Diário do Alentejo

Perfil de Peter Knight: paixão pelo atletismo

05 de agosto 2021 - 15:35

Texto Firmino Paixão

 

“All's well that ends well” ou “tudo está bem quando termina bem” é o nome de uma peça de teatro escrita por William Shakespeare, o poeta, dramaturgo e ator inglês nascido em Warwickshire, terra natal também do seu contemporâneo, empresário e atleta, Peter Knight, de 60 anos, licenciado em Biologia, Agronomia e Economia. Vamos conhecê-lo melhor: nasceu, em 1961, no centro de Inglaterra, na zona de Stratford-Upon-Avon, no condado de Warwickshire, a terra do Shakespeare. Em 1983, com 22 anos, veio para Portugal, mais concretamente para o concelho de Odemira, “ensaiar” a cultura de alfaces.

 

“Quando cheguei a Portugal, depois de ter acabado a licenciatura em Biologia e ter fundado a Iberian Salads, comecei a fazer ensaios de cultura de alfaces. Conhecia uma cadeia de supermercados (a Marks & Spencer) que não estava muito feliz com o seu fornecedor de alfaces de inverno, instalado em Espanha. Tive sorte, eles escolheram os produtos deste clima, que é único na costa alentejana. Como certamente viu, tem existido agora toda esta polémica das estufas, porque é um território com um clima fantástico e com uma temperatura amena, sem calor excessivo no verão, nem frio extremo no inverno… é realmente um paraíso, o problema, daqui para a frente, vai ser a água. Vim por um ano e ainda cá estou, principalmente por ter descoberto esta região do Baixo Alentejo que é um paraíso; ainda é um paraíso para viver. Até já criei aqui família e tenho quatro filhos”.

 

No seu país sempre fez corrida, principalmente corta mato e, uma vez em Portugal, entrou para o Núcleo Desportivo e Cultural e Odemira “para correr as provas populares”, tendo disputado no Sporting Clube de Portugal as provas federadas, “numa equipa de sonho treinado pelo professor Moniz Pereira, onde estavam ainda o Carlos Lopes e o Fernando Mamede, o Ezequiel Canário e muitos outros”.

 

Estamos, portanto, perante um atleta de eleição? “Sabe, no Sporting, nessa época, qualquer atleta que fosse bom, ou mau, era sempre da equipa bê. Mas, sim, ganhámos vários títulos, vencemos um Campeonato da Europa com os gémeos Castro, e eu estava em forma… depois, comecei a montar a empresa em Boavista dos Pinheiros, e fiquei com menos tempo para treinar”.

 

Já veterano, mas ainda habitual concorrente (com títulos conquistados) dos campeonatos regionais, Peter Knight deixa uma sugestão aos organizadores de provas: “Uma coisa muito boa que se faz em Inglaterra, em termos de organização de provas, é que temos a identificação do escalão dos atletas na camisola, tal e qual como o dorsal. Estou sempre a dizer isso às pessoas daqui. Quando vou a Inglaterra fazer provas, mesmo com os veteranos, qualquer atleta tem, na parte posterior da camisola, a identificação do escalão, e isso faz uma grande diferença para quem está a correr, porque ajuda a perceber quais são realmente os nossos adversários e a posição em que estamos na corrida. Não sei porque é que aqui não adotam essa prática”.

 

Contudo, em Inglaterra, como no Alentejo, a modalidade atravessa tempos difíceis. “As pessoas não querem treinar, os jovens com 14 ou 15 anos, a idade em que realmente começam a fazer a diferença, não treinam, e um bom, ou uma boa, atleta é aquele que aceita treinar com intensidade e com uma boa frequência diária. Mas os jovens, hoje em dia, não estão para isso, porque existem muitas alternativas e muitos ecrãs, e depois, infelizmente, perdem-se alguns valores nesta modalidade”.

 

Entretanto, corria o ano de 1992, Peter Knight montou uma nova empresa, no litoral alentejano, que produzia relva; e que vendeu em 2018. “Com a empresa Camposol, colocámos relvados em todos os principais estádios europeus, os do Real Madrid, do Barcelona, e outros… foi um bom negócio. Como disse, vendi aquilo em 2018 e agora estou a montar uma companhia de cenouras, cuja fábrica fica sedeada em Almeirim, por causa da logística, mas a produção será no litoral alentejano e será vendida por toda a Europa. Vamos ver se teremos sucesso”.

 

Peter Knight não sabe se as doutrinas económicas o ajudam a ser atleta e a fazer melhor gestão dos recursos físicos, mas, com alguma graça, avança: “Isso deve estar mais ligado à música, porque para sermos um bom corredor, de meio fundo e fundo, temos que fazer uma boa gestão das energias, sendo que o mais importante é encontrar um bom ritmo”.

 

Por isso mesmo, aos 60 anos, continua a treinar intensamente. “Treino todos os dias e faço-o com muito gosto, logo pelas seis da manhã corro 10 quilómetros e volto a treinar à noite. Quando temos este ‘bichinho’ cá dentro, se não treinarmos não nos sentimos bem, a atividade física é essencial para o corpo e muito importante para a mente. É isso que me faz correr e gostar muito de participar em competições, porque a vertente social também é muito importante”.

 

Sempre bem disposto, e com uma sonora gargalhada, adianta: “Tenho alguns títulos, sim, mas isso conta pouco, quero é participar e, de vez em quando, ainda vou aos campeonatos da Grã-Bretanha. Ganho sempre o bronze, e aqui é a mesma coisa”. Pudera, com estes calores na planície, quem é que não fica bronzeado? Já enraizado na região e com dupla nacionalidade, o atleta do Núcleo Desportivo e Cultural de Odemira não esconde as suas convicções: “O Núcleo é um grande clube, mas temos falta de atletas, os jovens não vêm da escola com aquele incentivo de gostarem de treinar”. E deixa a receita: “Precisamos de dinamizar mais as competições para os miúdos, com uma boa interação entre a escola e os clubes. As provas locais são muito importantes, porque estão lá as famílias a apoiar as crianças. Mas esperamos voltar aos bons velhos tempos”.

 

Voltar ao que era antes, quando não existia pandemia? A pandemia, como Peter Knight observou, na área desportiva, “foi difícil, porque não existiam provas e é muito difícil qualquer atleta de alto nível continuar a treinar no mesmo ritmo sem ter competições. Já na área da agricultura, acho que foi a melhor coisa, porque as pessoas ganharam a consciência de que as coisas boas estão na sua própria terra, não vêm da China, nem de outros lados”. E a concluir: “Deixem-me dizer-lhes, o povo alentejano é excelente”.

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