos, repartidos, igualitariamente, pelos dois sexos. A povoação dista cerca de 14 quilómetros da sede de concelho. Nos últimos dez anos a freguesia terá perdido cerca de 23% da sua população.

 

E é neste quadro que o Futebol Clube de São Marcos, clube fundado em finais da década de oitenta, tem sobrevivido ao longo dos 33 anos de existência, com altos e baixos, com subidas e descidas de divisão, mas mantendo sempre acesa a chama do associativismo, tão importante numa terra do interior do Alentejo. No seu palmarés consta o título de campeão distrital da 2ª divisão, na época 2003/2004, e a conquista da Taça de Honra da 2ª Divisão, em 2017/2018, competições organizadas pela Associação de Futebol de Beja.

 

O percurso, como se adivinha, não tem sido fácil, que o ateste o histórico dirigente Manuel Tomé que, durante muitos anos, ‘carregou esse fardo’ para manter em atividade o São Marcos. Mas o clube ficou também na história por terem vestido a sua camisola, em época idas, jogadores como Fernando Mendes, Jorge Cadete, Pitico, Mané, Bruno Xavier, Hajry, grandes estrelas, então já cadentes, do futebol nacional.

 

Na época em curso, com o clube já presidido por Joel Tomé, o lateral esquerdo da equipa, o clube foi uma das formações que, vindo do escalão secundário, integrou o lote de doze emblemas que disputam o campeonato principal da associação bejense. Começou a temporada com o técnico Márcio Mestre, técnico que nas duas épocas anteriores vinha ocupando o lugar, ao qual renunciou em finais do ano findo. Foi nessa altura que José Palma aceitou atravessar a ribeira de Terges e Cobres, desde Entradas (onde treinava o clube local) até São Marcos, para assumir o lugar em aberto no comando técnico da formação que ocupava já o último lugar do campeonato, a mesma posição que o Entradense ocupa na sua série, no campeonato do escalão inferior.

 

Naufrágio por naufrágio, talvez o São Marcos seja uma boia mais segura. Mudanças que têm em comum a manutenção de Filipe Estêvão como treinador adjunto, um lugar que tem ocupado nas últimas três épocas. Antigo jogador do Castrense, foi ele quem orientou a equipa na receção ao Piense, em jogo antecipado à jornada, que deveria realizar-se no dia 30 de janeiro, e que ocorreu no sábado de dia 15 de janeiro. O São Marcos tinha chegado a esta ronda antecipada, apenas com quatro pontos, três conquistados no terreno do Renascente, e um ganho em casa, no empate com o Despertar, resultados com a assinatura de Márcio Mestre. Por impedimento do técnico principal, foi Filipe Estevão quem festejou o sucesso desta sua estreia a solo, no comando da equipa, que resultou na vitória por uma bola zero frente ao Piense. No final, disse ao ‘Diário do Alentejo’ estar “muito orgulhoso por esta vitória que conseguimos hoje. O míster José Palma deixou-me este jogo na mão e nós conseguimos ganhar, fruto do empenho equipa, mas vamos dedicar o triunfo ao José Palma”. Justificou também que “o resultado foi fruto do trabalho que se vem fazendo ao longo da semana. É o resultado do esforço do coletivo do São Marcos: jogadores, técnicos, dirigentes, todos os que estão empenhados neste processo. Quando se trabalha em equipa conseguem-se bons resultados”.

 

O São Marcos conseguiu a primeira vitória no seu terreno, ‘matou o borrego’, como costuma dizer-se, concordou Filipe Estêvão. “Sim, só tínhamos a vitória que conseguimos em São Teotónio e um empate em casa com o Despertar, mas temos que manter este espírito de conquista nos jogos com as equipas do nosso campeonato. Repare que existe muita diferença entre as primeiras seis equipas e as restantes e, nesse segundo lote é que teremos que fazer o nosso campeonato. Temos que pontuar com as equipas dessa zona da tabela. Como? Levantando a cabeça, lutando, batalhando e respeitando os adversários”.

 

As dificuldades são muitas, mas atenuam-se, salienta o técnico, porque “somos uma família. Ninguém ganha aqui nada, a não ser o petisco no final do jogo. Seguiremos o nosso caminho, com as dificuldades habituais, porque a semana de treino não é fácil, aparecem nove e dez jogadores, porque trabalham em turnos, nas minas, e as coisas não são fáceis. O piso pelado também não ajuda, não atrai novos jogadores, só estamos cá nós porque isto é verdadeiramente uma família. Joguei muito em pelados, sofri muito, mas hoje os jogadores, mesmo na formação, não querem praticar em pelados, estão cá os jogadores que eram praticamente da equipa B do Castrense, mas não nos tem faltado nada e espero que esta vitória seja um estímulo para que possamos inverter o percurso da equipa até aqui”.

 

Ter o presidente do clube no plantel facilitará a escolha do onze para cada jogo? É o Joel e mais dez? “Nem por isso” – assegura – “O Joel Tomé tem esse conhecimento, é presidente, mas é um jogador igual aos outros, se não trabalhar o suficiente durante a semana, terá que ir para o banco”. Mas aí não deve ser fácil tê-lo ao lado, atalhámos. “Não é fácil, não, porque ele vive muito o futebol”, reconheceu Filipe Estêvão, treinador que, um destes dias, terá que sair da sua zona de conforto e assumir um projeto. “Um dia isso acontecerá. Tenho essa ambição, por enquanto estou bem assim, gosto do trabalho do míster e é assim que continuaremos. Esteve cá o Márcio, que também deu provas de ser um bom treinador, tenho que lhe agradecer, porque a maioria do que sei aprendi com ele, mas a vida é assim, quando os resultados não aparecem, é mais fácil sair o treinador”.

 

 (Artigo publicado na edição nº 2074 a 21 de janeiro 2022)

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