A solução passou, então, por acrescentar ao Despertar a palavra Sporting e encimar o emblema por duas asas, semelhantes às que ostentava a águia do Benfica. Surgiu assim o primeiro emblema do Despertar. Só anos mais tarde a águia completa tomou o seu lugar na heráldica do clube, mantendo-se, altaneira e vigilante, até aos dias de hoje.
Já a escolha das cores dos equipamentos foi mais consensual: o preto e o vermelho eram as cores da cidade e as listas verticais, adotadas já na década de 30, faziam a diferença para as camisolas do Luso, outro clube bejense, com as camisetas esquartejadas nas mesmas cores. O aniversário do Despertar Sporting Clube tem sido, no período moderno, assinalado a 24 de junho, dia de São João, um santo popular, tal como esta agremiação bejense, muito festejado em Portugal. E será, por certo, essa a data solene do centenário, mas Melo Garrido, nos documentos que lavrou, fixa a data de fundação do clube em 23 de junho de 1920.
Os primeiros estatutos, aprovados por alvará do Governo Civil de Beja, em 9 de fevereiro de 1926, são omissos, nada dizendo sobre essa questão, referindo apenas o ano de 1920. O texto do alvará, lavrado por Luís Maria Cortez, então representante do Governo na região, tem a curiosa redação que se reproduz: “O Despertar Sporting Clube D.S.C. - Associação de Recreio, cujos fins são claramente expressos nos artigos 2º e 3º dos mesmos estatutos e cuja sede é nesta cidade de Beja, mostra-se que são compostos de dez capítulos e estes divididos em ‘cincoenta’ artigos e parágrafos, escritos em onze meias folhas de papel selado, da taxa de um escudo e ‘cincoenta’ centavos, cada, devidamente numeradas e rubricadas pelo Doutor Secretário Geral do Governo Civil deste Distrito, excelentíssimo Senhor Venâncio Jacinto Deslandes Corrêa Caldeira”.
Eram outros tempos... Sem sede social, algo que hoje é a “menina-do-olho” das gentes despertarianas, as primeiras reuniões dos promotores foram realizadas na casa de um dos principais impulsionadores, Libânio Rosa Pereira, na Rua Nova do Carmo, hoje Rua Almirante Cândido dos Reis.
Libânio Pereira era o capitão-geral do clube, cargo que muito se usava na época e, por sua iniciativa, um grupo de despertarianos mais influentes convidou Manuel Gonçalves Peladinho para primeiro presidente do clube, cargo inexistente até então, decorrido que estava cerca de um ano sobre a sua fundação. Manuel Peladinho, segundo relatou Melo Garrido, dedicou-se “de alma e coração” ao Despertar, tendo sido um dos seus maiores e mais notáveis impulsionadores.
A Rua Afonso Costa, onde o clube esteve sediado quase 40 anos, antes de se mudar para as atuais instalações, foi outra das referências do clube, mas a causa despertariana já antes tinha ocupado uma casa da Rua Frei Amador Arrais.
No passado, como no presente, a mística continua a mesma, senão mais ardente, e o prestígio tem sido crescente, em paralelo com uma família invulgarmente numerosa, com notável incidência na juventude. Manuel Gonçalves Peladinho foi um símbolo do passado, sem demérito para todos os outros homens de bem que assumiram esta causa e Mariano Baião, líder do clube durante décadas, não pode ser esquecido no presente, num tempo em que os atuais dirigentes dão continuidade ao projeto, “Afirmando o passado... Construindo o futuro”.