Texto Firmino Paixão
Fábio Reis nasceu, há 28 anos, em Almada, distrito de Setúbal, território que é um “alfobre” de grandes futebolistas. Tinha, por isso, todos os ingredientes para, também, estar entre os grandes. E esteve, como aqui relata: “Quando cheguei ao Benfica era tudo tão diferente... a exigência aumentou e, quando dei por mim, estava a viver um sonho, a jogar num dos melhores clubes europeus”. Os sonhos, porém, não se esvaziaram no futebol, porque, na infância, todos sonhamos ter uma profissão. Por isso, conta, “um dia, na escola, tínhamos que fazer um trabalho de casa em que nos perguntavam o que queríamos ser quando fossemos grandes – eu respondi bombeiro, e a verdade é que concretizei esse sonho, sou bombeiro em Aljustrel”.
Fábio Reis recorda que teve uma infância feliz, com a família e os amigos sempre muito presentes e faz questão de lembrar ser do tempo em que os rapazes saíam de casa para jogar à bola, ficando na rua até ser noite. “Por vezes, lá ouvia um raspanete dos meus pais, por causa dos carros e da estrada, mas nós, naquela altura, queríamos era jogar à bola, nem que fosse no meio da estrada”. Hoje em dia, assinala, “ninguém sai de casa, pois as novas tecnologias tomaram conta do dia-a-dia das crianças, os computadores e os telemóveis ganharam uma grande preponderância”.
A caminhar para os 30 anos, Fábio assume-se como um homem de família, que trabalha durante o dia e, ao fim da tarde, ainda faz aquilo que mais gosta, que é jogar futebol. Aliás, o futebol era um dos tais sonhos que alimentava: “Queria muito ser jogador profissional de futebol, foi uma coisa que sempre amei e essa paixão ainda era mais alimentada pelo meu pai, que sempre esteve presente em direções de clubes. Como andava muito com ele, sempre vivi o futebol, desde pequeno, dentro do balneário. Tinha cinco anos e já era a mascote dos jovens com 16 e 17 anos”.
Com 11 anos, a vida desportiva começou a mudar. “Cheguei ao Benfica através de um olheiro. Jogava nos infantis do Ginásio Clube de Corroios, clube que tinha protocolo com o Benfica, e tive a felicidade de ser escolhido”. A responsabilidade foi aumentando progressivamente. “Quando se está num clube com essa dimensão, mesmo com 15 ou 16 anos, temos que ser profissionais. Como costumo dizer, se queremos ser profissionais na primeira ou na segunda liga, primeiro teremos que ser profissionais nos distritais, pois, sem educação desportiva, ficará muito difícil chegarmos ao mais alto nível”, explica Fábio Reis.
O futebol, já se percebeu, fascinou-o desde muito novo. Mas a baliza não foi a sua primeira escolha. “Uma vez, num treino, teria uns seis anos, desentendi-me com um colega e o míster meteu-me na baliza. Desde então fui ficando, ganhei gosto pela posição, por sentir que, por vezes, a nossa ação no jogo pode ser decisiva para a equipa e isso sempre despertou em mim um grande sentimento de responsabilidade, se os meus colegas não conseguirem, eu ainda posso ser a última barreira para sairmos vencedores. Sinto-me muito bem com essa responsabilidade”.
Porém, ao fim de 10 épocas de “águia ao peito”, no último ano de júnior, terminou a sua ligação ao Benfica. O guardião explica que “naquela altura não havia equipas B, nem sub-23. A mudança de escalão, de juniores para os seniores, era uma diferença abismal”. Atualmente, assinala, “há escalões intermédios que permitem o amadurecimento do jogador e quando chegam ao escalão principal estão melhor preparados, com outra bagagem e um grau de maturidade muito acima da média”.
No Benfica, revelou, faziam a rotação dos guarda-redes: “Eram dois jogos a cada um, eu e o Ederson, e foi-me dito que optariam por um de nós. Mas, naquela altura, os jogadores de fora tinham que jogar, porque o investimento que o clube fazia tinha de render”, lamentou Fábio Reis, que acabou por sair para o Belenenses, por empréstimo, com o objetivo de jogar mais, pois era o seu último ano de júnior. Seria sénior no ano seguinte e precisava de jogar com maior regularidade.
“Vestir a camisola do Benfica, confesso, foi uma das maiores alegrias da minha vida. Tudo é diferente, a envolvência das pessoas, os adeptos… mesmo nos escalões de formação sentimos o enorme clube que é, e o que ele representa a nível nacional e internacional. Devo toda a minha educação desportiva e a minha formação como atleta ao Sport Lisboa e Benfica pois, para além de crescer desportivamente, também aprendi a ser homem e a ser profissional de futebol”.
Uma vez em Belém, e já como sénior, surgiu a possibilidade de vir para Aljustrel e jogar na III Divisão Nacional. “Quando se sobe de escalão, principalmente na minha posição, o importante é jogar, e aqui, surgiu essa possibilidade, com 19 anos subir a sénior e jogar nos campeonatos nacionais”, refere. É verdade que, no interior do País, quase nada acontece e não abundam as oportunidades para mostrar que se tem valor a alcançar sucesso, mas Fábio Reis contradita com a afirmação de que o Mineiro Aljustrelense “é dos poucos clubes do Alentejo que sempre lutou, e luta, para andar nos campeonatos nacionais, e isso é muito importante quando temos o sonho de chegar ao mais alto nível do futebol”.
O futebolista reconhece que “apesar de pouca visibilidade na nossa região, a qualidade está bem presente e, hoje em dia, já temos vários jogadores alentejanos como profissionais, assim como clubes de primeira linha a recrutar jovens da formação”. E agora Fábio? Qual é o futuro do bombeiro, quais os planos do jogador? “Construi aqui família! Quando cheguei, o clube passava por dificuldades, mas as pessoas da terra amam o Mineiro e eu senti que devia ficar para ajudar pois, hoje em dia, são poucos os clubes que vivem, e sobrevivem, através das pessoas da terra. Sinto-me bem em Aljustrel”, conclui. Claro, a nossa terra é onde nos sentimos bem…